Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
25/06/2001 - 11h39

Presidente da TAM diz que passou Varig no mercado nacional

SILVIO CIOFFI
da FOLha de S.Paulo

No início dos anos 60, Rolim Adolfo Amaro tinha uma ambição: ser o melhor comandante da Táxi Aéreo Marília.

Hoje, esse paulista da cidade de Pereira Barreto é o presidente da TAM, empresa que anuncia a compra de jatos Airbus e Embraer (numa transação estimada em US$ 3 bilhões) e que, há uma semana, passou a voar para Frankfurt, na Alemanha, aumentando sua presença internacional.

Nem tudo, no entanto, foi céu de brigadeiro para o comandante Rolim nessas quatro décadas. Leia abaixo entrevista onde, com seu sotaque quase mineiro, Rolim diz que a TAM já ultrapassou a Varig no mercado brasileiro e que, agora, está de olho no mercado argentino.

Mercados
"Nossa participação no mercado brasileiro vem crescendo. Em 99, tínhamos 23% do mercado; em 2000, passamos a ter 28,6%. Agora estamos com 31% e viramos líder, passamos a Varig, o que é um grande feito.

No mercado internacional nós somos pequenos -a Varig tem 80% desse segmento. Mas acabamos de iniciar vôos para Frankfurt e já voamos para Miami, Paris e Buenos Aires. Mas o projeto internacional da TAM, que logo deve incluir vôos para Madri, tem que ser conservador.

Precisamos ser cautelosos, para não colocar nossas finanças em risco, e agressivos, para ocupar posições de forma a não deixar dúvidas. Entramos nas rotas internacionais quando podemos ser líder nelas."

Ajustes

"A turma vê a TAM crescendo e não lembra os grandes ajustes que fizemos no final dos anos 80. Em 1988, precisei demitir 65% dos funcionários. Isso é o mesmo que demitir 10 mil funcionários da Varig hoje. Até mais.

Na época, tínhamos mil funcionários e ficamos com 400. Tínhamos 11 frequências Rio-SP e ficamos só com duas. Hoje temos 7.000 empregados. Isso porque nós nos reajustamos antes dos outros, com coragem.

Naquele tempo vendemos toda a nossa frota de aviões executivos para suportar a operação regular, que era gravosa. As outras empresas trouxeram aviões velhos disponíveis no mundo para voar aqui.

Pois bem, eles abriram um buraco nas suas economias e, desde então, carregam um passivo muito grande. Hoje, a Varig tem um passivo de US$ 1 milhão/dia, gerado pelo custo do serviço da dívida, que é impagável, difícil de suportar.

O caminho é profissionalizar gestões, evaporar o controle das ações no mercado, ganhar escala. Nós, por exemplo, estamos dentro das previsões de faturamento em real, mas há o problema da variação cambial. Nós esperávamos faturar, em 2001, US$ 1,6 bilhão. Mas vamos faturar algo em torno de US$ 1,5 bilhão, dependendo da cotação do dólar frente ao real."

Jogo difícil

"Não existe milagre. Você só pode manter uma política de "low fare" [tarifa baixa" se você tem "low cost" [custo baixo". É bom que os custos tenham caído para o consumidor, mas é preciso ver os balanços das empresas brasileiras. Avião novo não gera custo baixo.

Embora dê menos manutenção, tem um custo de capital brutal. Quantas companhias "low cost" deram certo no mundo? Poucas -talvez duas ou três num cenário de 400 e tantas... A geografia brasileira também não ajuda, pois há uma imensa concentração de tráfego.

De manhã, todo mundo sai de São Paulo e do Rio para Brasília, Belo Horizonte e Curitiba, mas os aviões voltam vazios de tarde. Voam para lá vazios de novo e, só de noite, depois, é que eles voltam cheios.

Uma empresa de custos baixos só pára de pé quando o trânsito é intenso nas duas pontas, nos diversos horários. Isso serve para algumas rotas nos EUA, mas aqui é difícil isso dar certo. Essas companhias são devoradoras de capital -e acho que a Gol tem um enorme desafio pela frente.

Infelizmente, matemática é ciência exata e para as demais companhias o cerco também está se fechando. Vamos ter anos difíceis pela frente, sobretudo se o dólar for a R$ 2,70, como acho que vai."

Argentina
"Vejo que, com a situação da Argentina e da Aerolíneas Argentinas, há uma oportunidade de uma empresa aérea brasileira fazer uma linha aérea lá. Estou considerando isso. Nosso vôo para Buenos Aires vai bem. Pensamos em investir US$ 35 milhões numa maturação de 12 meses, mas a Aerolíneas parou antes e fomos favorecidos.

