Hugo França quer fazer parceria para transformar árvores caídas em arte

Responsável por obras de arte feitas com resíduos de árvores, como bancos e esculturas, o designer Hugo França, 60, doou para a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente um banco que foi colocado no largo da Batata (zona oeste).

O projeto faz parte do programa "Mobiliário Ecológico" da Prefeitura de São Paulo, cujo intuito é reaproveitar os resíduos derivados de árvores e transformar o material em bancos para áreas públicas, parques e praças.

Só em São Paulo, o designer possui obras no parque Burle Marx, no largo do Arouche, no largo da Batata e no Ibirapuera, mas ainda há em Inhotim (MG) e nos EUA.

Na entrevista, ele conta que este é apenas um dos projetos que pretende executar na cidade para chamar a atenção das pessoas e mostrar que as árvores não são lixo.

sãopaulo - Como surgiu a proposta da secretaria para o banco no largo da Batata?
Hugo França - Comecei a pensar neste projeto no ano 2000, quando fui dar um workshop na escola de Belas Artes, na França. Já trabalhava com o resíduo florestal —faço a coleta na Bahia e a gente tem a produção em Trancoso. Sabendo de um vento grande [pouco antes do workshop], minha proposta foi garimpar as árvores caídas e produzir a peça. A partir daí comecei a pensar no aproveitamento do resíduo lenhoso urbano para devolver para a cidade em forma de mobiliário público. Em 2010, consegui o apoio do Heraldo Guiaro, diretor do parque Ibirapuera, e começamos a dar visibilidade para esta questão aproveitando parte das árvores do parque, transformando-as em mobiliário público e esculturas lúdicas.

Qual é o tamanho do banco fo largo da Batata?
O banco tem seis metros de comprimento e pesa em torno de sete toneladas.

Quanto tempo demorou para ficara pronto?
Foi um mês de trabalho. Faço a concepção do banco no local e tenho a ajuda do operador de motosserra e da pessoa com lixadeira.

Onde estava a árvore que deu origem ao banco?
Era um eucalipto que ficava no bosque dos Cegos, no Ibirapuera. A gente produziu todo o banco lá e acredito que a árvore morreu em função de um raio.

Como foi o transporte desse banco para o largo da Batata?
Começou na segunda (23) às 22h e acabamos de locar às 4h (do dia 24). A entrega foi no dia 25.

A peça foi encomendada pela SVMA?
Foi uma doação, como as outras peças que eu fiz para o Ibirapuera. O que eu pretendo agora é captar recursos através de patrocínio na iniciativa privada para viabilizar a produção. A produção no meu ateliê vai para o mercado de consumidores com alto poder aquisitivo. Esse foi um jeito que encontrei de levar para o grande público o conceito carregado de educação ambiental, porque as pessoas entendem perfeitamente.

Como deve ser a parceria com a prefeitura?
A minha ideia é fazer uma parceria entre o ateliê Hugo França, a prefeitura e a iniciativa privada e criar uma estrutura para a gente aproveitar todo o resíduo o lenhoso e devolver isso em forma de mobiliário público. É fazer de São Paulo uma vitrine, porque o resíduo lenhoso urbano, no mundo todo, vai pro lixo.

Onde é feita a produção desse mobiliário?
Temos um núcleo de produção no Ibirapuera e aproveitamos as árvores que caíram ou foram removidas no parque. A ideia é a gente ter um núcleo de produção dessas árvores que caíram ou foram retiradas, ou um ateliê móvel para transformar árvores de grandes proporções no local.

O banco do largo da Batata é só o começo?
A gente está usando essa iniciativa da prefeitura para tentar viabilizar o projeto de aproveitar todo o resíduo lenhoso. Este ano já caíram 1.500 árvores em função de ventos. Em média, a prefeitura recolhe, por ano, entre caídas e derrubadas, 30 mil árvores. É madeira pra caramba!

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