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urbanidade
21/02/2007
Roteiro de um reencontro

A diretora de "Antônia", Tata Amaral, precisou conhecer a periferia para reencontrar-se no centro de São Paulo


Depois de ter lançado comercialmente seu filme "Antônia", no início deste mês, Tata Amaral já estuda roteiros para futuras filmagens. Durante a leitura, ela foi percebendo uma viagem íntima e involuntária pelos cenários perdidos de sua infância. "É uma estranha coincidência." Tata é um desses personagens que aprenderam a se reencontrar com São Paulo. No caso dela, usando o cinema.

Tata nasceu há 46 anos na rua Major Quedinho, a poucos metros da biblioteca Mário de Andrade. Estava cercada de elegância. Divertia-se na praça D. José Gaspar e passeava pela galeria Metrópole. Diariamente, percorria a avenida São Luiz, com seus imponentes edifícios, em direção à praça da República, onde estudava em escola pública. "Eu tinha sete anos e ia a pé até a escola." Caminhava sozinha, sem o menor receio.

Na adolescência e na juventude, ela ainda viveu a efervescência da região central. Aproveitou a liberalidade do cine Bijou, cujos filmes para adultos eram acessíveis a qualquer estudante, as peças do teatro Arena e os encontros culturais do Colégio Equipe, com seus shows baratos de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Novos Baianos, Jorge Mautner.

Com a deterioração paulistana, ela abandonou o centro, as praças ficaram sujas e os marginais conquistaram espaço. A biblioteca entrou em decadência e a galeria Metrópole ganhou um ar sombrio. Crianças andando sozinhas só se fossem moradores de rua. Tatá perdeu o hábito de caminhar. "Comecei a me sentir com medo e estrangeira."

Até que veio a festa dos 450 anos de São Paulo, quando ela leu o livro do jornalista Roberto Pompeu de Toledo sobre a história da cidade, intitulado "A Capital da Solidão". Deu-se conta, então, das profundas raízes paulistanas de sua família. "Minha família está aqui há tanto tempo e eu não me sentia em casa."
O centro de sua infância transformou-se, para ela, numa espécie de periferia. Mas precisou conhecer a periferia para reencontrar-se no centro.

Ao investigar sobre como o rap se alastrava entre jovens pobres em busca de uma identidade, muitos dos quais vivendo em guerra, Tata acabou dirigindo "Antônia" e levando a Brasilândia, onde foram rodados o filme e o seriado de televisão, para todo o país. Lançado "Antonia", ela começou a ler novos roteiros e se encantou por um deles: uma história de um desencontro amoroso, no qual a galeria Metrópole e a praça D. José Gaspar são os principais cenários, atualmente, aliás, espaços em recuperação. "São Paulo voltou a ser meu cenário criativo."


Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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