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cooperativas
07/07/2004
Moda solidária é fonte de renda

"Este é o meu ano de sorte!", entusiasma-se Iramar Alves da Cruz, de 42 anos. Costureira da cooperativa da Fernão Cardin, em Pilares (Zona Norte carioca), ela não conteve a emoção ao ver peças que confeccionou para a etiqueta FAZ PAZ em exposição no Fashion Rio. A participação no mega evento de moda no Museu de Arte Moderna, realizado entre os dias 25 e 30 de junho, aconteceu graças a uma parceria inovadora que recentemente começou a se costurar: cooperativas de comunidades de baixa renda executaram as idéias de onze estilistas das mais badaladas grifes brasileiras exclusivamente para o projeto Comércio Solidário, do Viva Rio.

O lançamento da marca FAZ PAZ inaugurou uma nova etapa projeto, que é desenvolvido há três anos. "Decidimos enfocar um público-alvo novo, que esteja buscando produtos diferenciados onde o trabalho das cooperativas possa ser valorizado. Com o desenvolvimento de roupas mais sofisticadas e a assinatura de designers, queremos atingir um público classe A e, com isso, conseguir preços melhores", explica Marta Ramos, coordenadora do projeto.

No exterior, o fair trade (comércio justo) tem se voltado para o desenvolvimento de produtos diferenciados, já que é difícil competir com os preços praticados pelas grandes empresas. "As cooperativas são pequenas organizações, não conseguem comprar matéria-prima em quantidades grandes como a indústria e não têm a mesma produtividade. Conseqüentemente, o preço justo para a indústria é injusto para as cooperativas", explica Marta.

"Hoje trabalhamos muito abaixo de nossa capacidade total. Os clientes que normalmente atendemos impõem preços muito baixos e exigem um alto padrão de qualidade. Sabemos que nosso trabalho vale mais, mas acabamos aceitando porque precisamos trabalhar", explica a costureira Angélica Alves de Oliveira, de 25 anos. Solteira e mãe de quatro filhos, ela também integra a cooperativa da Fernão Cardin. Por sinal, coube a ela e a suas colegas executarem o corte e a montagem das roupas desenhadas por Andréa Marques, da grife Maria Bonita Extra.

Apesar da mostra no Fashion Rio, as roupas ainda não estão à venda. Os pedidos em atacado só começarão a ser feitos em agosto, com a inauguração de um showroom na sede do Viva Rio, na Glória (Zona Sul).

Coleções temáticas
A ponte que ligou o sofisticado mundo da moda e as cooperativas foi feita voluntariamente pela consultora de marketing e estilo Luiza Bomery: "Há muito tempo desejava participar de um trabalho social com moda. Conheci os projetos de comércio solidário e, junto à equipe do Viva Rio, concluí que era preciso criar peças que refletissem as principais bandeiras desta ONG". Foram então escolhidos os temas Paz, Preservação da Natureza, Favela, Desarmamento, Amor, Carnaval, Não à Fome, Não à Violência e Não à Dengue. "Para elaborar roupas e acessórios que divulgassem estas mensagens e ao mesmo tempo estivessem afinadas com as últimas tendências, convidamos alguns dos melhores designers do meio", conta Luiza.

Cada estilista elaborou de cinco a dez peças com o mesmo tema - as coleções incluem camisetas, saias, vestidos, casacos, roupas infantis e acessórios. A partir daí, foi confeccionado um mostruário, num primeiro passo para dar uma nova cara para os produtos das cooperativas capacitadas pelo projeto.

Artistas solidários
A exposição já começou a render mais parcerias e adesões. Alguns estilistas já se ofereceram para desenvolver novos designs e a cenografia do showroom no Viva Rio será feita pela diretora teatral Bia Lessa. Já Alexandre Aquino, diretor executivo da marca Maria Bonita, elaborou o planejamento estratégico e a viabilidade financeira do projeto. Entre os Gestores Estratégicos do Viva Rio estão André Midani e Cristian Nach, que junto com Rubem César Fernandes, coordenador geral do Viva Rio, são os principais idealizadores desta proposta diferenciada e mais humana de comercialização.

A previsão é que a etiqueta FAZ PAZ seja auto-sustentável em um prazo de três anos com investimentos e a abertura de sete lojas no Rio, incluindo o showroom.

Geração de renda
O mostruário exibido na sala vip do Viva Rio no MAM foi produzido somente por três das catorze cooperativas capacitadas pelo projeto. Fora as costureiras de Pilares, as de Santa Cruz (Zona Oeste) e de Macaé (Norte Fluminense) também colocaram mãos aos modelos. Marta Ramos acredita que a partir de agosto, quando os pedidos começarem a chegar, a produção deve atingir muito mais mulheres. "Este trabalho prova para nós mesmas que temos capacidade de fazer coisas maiores e nos dá uma injeção de otimismo", emociona-se Angélica.

A parceria ainda possibilita que as cooperativas não fiquem limitadas à execução de serviços muito específicos, como a confecção apenas de parte de uma peça. "Há um resgate da integridade da costureira que acompanha todas as etapas da produção e passa a ter um carinho especial com aquilo que está fazendo. O sucesso de um barracão de escola de samba, por exemplo, está no desfile, quando todos vêem o resultado de seus esforços individuais", analisa Diva Achui, responsável pela capacitação das cooperativas no projeto. Capacitação essa iniciada há três anos.

Santa Marta
Outro objetivo do Comércio Solidário é ensinar às cooperadas a planejarem seus custos e a negociarem com os clientes, o que só é possível na medida em que as costureiras se sintam seguras da qualidade de seu trabalho. "As costureiras que estão nas cooperativas são artesãs, amam o que fazem e têm sensibilidade para lidar com detalhes e acabamentos delicados. Elas são capazes de produzir com um alto padrão de qualidade. Mas para alcançar este nível, precisam de experiência. Daí a importância de criar uma demanda constante, quanto mais elas fizerem, maior domínio terão sobre o processo e os custos de produção", explica Diva.

No que depender do empenho das costureiras, não há dúvidas de que a etiqueta FAZ PAZ será um sucesso. "Ficou perfeita! É maravilhoso ver um trabalho em um evento chique", baba Iramar, diante de uma das peças que confeccionou. "Agora vejo como valeu a pena me empenhar mesmo estando de resguardo e com o meu filho tão pequeno", acrescenta, na companhia do pequeno Claudionor Júnior, seu bebê de dois meses

MARIANA LEAL
do site Beleza Pura

 
 
 

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