Devemos chegar a um equilíbrio em quatro meses. Isso ajuda no processo de acelerar a expansão internacional. Se os vôos para Buenos Aires e Frankfurt atingirem estabilidade mais rapidamente, estaremos liberados para voar para outros destinos."


Frota
"Estamos ultimando as negociações para adicionar à frota da TAM 21 aviões A-318 (de 117 lugares), da Airbus, por causa do conceito de "família". Assim, vamos operar jatos Airbus-318, 319, 320 e 330. Quem pilota um pilota o outro. Também vamos comprar cerca de 20 jatos Embraer ERJ-190, pois existem pistas brasileiras que não são tão compactadas e exigem esse tipo de equipamento. Isso deve ocorrer num prazo de cinco anos. Hoje temos 50 jatos Fokker-100 e 18 jatos Airbus."

Alianças
"Não há aliança, por melhor que seja, que resista a um bom serviço. Minha idéia agora na nova rota para a Alemanha é tratar disso, virar opção natural. Queremos oferecer um bom preço aos clientes, mas sem defraudar as tarifas. Nos EUA, estamos ligados ao programa de milhagem da American Airlines; na França, nossa parceira é a Air France. Mas ainda não defini qual vai ser o nosso caminho.

Podemos nos ligar à OneWorld [aliança que reúne empresas como American Airlines, British Airways, Iberia, Qantas e Cathay Pacific" ou à SkyTeam [integrada por companhias como Air France e Delta".

Como a SkyTeam não quer atrair empresas em quantidade, gosto dela. Uma aliança grande implica em custos grandes, de publicidade, etc. As alianças hoje servem menos para beneficiar o consumidor e mais como uma medida defensiva das empresas, diminuindo a competição. Também não vejo unificação de procedimentos nem de lojas acontecendo... Naturalmente, a proposta da OneWorld é agressiva para contrabalançar o gigantismo da Star Alliance [aliança pioneira, que junta United, Varig, Lufthansa, SAS, ANA, Singapore, Mexicana e Air Canada, entre outras".

Acho que as alianças têm um longo caminho a percorrer. E eu só darei o passo quando estiver convencido de que a aliança possa nos dar reais benefícios."

Anac
"Vejo a Anac [Agência Nacional de Aviação Civil, discutida pelo governo federal" com muita preocupação. Meia dúzia de burocratas, sem conhecimento de causa, preparam uma legislação sem debate, deixando a sociedade refém, não aproveitando a experiência das companhias.

O projeto que estão tentando aprovar no Congresso Nacional é danoso aos interesses do Brasil: controlar linhas, horários, frequências e tarifas é ultrapassado. Imagino que o propósito do governo brasileiro seja administrar o país pelo caixa -o que é lamentável.

Um bom projeto deveria dar ao Brasil uma agência de segurança no transporte, deixando a atividade comercial para as empresas."

Políticos
"Eu tenho histórias de políticos para contar. Umas boas, outras nem tanto... Mas lembro de causos do Jânio Quadros. Quando ele voltou a Brasília pela primeira vez, 11 anos depois da renúncia de 1961, eu fui buscá-lo no Guarujá. Voamos só nós dois, num turboélice japonês Mitsubishi, de seis lugares. Ele, que devia ter passado a noite tomando um pouco de vinho do Porto, sentou do meu lado e dormiu.

Aí, autorizado pelo ministro Délio [Jardim de Mattos", pousei na base aérea, onde o jornalista Carlos Castello Branco nos aguardava para ir até o gabinete do Délio. De lá, fomos com ele visitar o presidente Figueiredo e o gabinete do Golbery. Depois, como o Jânio queria colocar flores no mausoléu do Juscelino Kubitschek, fomos até lá.

A parada seguinte seria almoçar com Leopoldo Collor, que era diretor da Globo. Mas, chegando ao Memorial JK, Jânio cismou. "Rolim, vamos para algum lugar, aqui não ficamos, vamos para o Rio." Eu estranhei, mas pegamos o avião e seguimos, com o Jânio tomando vinho do Porto de Brasília até o Rio.

Chegando lá, no aeroporto de Santos Dumont, uma moça bonita nos recepcionou. Era uma morena bonita, tinha olhos de jabuticaba, cintura fina. E Jânio indagou: "que bela rapariga és tu. Como se chama?" Ela disse que se chamava Ana Maria -e ele lascou um trocadilho: "se fosses minha, come-la-ia, como não é, come-lo-á"."


 

Sobre a Folha | Expediente | Fale Conosco | Mapa do Site | Ombudsman | Erramos | Atendimento ao Assinante
ClubeFolha | PubliFolha | Banco de Dados | Datafolha | FolhaPress | Treinamento | Folha Memória | Trabalhe na Folha | Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade