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aldeia do futuro
28/03/2005
ONG aposta no protagonismo juvenil para adolescentes de Americanópolis

Na Aldeia do Futuro, organização não-governamental, instalada no bairro de Americanópolis, zona Sul de São Paulo, a palavra de ordem é protagonismo, e os jovens são os atores principais dessa ação. A idéia é desenvolver potencialidades e dar oportunidade a eles a fim de que possam mudar sua realidade, tornando-se agentes de seu próprio destino. Vanessa Aparecida dos Santos, 20 anos, é uma dessas jovens. Ela começou a participar das atividades há quatro anos a convite de uma amiga e, desde então, não parou mais de se envolver nos trabalhos. Tanto que, desde o ano passado, ela se tornou mais do que uma participante. Ela agora é também uma educadora.

Hoje, a jovem acompanha os alunos do curso de mediadores de leitura e contadores de história. Ela afirma que enfrenta muitas dificuldades, já que a leitura sempre foi vista pelos adolescentes como algo chato, devido à exigência das escolas. Por isso, o desafio é encontrar formas diferentes de ensinar e mostrar o quanto a leitura pode ser interessante. Além das atividades na Aldeia, Vanessa faz um trabalho voluntário contando histórias para crianças de um orfanato do bairro. "É algo muito prazeroso porque quando você lê para alguém recebe muito carinho em troca, a pessoa se sente mais acolhida. Além de estar educando, há um sentimento envolvido. É muito bom", comenta.

Além de Vanessa, outros sete jovens que foram alunos da Aldeia também estão atuando como instrutores, orientando os 600 jovens que passam todos os meses pela entidade. "Nós acreditamos que eles são capazes. Além disso, eles cresceram conosco, conhecem a realidade. Porque então não investir nestes talentos?", pergunta Genilva de Sousa Borges, diretora pedagógica da entidade. Ela ressalta que é com essa visão que a organização vem atuando há 10 anos na região. A entidade nasceu da intenção de um grupo de empresários que decidiu investir na formação dos jovens. A preocupação surgiu porque o bairro, inserido numa das regiões da capital com um dos piores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), conta com um número insuficiente de escolas e poucos espaços de lazer e cultura, além de registrar muitos casos de violência e alto desemprego, o que demonstra um grande grau de vulnerabilidade social.

"Se você entrar realmente nas vielas e becos que existem por aqui, você vai perceber um outro lado da cidade. Esse é o lado de horror. E tudo isso, ao invés de melhorar nestes anos que estamos aqui, foi se agravando", critica a diretora. No início, a organização oferecia cursos profissionalizantes como, por exemplo, de pedreiro, construção civil, encanador, entre outros, com a proposta de tirar os jovens da rua. No entanto, a organização buscou se aperfeiçoar ao longo destes anos seguindo as mudanças sociais a fim de oferecer novidades para que os jovens pudessem não somente se preparar para entrar no mercado de trabalho, mas que tivessem também uma visão sobre seus direitos e deveres, tornando-se assim cidadãos ativos na sociedade, e, principalmente, na sua comunidade. "Dizemos que trabalhamos com os pés no presente e os olhos no futuro", destaca Genilva.

Hoje, a organização atua com diversos núcleos, oferecendo atividades diversas em cada um deles. No Núcleo de Formação, são oferecidos cursos semestrais de telemarketing, monitor de recreação, cabeleireiro, informática, assistente de vendas, vídeo e rádio, montagem e manutenção de microcomputadores. O curso de cabeleireiro, por exemplo, é um dos que mais tem inserido os jovens no mercado de trabalho. Mais de 30% dos alunos formados em 2004 já estão atuando na área. No final do ano, principalmente, os salões da região e até mesmo outros mais reconhecidos, como o Jacques Janine, vão até a entidade em busca dos jovens profissionais.

A diretora pedagógica explica que isso acontece porque os cursos, além de prepararem os alunos nas habilidades técnicas, também enfocam outras questões como o mundo do trabalho na contemporaneidade, gestão da empresa, postura profissional, atendimento aos clientes, administração de recursos. O interessante é que os alunos atuam ainda na sua comunidade indo às creches ou aos asilos da região oferecendo cortes de cabelo, manicure e outros serviços. O mesmo acontece com os estudantes do curso de recreação, que realizam atividades aos fins de semana no projeto Rua do Lazer, na favela de Vila Clara, ou nas escolas no projeto Recreio nas Férias.

