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21/06/2004 - 03h00

Espanha quer viajante por mais tempo

SILVIO CIOFFI
Editor de Turismo da Folha de S.Paulo

Principal autoridade do turismo espanhol, Raimon Martínez Fraile, 57, veio ao Brasil discutir como os países podem obter sucesso no setor de viagens aumentando o número de turistas estrangeiros que a eles se destinam.

Militante do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE), ex-vice-prefeito de Barcelona e ex-deputado, ele é o secretário-geral do Turismo na Espanha desde abril. Martínez Fraile é ainda professor universitário de história contemporânea --e traz na bagagem a experiência de ter participado do grupo que, entre 1982 e 1988, capitaneou a bem-sucedida candidatura de Barcelona aos Jogos Olímpicos que lá foram realizados em 1992. Leia a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva concedida por ele à Folha:

PROPÓSITOS - "Vim ao Brasil no bojo da reunião da Unctad, seminário realizado em São Paulo pelas Nações Unidas, para uma discussão, organizada pelo Ministério do Turismo brasileiro, sobre como os países em desenvolvimento devem trabalhar para o aprimoramento do setor. A Espanha recebeu, em 2003, 52 milhões de turistas estrangeiros [é o segundo maior receptivo mundial, depois da França] e esse fórum foi bastante interessante, tocou muito no aspecto da desburocratização, das oportunidades e das ameaças vivenciadas pelo setor, bem como no que países mais desenvolvidos podem fazer para ajudar países em desenvolvimento a crescer."

MAIOR X MELHOR -"Como secretário-geral de Turismo espanhol, diria que a melhor política é não olhar apenas o número de turistas mas também verificar quantas noites eles permanecem no países que visitam. Que atividades essas pessoas desenvolvem e o que fazer para melhorá-las são questões importantes. Na Espanha, o segmento chamado de "sol e praia" atrai visitantes que ali se hospedam, em média, entre seis e nove noites. Já o turismo de cidades, que é mais cultural e mais comercial, fixa o viajante entre três e cinco noites. E é isso que precisamos incrementar, alargando as oportunidades para esses turistas, desenvolvendo atividades complementares."

QUALIDADE - "Cultura, temas ligados à saúde, por exemplo, fitness, turismo esportivo como cicloturismo, concertos e exposições precisam ser incentivados e divulgados --e a Espanha deve caminhar nessa direção. Sem renunciar à quantidade, o desafio é, sempre, melhorar a qualidade dos serviços turísticos."

CIDADES - "Madri segue sendo o maior destino turístico e a porta de entrada para a Espanha, mas é preciso levar em conta que entre 65% e 70% dos visitantes vêm à capital do país tendo os negócios como motivo principal. Isso quer dizer que devemos desenvolver o turismo de lazer na cidade, o turismo de ócio, de tempo livre. Já em Barcelona ocorre o inverso. Mas temos outras grandes cidades --Sevilha, Granada, Bilbao, Valência, Salamanca, Toledo, Cuenca, Málaga, para mencionar apenas algumas-- que devemos promover, mostrar ao mundo."

SEGURANÇA - "O golpe terrível do terrorismo, que humanamente nos comove e que golpeou Madri, não nos impede de afirmar que a Espanha é hoje um país absolutamente seguro.

Naturalmente, como qualquer país do mundo, estamos encarando o problema: o desafio é impedir que personagens loucos possam desenvolver ações desse tipo. Depois dos atentados em Madri, redobramos nosso empenho em segurança e crescemos 16% em número de visitantes no momento seguinte."

TURISMO DE UM DIA - "Há ainda aquele turista que chega de navio, passa pouco tempo passeando, mas que merece ser enfocado. Desde 1997, Barcelona é o primeiro porto de cruzeiros em todo o Mediterrâneo, na frente de Marselha, Gênova, Veneza e Atenas. O desafio é fazer com que os turistas que acabam suas viagens nesses portos fiquem dois ou três dias ali, descansando, complementando sua viagem, visitando arredores."

ORIGENS - "Nasci na Província de León, na Galícia, mas adotei Barcelona de tal modo que me considero catalão. Vivi toda a minha vida nessa cidade, fiz história e estudei na Escola de Alta Direção de Empresas (Esade). Na minha vida profissional, também fui diretor da Rede de Trens de Espanha (Renfe) e do turismo de Barcelona, onde fui vice-prefeito também entre 1982 e 1988, quando a cidade se candidatou a ser sede dos Jogos Olímpicos, o que ocorreu em 1992."

BARCELONA - "O trabalho de transformar Barcelona em sede de uma Olimpíada foi de longo prazo - desenvolvemos o plano de infra-estrutura da cidade, que nos custou dez anos. Se não fosse esse desafio, o mesmo trabalho iria durar, digamos, 50 anos. Foi um salto de qualidade calcado num desafio e também em dotar a cidade de uma melhor oferta de serviços turísticos."

DESAFIO - "Trabalhamos para mostrar nos outros países que há na Espanha uma enorme quantidade de produtos turísticos de qualidade --e o Centro Oficial de Turismo Espanhol aqui em São Paulo explora essa linha. Diversos pontos de vista são levados em conta quando alguém escolhe um país para visitar: o cultural, o de negócios e feiras e mesmo o comercial. Queremos mostrar que o comércio de cidades como Madri e Barcelona não fica devendo ao de nenhuma outra grande metrópole européia -e que temos preços mais baixos."

GASTRONOMIA - "Vemos ainda que as artes da culinária têm atraído um número crescente de viajantes, pois grandes chefs espanhóis estão descobrindo formas diferentes de cozinhar, abrindo caminhos na gastronomia. Também a hotelaria se desenvolve, se renova, busca a excelência dos serviços."

MUSEUS - "Ouso sempre dizer que a mais bela das pinacotecas é o museu do Prado, de Madri, mas naturalmente a Espanha tem museus novos e revolucionários. Há a fundação Miró e o museu Picasso de Barcelona, que são notáveis, mas agora, em Málaga, onde Pablo Picasso nasceu, também existe um acervo consagrado à obra desse grande artista. Naturalmente há grandes museus em Cuenca e Valência e ainda o Guggenheim de Bilbao --para mencionar apenas algumas instituições de primeira linha."

EURO FORTE - "Perdoe-me a expressão, que é algo crua e muito espanhola, mas "o que algo vale algo custa". O euro está valorizado, mas achamos que, embora os preços pareçam altos na Espanha, praticamos no país valores mais baixos que outros países que têm menor oferta cultural e serviços piores --mas, apontá-los, seria rude de minha parte."

Especial
  • Veja o que já foi publicado sobre o turismo na Espanha
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