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REFLEXÃO


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urbanidade
14/04/2004
"Pé de Moleque"

Kiko Ribeiro conseguiu a proeza de reprogramar um dos semáforos da avenida Paulista e deixou-o mais lento. Irritados, os motoristas viram-se obrigados a esperar por longos oito minutos, enquanto bailarinos descreviam uma exótica coreografia na rua ao som das buzinas. "Não havia tempo a perder nem chance de errar", diz Kiko.
Cada pedaço da coreografia, devidamente gravado, deveria levar, no máximo, sete minutos e 45 segundos. Era o tempo suficiente para que os bailarinos voltassem em segurança para a calçada e pudessem apreciar o ar transtornado dos motoristas, até que o semáforo voltasse mais uma vez a ficar vermelho e a rua se transformasse num palco por mais oito minutos.

Ainda não divulgado para as platéias em geral, "Pé de Moleque" é um vídeo inspirado numa coreografia infantil ("Roda Pé"), do grupo Balangandança. Trocou-se, porém, o palco pela rua para brincar com a idéia de os pés recuperarem espaços ocupados por carros. Há um toque de protesto contra o caos paulistano. "As brincadeiras foram expulsas das ruas, que deixaram de ser um espaço lúdico", conta Kiko, produtor de televisão que está se especializando em videodança, modalidade artística ainda pouco estudada no Brasil -a arte de remodelar a coreografia a partir das possibilidades cinematográficas. "Criam-se e recriam-se movimentos."

Até se envolver nessa mescla de cinema com dança, Kiko teve de pôr o pé em muitas estradas. Adolescente, não sabia o que fazer da vida e acabou em Londres para aprender produção de televisão. Voltou para o Brasil, trabalhou em programas de televisão e, tempos depois, o coreógrafo Ivaldo Bertazzo o convidou para documentar uma experiência que conduzia com adolescentes da favela da Maré, no Rio. Candidatou-se a um patrocínio do Instituto Cultural Itaú para projetos de videodança e obteve os recursos para fazer "Pé de Moleque".

No ano passado, quando preparava seu trabalho, Kiko não imaginava que as brincadeiras de criança pudessem voltar à avenida Paulista -e não apenas nos cronometrados oito minutos. Já no próximo mês, um trecho da avenida, em frente ao Masp, será transformado em rua de lazer aos domingos. Entre outras atrações para comemorar a conquista dos pedestres, planeja-se passar, num telão, "Pé de Moleque". Foi a arte, ou melhor, foram os pés que viraram realidade.

   
 
 
 

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