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Marcada por histórico de violência, Cidade de Deus vira referência para o judô

A campeão olímpica do judô Rafaela Silva nasceu na Cidade de Deus, conjunto habitacional, erguido na década de 1960.

Esta favela vertical ganhou visibilidade planetária a partir de 2002 com o lançamento de "Cidade de Deus", dos cineastas Fernando Meirelles e Kátia Lund.

O filme retrata a origem do tráfico de drogas na comunidade, construída para realocar moradores removidos de mais de 60 favelas durante o governo de Carlos Lacerda.

O lugar virou reduto da facção Comando Vermelho. Em 2009, o governo do Rio tentou conter a violência naquela área com a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

Não resolveu. Veio a crise financeira do Estado, que deixou vulnerável todo o projeto das UPPs.

A Cidade de Deus segue com registros de confrontos associados aos traficantes locais.

Rafaela Silva vivenciou este cenário de violência. E, assim como ela, jovens moradores encontraram uma outra referência dentro da favela: o judô.

Quando Rafaela aplicou na mongol Dorjsürengiin Sumiya o waza-ari que lhe valeu a medalha de ouro - a primeira do país nesta Olimpíada -, Beatriz Lopes, 13, estava assistindo à luta no mesmo ginásio onde a judoca carioca treinou e foi descoberta: o polo da ONG Instituto Reação, dentro da Cidade de Deus.

"Quando vi a Rafaela no pódio, senti que eu também posso chegar lá", disse a judoca, que já venceu dois títulos pan-americanos e um sul-americano.

Não foi a única a se inspirar. "Eu apanho muito da Rafaela, mas um dia vou ser como ela", diz Ana Karolina Belém, 14, bicampeã das Américas e da América do Sul. Ela planeja sua estreia na Olimpíada para Tóquio-2020.

CELEIRO DE ATLETAS

O Instituto Reação é um celeiro de atletas que identifica e treina jovens judocas com potencial olímpico -na Rio-2016, além da medalhista de ouro, também saiu de lá Vitor Penalber, eliminado da competição nesta terça (9).

No total, a ONG tem cinco polos na cidade, com 1.250 alunos - 222 deles, de alto rendimento. No dia seguinte à vitória de Rafaela, havia uma fila de crianças da Cidade de Deus querendo se inscrever nos treinos.

"Nosso objetivo é puxar o maior número de atletas para o alto rendimento porque eles são obrigados a ficar aqui muito tempo, e tempo que passam aqui é tempo passado longe das ruas", diz o professor e ex-judoca Daniel Loureiro, 33.

Muitas vezes dá certo, mas nem sempre é o caso. "Num lugar onde o tráfico de drogas tem tanto poder de atração para os adolescentes, o judô é uma forma de evitar que alguns deles sigam por esse caminho", diz Márcio Ramalho, pai de Beatriz e professor do instituto.

"Já perdemos alguns deles para o tráfico. Isso é inevitável. Mas tenho certeza que deixamos de entregar vários para ele também."

Veja o vídeo

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