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Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

Sereia não tem cor, ou a representatividade nas telas e na vida

Efeitos da falta de representatividade podem ser duradouros para crianças negras

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Em mais de 50 países ao redor do mundo, milhões de pessoas foram às salas de cinema no último fim de semana para assistir à estreia do live-action de "A Pequena Sereia", baseado na animação clássica da Disney de 1989.

O filme, que estreou como liderança global, era muito aguardado pelas ex-crianças da década de 1990 e pelas crianças atuais. Na sala em que assisti ao filme, havia pelo menos duas meninas que exibiam orgulhosas suas caudas de sereia.

A produção do filme ganhou notoriedade em 2019, quando foi anunciado que a atriz Halle Bailey viveria a protagonista Ariel. Pela primeira vez, uma atriz negra emprestaria sua pele para viver uma princesa da Disney. Os haters virtuais ficaram enlouquecidos com o fato de que a sereia seria negra, como se houvesse algo na biologia de sereias que as impedisse de serem negras.

Além dos haters preocupados em ter suas memórias da infância prejudicadas pela cor de um ser que não existe, as reações que realmente importam também viralizaram: crianças negras se reconhecendo na tela. A constatação de que a beleza não mora apenas em corpos brancos —mesmo que sejam corpos de sereia. Na TV, assim como no cinema, a composição de personagens e personalidades não representa nossa sociedade, cuja maioria é negra. São pequenos e necessários passos para fortalecer a representatividade nas pequenas e grandes telas.

Os efeitos da falta de representatividade podem ser duradouros para crianças negras: baixa autoestima, limitação de aspirações, desconexão cultural. A representatividade deve estar presente não apenas no entretenimento. Na escola, se os alunos não se reconhecem nos professores e gestores, seu desempenho e permanência podem ser negativamente afetados. É difícil imaginar um mundo cheio de possibilidades para si se não houver acesso a modelos representativos.

A falta de representatividade da diversidade racial também traz efeitos negativos nas vidas de crianças brancas. Não serem expostos à diversidade contribui para a perpetuação de estereótipos e preconceitos, além de privar essas crianças de oportunidades de aprendizado sobre a história. Sem exposição à diversidade racial, fica mais difícil compreender estruturas de poder e privilégio.

Para mitigar esses efeitos, o caminho é promover representatividade como parte de uma educação antirracista efetiva. Fortalecer a autoestima e o orgulho de crianças negras em sua identidade e propiciar acesso a mentores negros são estratégias complementares.

É um esforço contínuo e colaborativo entre todos os setores da sociedade para buscar uma sociedade mais inclusiva e justa. É isso, ou ficar xingando a cor da sereia no Twitter.

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