Entidades
procuram otimizar ação social
A ação
social desordenada no Brasil gera desperdício de um terço
dos recursos arrecadados, segundo o Instituto para o Desenvolvimento
do Investimento Social (Idis). Para tornar a arrecadação
e o aproveitamento de doações mais eficiente, a organização
não-governamental lançou o Programa Doar.
Nove cidades
do Estado de São Paulo participam, outros dez municípios
deverão ser atendidos ainda este ano e planeja-se a expansão
do projeto para outros Estados em 2002.
A proposta é
centralizar informações sobre todos os projetos sociais
em andamento na cidade, os fundos e parceiros possíveis,
mapear prioridades para o investimento e coordenar as partes para
que trabalhem juntas, envolvendo toda a comunidade.
A Ação
Comunitária do Espírito Santo (Aces) desenvolve trabalho
semelhante, intermediando relação entre doadores e
entidades sociais da Grande Vitória.
(Gazeta
Mercantil)
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ética no investimento compensa (Valor)
Ação
social ainda está pouco organizada
Os 50 mil cidadãos
de Penápolis, cidade do interior paulista, doam, juntos,
sete vezes mais que o orçamento da Secretaria Municipal de
Ação Social. Por ano, eles distribuem pelo menos R$
2,25 milhões - valor semelhante ao faturamento da maior empresa
da cidade, uma indústria de máquinas agrícolas.
Entretanto,
como todo investimento social comunitário, é disperso
e pouco eficiente. 'A maioria das cidades do interior do Brasil
faz três quermesses no dia do seu santo - e nenhuma no resto
do ano', diz Marcos Kisil, presidente do Instituto para o Desenvolvimento
do Investimento Social (Idis). Depois de identificar a falta de
entrosamento entre doadores que, muitas vezes, atuam na mesma área
temática e geográfica, a não-governamental
lançou o Programa Doar. Ele já trabalha com nove cidades
de São Paulo, como a própria Penápolis, Guarulhos,
Diadema e São José dos Campos. Outros dez municípios
paulistas deverão ser atendidos ainda este ano. Em 2002,
o programa deve chegar a outros estados.
O Idis percebeu
que a desordem no planejamento continua na hora de distribuir o
dinheiro. 'Quem chega primeiro, leva', diz Kisil. Pelos seus cálculos,
essa ação descoordenada produz um desperdício
de um terço do dinheiro arrecadado. E não se trata
de má fé. 'São computadores usados apenas uma
hora por dia e auditórios que poderiam ser compartilhados',
exemplifica.
Uma conta simples
mostra que as perdas não podem ser ignoradas. Juntas, as
nove cidades apoiadas pelo Idis distribuem algo em torno de R$ 500
milhões anuais. Segundo Kisil, o valor que teria sido desperdiçado,
cerca de R$ 150 milhões, é superior ao orçamento
da Fundação Bradesco no ano passado.
Na segunda-feira,
o Idis promoveu em São Paulo o primeiro congresso internacional
sobre o investimento social comunitário já realizado
no País. Durante o evento, a entidade divulgou pesquisa inédita
com 2 mil varejistas de 100 cidades do interior de São Paulo,
Paraná e Santa Catarina, além de Belo Horizonte. Do
estudo emerge a imagem de um empresário que prefere doar
em espécie e que muitas vezes, ajuda indivíduos, não
instituições.
Para que as
doações de cidadãos e do pequeno comércio
ganhem foco e eficiência, o Idis adota uma receita já
consagrada no exterior. Ele propõe a criação
de uma organização central que canalize energias filantrópicas.
Para alcançar este objetivo, ela tem que reunir informações
sobre todos os projetos sociais em andamento na cidade, bem como
os fundos e os parceiros possíveis. Também deve mapear
prioridades para o investimento social. E, principalmente, deve
colocar todas as partes para trabalhar juntas. As partes, como se
viu durante o seminário, incluem desde a igreja e a prefeitura
até o corpo de bombeiros e a universidade local.
O Idis não
é a única entidade brasileira a fomentar esse modelo.
A Ação Comunitária do Espírito Santo
(Aces), fundada em meados da década passada por um pool de
empresas que inclui a Chocolates Garoto e a Viação
Itapemirim, desenvolve trabalho aparentado. A não-governamental
é intermediária das relação entre doadores
e entidades sociais da Grande Vitória. Ela também
ajuda no desevolvimento de projetos e na captação,
administração e repasse de recursos. E mais: apóia
a ONG que deseja obter o título de entidade de interesse
público federal junto ao Ministério da Justiça
- o que garante a isenção tributária das doações.
'A gestão
social tem que ter um desempenho operacional mais eficaz', disse,
durante o evento, o superintendente executivo da entidade, Domingos
Gomes de Azevedo. Por isso, a Aces também tem investido em
cursos de capacitação de gestores e voluntários
de projetos sociais.
No exterior
esse conceito de agência fomentadora de projetos sociais locais
é bem mais difundido. Na maioria dos casos, recebe o nome
de fundação comunitária. Nos Estados Unidos,
elas são mais de 600 e administram um patrimônio que
supera US$ 25 bilhões. No Canadá, 110 fundações
comunitárias gerem o equivalente a US$ 905 milhões.
Entidades semelhantes já foram criadas em Israel, no Quênia,
na Índia ou na Nova Zelândia.
Para Monica
Patten, presidente da Community Foundations of Canada, a força
dessas fundações está, justamente, no seu vínculo
direto com a comunidade, que cria identificação entre
o doador e o beneficiário. Em muitos casos, ambos se confundem.
A história
da Western Region Foundation, que cobre três localidades extremamente
pobres do Zimbábue, ilustra bem isso. Ela nasceu em 1998,
quando 7.000 pessoas das próprias comunidades doaram US$
1 cada para a criação de um fundo que alimenta vários
projetos locais. O depósito inicial permitiu alavancar recursos
externos que não seriam possíveis de outra forma.
No ano passado, diante dos resultados conseguidos, cada indivíduo
renovou sua doação, agora na casa dos US$ 5 per capita.
(Gazeta Mercantil)
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