Os dois
anos da Lei Seca em Diadema, na Grande São Paulo, ajudaram
a salvar a vida de 273 pessoas que seriam assassinadas caso
a medida não fosse tomada. A conclusão é
de estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp) e do instituto americano Pacific
Institute for Research and Evaluation, divulgado ontem.
Em julho de 2002, Diadema instituiu uma lei que obrigou os
donos dos 3.870 bares a fecharem as portas entre as 23 e 6
horas. A Polícia Militar e a Guarda Civil passaram
a acompanhar os fiscais do município em blitze diárias
para conferir se os donos de bares obedeciam à lei.
Desde então, o total de assassinatos, que vinha apresentando
tendência de queda desde 2000, diminuiu ainda mais.
Conforme os pesquisadores, comparando-se a média dos
dois anos de vigência da lei com a de sete anos anteriores,
entre 1995 e 2002, a redução dos assassinatos
alcança índices de 46%. Atualmente são
registradas em média 11 mortes mensais a menos do que
antes da lei. Confrontando as duas séries de dados,
os estudiosos chegaram ao total de vidas poupadas. "Passo
a usar o caso de Diadema como exemplo para meus alunos",
afirmou o diretor do Alcohol Policy Initiatives Center, Robert
Reynolds, que participou da pesquisa. "Em poucos lugares
do mundo essa relação entre álcool e
violência aparece tão claramente."
Favela naval
A Lei Seca, porém, é uma entre várias
medidas adotadas desde que a cidade chegou ao fundo do poço
em 1999. Nessa fase, Diadema era considerada a cidade mais
violenta do Estado e chegou a ser apontada como a primeira
do mundo. A média mensal de assassinatos era de 33,
três vezes maior do que a deste ano.
As mudanças começaram a acontecer em 1997, quando
estourou o escândalo da Favela Naval. No episódio,
policiais foram filmados por um cinegrafista amador torturando
moradores. A repercussão levou o governo a iniciar
uma reforma nas Polícias Militar e Civil locais. Antes
da Naval, eram mandados para cidade homens que tinham que
cumprir castigos na corporação. Depois da crise,
Diadema passou a ser considerada um laboratório para
a Secretaria de Segurança, que aumentou o efetivo policial
com profissionais mais preparados. Foi, inclusive, criada
uma seccional e uma divisão de homicídios na
cidade.
Além das mudanças nas polícias, no ano
2000 passou a ser realizado em Diadema fóruns mensais,
onde policiais militares, civis, prefeitura, Câmara
Municipal e entidades da sociedade discutiam o problema dos
homicídios e combinavam ações conjuntas.
Desses encontros surgiu a idéia de se criar a Lei Seca.
A principal mudança, contudo, segundo os participantes,
é que Diadema assumiu o problema da violência,
que antes negava. Mesmo com os elevados índices de
assassinatos, o problema não era tido como prioridade.
"Diminuir os homicídios foi a nossa prioridade",
diz a secretária de Defesa Social de Diadema, Regina
Miki.
BRUNO PAES MANSO
do jornal O Estado de S. Paulo
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