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infância
06/07/2004
Direito de brincar deve ser garantido a toda criança

Brincar de boneca, jogar bola, pular corda ou quem sabe até montar um carrinho de corrida ou aviões. As brincadeiras, que divertem as crianças e causam saudosismo nos adultos, têm recebido tanta atenção dos especialistas que já existem até organizações especializadas em conscientizar a sociedade sobre a importância de brincar.

A Associação Brasileira de Brinquedotecas, por exemplo, oferece cursos de brinquedistas e luta pela elaboração de políticas públicas que favoreçam a criação de espaços de brincadeiras nas escolas e nos hospitais. Já o IPA-Brasil - Associação Brasileira pelo Direito de Brincar, fundada em 1997, organiza palestras e eventos sobre o direito de brincar por todo o país. A associação é ligada ao IPA-International Play Rights Association, instituição que reúne profissionais como arquitetos, médicos, advogados e pedagogos que lutam pela causa em mais de 30 países.

A valorização da brincadeira é fundamental para o desenvolvimento da criança. Segundo o professor e mestre em Educação, João Beauclair, a utilização do lúdico nas atividades para o desenvolvimento infantil é essencial. "Ao brincar, a criança amplia as possibilidades de ir além do seu próprio ser, consegue interagir consigo mesmo e com os outros, percebe que há regras para o convívio social e forma sua personalidade. Enfim, vivencia sua inserção no mundo com suas complexas possibilidades".

"A criança vale-se do brinquedo para conhecer o mundo, satisfazer a curiosidade, aprender a vencer seus medos e desenvolver-se criativamente para confrontar-se com novas situações que a interessem. O brinquedo é a ferramenta que lhe permite a expressão criativa de seus sentimentos em relação ao mundo que a circunda e que ainda não compreende", complementa a pedagoga e especialista em psicopedagogia, Rosley Barros.

No mundo da brincadeira tudo é possível e permitido. A imaginação e a criatividade da criança falam mais alto. Com a mudança de idade, as transformações e os interesses irão se transformar. Mas, segundo o psicólogo Armando Correa de Siqueira Neto, o brincar irá encontrar espaço e adaptação ao entrar em contato com cada circunstância. Ele afirma que essas mudanças são essenciais, pois no brincar a criança encontra a forma criativa de lidar com as transformações humanas.

Mas, para que isso ocorra de fato, a criança deve ser estimulada pelos pais. Nylse Cunha, presidente da Associação Brasileira de Brinquedotecas, diz que os pais chegam a uma brinquedoteca e muitas vezes perguntam: "Tudo isso afinal para que. Só para ele brincar?". Segundo Nylse, é preciso que os pais e as escolas percebam qual é realmente o significado do brincar. Ela lembra que, ainda hoje, as escolas se preocupam muito em cumprir o currículo e transmitir o conhecimento formal, mas deixam de lado um tempo para as crianças se divertirem da forma que acharem melhor.

"Por isso, espaços como a brinquedoteca são fundamentais. Ali, a criança não é cobrada de nada. Não existem expectativas que pesem sobre a ela. A criança tem a total liberdade e pode expressar os seus sentimentos", comenta Nylse.

Brincadeiras de rua
A falta de espaço e a preocupação constante com a violência, principalmente nas grandes cidades, têm afastado as crianças das tradicionais brincadeiras de rua. O educador João Beauclair explica que o grande conflito neste cenário é que, além dos espaços para as brincadeiras nos condomínios fechados serem mal estruturados, eles são também pouco "aproveitados, pois se tornam locais onde as crianças, na verdade, dão um sossego para os adultos que delas 'cuidam' e ficam num convívio complexo com outras crianças e adolescentes sem referenciais".

As brincadeiras de rua perderam seu espaço para os brinquedos eletrônicos que conquistaram as crianças com a ajuda da mídia. Regina Andrade Clara, psicopedagoga e pesquisadora do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), ressalta que, diferente do que ocorria antigamente, em que o brincar começava desde a construção do brinquedo, hoje a criança pode assumir um lugar passivo frente aos brinquedos que fazem praticamente tudo sozinho. Desta forma, o brincar perde o seu sentido e real valor.

"Muitas vezes, os pais ficam juntando dinheiro o ano todo para comprar um determinado brinquedo e depois não deixam a criança brincar porque vai estragar. As crianças se sentem também frustradas quando percebem que, diferentemente do comercial, o seu boneco não voa. O brincar, em certas ocasiões, é mais o colecionar e guardar o brinquedo no armário", explica.

No entanto, a pedagoga Rosley Barros lembra que, apesar da atração, as crianças enjoam rapidamente dos brinquedos, deixando-os de lado. Já os brinquedos pedagógicos, que permitem uma maior interação e uso da criatividade, se tornam mais interessantes. De acordo com a pedagoga, isso ocorre porque a criança sente a
necessidade de criar e fantasiar por meio da brincadeira. "Se dermos um lego, por exemplo, aquele brinquedo de peças pequenas de encaixe, apesar de ser um brinquedo industrializado, a criança ficará horas nesta atividade, pois estará criando os objetos para a sua fantasia", compara.

Na opinião dos especialistas, esse direito de brincar está sendo esquecido devido às agendas das crianças repletas de compromissos, com aulas de computação, inglês, dança, que afastam as crianças da brincadeira. Elas acabam sobrecarregadas com atividades extras que, muitas vezes, nem fazem sentido para a sua faixa etária. Os brinquedos acabam sendo deixados de lado cada vez mais cedo e as crianças alimentam o sonho de se tornarem adolescentes rapidamente.

Segundo o professor João Beauclair, esse amadurecimento precoce pode ter efeitos negativos no desenvolvimento da criança, já que etapas fundamentais do processo de formação da sua personalidade são esquecidas e as descobertas aceleradas. "É preciso reeducar a própria escola e a família para que saibam que há um tempo para tudo e que ser criança é uma fase mágica, bonita e que precisa ser mais bem vivenciada", completa.

Se o lúdico se torna peça fundamental no desenvolvimento das crianças, ele não pode ser deixado de lado nas atividades de aprendizagem aplicadas na escola. Muitos educadores já se deram conta disso e utilizam jogos e brinquedos como estratégia de aprendizagem dentro da sala de aula. Mas este enfoque ainda é exceção. João Beauclair destaca o próprio espaço da sala de aula "que é formatado para que o corpo, essência do lúdico, fique aprisionado entre uma carteira e uma cadeira, enfileirado, emoldurado e impossibilitado de movimento".

O brincar, desta forma, fica restrito para espaços como parques de areia, sala de jogos e brinquedotecas. Para o psicólogo Armando Correa de Siqueira Neto, a criança sempre irá encontrar a melhor forma para brincar e "exercitar esta fonte inesgotável e pertinente do crescimento, da linguagem e da adaptação ante as variadas transformações e circunstâncias pelas quais passa, boas e difíceis", conclui.



DANIELE PRÓSPERO
do site setor3

 
 
 

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