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REFLEXÃO


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urbanidade
08/06/2005
Bairro-laboratório

É uma maternidade pública, mas não tem um único obstetra e ninguém reclama. Só existem enfermeiras, e todos os partos, sempre bem-sucedidos, são naturais.
A casa de partos faz parte de um projeto de saúde da família que, iniciado no final da década de 90 pela Fundação Zerbini, da Universidade de São Paulo, transformou a empobrecida Sapopemba, um distrito com 250 mil pessoas na zona leste, num bairro-laboratório. Não há notícia de nenhum outro lugar no Brasil que concentre tantos testes de medicina preventiva.

As parteiras públicas são viáveis porque as mães, ainda no início da gravidez, passam por seguidos exames. Aquelas que apresentam riscos de sofrer complicações são encaminhadas a maternidades normais.

Nesse bairro-laboratório, o ideal perseguido é que as pessoas possam se cuidar no próprio bairro, de preferência indo ao médico a pé. Ou nem mesmo saindo de casa. Para isso, está sendo montada uma rede articulada composta pelos mais diferentes tipos de atendimento, dos mais simples aos mais complexos.

O passo inicial é a presença de agentes comunitários, que, apoiados por médicos, visitam as casas. A partir daí, encaminha-se a pessoa a um centro de saúde, a um ambulatório ou a um hospital regional. Apenas em último caso, esgotados todos os recursos locais, a pessoa receberia um tratamento mais complexo em algum hospital mais distante.

Por isso, no próximo mês, será inaugurada, em Sapopemba, mais uma experiência para reter o paciente no bairro: um pequeno hospital de apenas 50 leitos com 12 especialidades e apto a realizar pequenas cirurgias.

Como os indicadores de saúde estão melhorando rapidamente - a começar da mortalidade infantil-, o próximo passo é instalar em Sapopemba uma unidade de pesquisas da USP, uma espécie de campus avançado, para formar médicos e enfermeiros em saúde da família. "Já vimos que isso funciona", garante o responsável pelo lançamento dessa experiência em Sapopemba, Adib Jatene, ex-ministro da Saúde e professor aposentado da USP, que teve de enfrentar duras críticas de muitos médicos por causa da casa de partos. "Basta ir lá e verificar que não existe risco."

Aliás, ele próprio é um exemplo: Jatene nasceu na floresta amazônica nas mãos de uma parteira pobre e analfabeta.


Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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