Os jovens participantes do Núcleo de Comunicação também estão em plena atividade. Os 32 alunos participam de aulas de rádio, vídeo, desenvolvimento de comerciais, administração de uma produtora, artes, história do cinema, fotografia. Atualmente, os jovens já realizam trabalhos, como a produção de vídeos, para outras entidades e empresas. Além disso, os alunos são responsáveis pela produção de um dos programas de maior audiência da TV Comunitária, transmitido por operadoras de TV a cabo, o "Juventude e Trabalho". No programa, eles discutem problemas da região, além de temas do universo dos jovens, como a questão da pichação.

Hoje, eles estão produzindo um especial sobre ditadura. Além de realizarem todas as pesquisas sobre o assunto, os jovens visitam locais relacionados ao tema. A atividade atrai muito a atenção dos adolescentes do projeto. Anderson Pereira da Silva, 20 anos, destaca que, com o vídeo, fica mais fácil para o jovem mostrar o que pensa e poder contar histórias sobre diversos assuntos. Ele, por exemplo, prefere atuar no programa da TV Comunitária à produção dos vídeos encomendados, por ter mais liberdade para criar. Os jovens recebem ainda uma bolsa-auxílio mensal, além do dinheiro que conseguem com os vídeos que produzem.

A Aldeia do Futuro conta também com o Núcleo de Protagonismo, em que os jovens de todas as atividades multiplicam seus conhecimentos participando de fóruns locais, reuniões do orçamento participativo e o conselho da organização. Já o Núcleo de Orientação fica responsável por organizar palestras com profissionais sobre temas diversos - saúde, direitos, orçamento público -, e o de Cultura e Arte, oferece oficinas de dança, capoeira, grafite, fotografia, teatro, futebol, entre outros.

Desde 1998, a ONG desenvolve também o projeto Aldeia de Mulheres, que surgiu da necessidade de aproximar a família dos jovens atendidos pelo projeto da organização, a fim de mostrar a importância das atividades para os adolescentes, que acabavam desistindo, muitas vezes, pois precisavam cuidar da casa ou até mesmo realizar pequenos trabalhos para ajudar no sustento da casa. Com isso, a organização oferece cursos de pintura em tecido, bordado e artesanato para cerca de 200 mulheres da comunidade.

O projeto promove ainda geração de renda para 45 mulheres envolvidas ativamente na produção de produtos sofisticados como bolsas, tapetes, xales, colchas, almofadas, a partir de técnicas como fuxico, amarradinho, ondinha. Os produtos hoje são comercializados em diversos locais, como a Associação Mundaréu, Projeto Terra, Oca Designer, em diversos estados e no exterior. A renda arrecadada com a venda dos produtos é revertida para as alunas e para a compra de material.

Para Kátia Ulbanijo Ribeiro, 30 anos, a participação no Aldeia de Mulheres foi uma nova oportunidade para aperfeiçoar o seu conhecimento em técnicas de artesanato e voltar a ativa, já que estava há um ano desempregada. Ela lembra que, apesar da dificuldade em trabalhar nesta área, já que o salário varia de acordo com as vendas, essa é uma atividade que traz muitos benefícios, principalmente na qualidade de vida. "O trabalho se torna uma terapia também. Faz quase um ano que não fico doente, ao contrário de quando eu era empregada em empresa. É muito bom", comenta. "Melhor do que eu ficar em casa lamentando a vida é batalhar. Eu invisto nisso, tento de todas as formas e participo até de feiras de artesanato".

Mas, apesar dos bons resultados alcançados junto aos atendidos - muitos jovens, por exemplo, incentivados pela organização hoje estão ingressando em cursos universitários, o que para eles poderia parecer algo muito distante, - as dificuldades financeiras impedem que a Aldeia do Futuro amplie seu trabalho. Hoje, há mais de 1600 jovens na fila de espera. Os recursos encaminhados pela prefeitura de São Paulo, que representam mais de 50% da verba para manter as atividades, não chega à organização há três meses. Mesmo com as dificuldades, a Aldeia não deixou de oferecer as atividades, mas a situação se agrava a cada dia.

"Estamos no limite. Caso o dinheiro realmente não venha, aí eu não sei o que faremos. Vamos ter que nos mobilizar com as outras organizações para buscarmos uma solução", aponta Genilva. Devido a estes embates, a entidade quer ainda em 2005, organizar uma área de captação de recursos para conquistar novas parcerias e também doações de pessoas físicas, de forma mais profissional, para que não dependa mais somente dos recursos públicos.

Serviço :
Aldeia do Futuro
Endereço: rua Jorge Rubens Neiva de Camargo, nº 228, Americanópolis, São Paulo
Telefone: (11) 5562-6860


DANIELE PRÓSPERO
do site setor

 
 
 

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