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REFLEXÃO


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urbanidade
14/03/2007
O ecotáxi

Há 8 anos, comprou um táxi. Logo percebeu que, se oferecesse serviços extras, ganharia melhores gorjetas



O motorista de táxi João Batista Santos descobriu como entrar na onda ecológica. Terminada a corrida e de posse de uma tabela, ele informa ao passageiro quanto o trajeto significou de gases que produzem efeito estufa. "Não sabia que era tão simples fazer as contas." Daí ele tenta sensibilizar o passageiro a reparar o dano ecológico.

Não foi difícil para João Batista aprender esses conceitos. Aos 15 anos, ele contrariou o pai e deixou a cidade em que morava no interior de Alagoas. A escola mais próxima ficava a seis quilômetros da roça de sua família - "eu fazia o trajeto a pé"- e só oferecia até a quarta série. Em suas despedidas para São Paulo, prometeu que iria ter curso superior. Conseguiu emprego de office-boy, matriculou-se numa escola pública, cursou um supletivo e, para cumprir a promessa, entrou numa licenciatura em biologia de uma faculdade privada. O diploma ficou inútil. Até surgir a idéia do ecotáxi.

Deixou a profissão de office-boy, começou a vender carros num consórcio e, depois, tornou-se corretor de imóveis. Há oito anos, comprou um táxi. Logo percebeu que, se oferecesse alguns serviços extras, ganharia melhores gorjetas. O passageiro entra no táxi de João Batista e ouve uma salva de palmas gravada num CD, além de ter à sua disposição água mineral, água-de-coco, cerveja e até uísque. Cada um paga o que quer. A generosidade é recompensada. "A maioria sempre paga alguma coisa." No final, acaba saindo no lucro.

Além disso, ele aprendeu a fazer roteiros específicos, intitulados "Ateliê" (visita a ateliês da Vila Madalena e dos Jardins, com direito a conhecer os artistas), "Popular Fashion" (rua José Paulino), "Executivo Fashion" (lojas da Oscar Freire e a Daslu). "Sou hoje muito mais paulistano do que alagoano." Com esses produtos, montou um cadastro de 2.700 clientes, com os quais se comunica por e-mail.

Percebeu que, entre seus passageiros, havia uma preocupação ecológica. "Eu soube, pela internet, que seria possível calcular a poluição emitida pelo meu carro." Apenas a informação não seria suficiente. Ele se dispôs a mostrar uma lista de entidades que aceitariam doações para plantar árvores, como S.O.S Mata Atlântica. Sente-se até estimulado a receber mudas e plantá-las com suas próprias mãos, enviando a foto para o doador.

João Batista não sabe quanto vai conseguir reduzir do efeito estufa. O que aposta é que, com esse projeto, vai atrair a simpatia de uma clientela ecologicamente correta. "Sou o primeiro táxi carbon free do mundo", orgulha-se. No mínimo, será mais um "case" de marketing verde.


Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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