Para cada cinco habitantes do Brasil, existe um carro em circulação, diz a Anfavea (associação das montadoras). Esse veículo está só na garagem e precisa atender a múltiplas necessidades.
"Temos uma realidade diferente de mercados mais desenvolvidos. Aqui, o único automóvel da casa precisa servir para idas ao mercado e ter espaço para viagens de férias", diz Maurício Miori, coordenador da pós-graduação em engenharia automotiva e mobilidade da Faculdade de Engenharia de Sorocaba.
Miori se refere a países em que há um ou dois carros por habitante, como EUA, Alemanha, França e Japão. São lugares em que um modelo menor é usado no dia a dia, enquanto o carrão aguarda a chegada dos finais de semana.
A versatilidade exigida do carro brasileiro é ligada ao espaço interno e à capacidade de encarar ruas em mau estado de conservação.
Em alta no mercado, os jipinhos urbanos vão bem na buraqueira. Porém nem sempre são uma escolha sensata.
O Chevrolet Tracker Premier (R$ 99,5 mil) tem cabine ampla, mas seu porta-malas de 306 litros equivale ao de carros compactos. O modelo divide espaço nas lojas com o sedã Cruze LT, que traz o mesmo motor 1.4 turbo, custa R$ 97 mil e oferece 134 litros a mais para bagagens.
Em segmentos com preços abaixo de R$ 80 mil, há veículos completos, adequados a famílias e com suspensão robusta, mas sem ter cara de jipe. A perua Volkswagen Spacefox e o sedã compacto Nissan Versa fazem parte dessa lista.
A moda off-road, contudo, tem limitado o número de opções e forçado consumidores a trocar de segmento.
Mãe de dois meninos, a médica Julia Camargo Haje, 42, precisava de um carro com sete lugares para substituir sua minivan Zafira. O escolhido foi o Mitsubishi Pajero Dakar, um jipão 4x4 apto a cruzar desertos e que agora sacoleja pelas ruas de Alphaville.
"Procurei similares à minivan, mas as opções deixavam a desejar. O Pajero desempenha bem o papel de carro de família, apesar de ser muito duro e beberrão", diz a médica.