|
Cresce
um novo tipo de sistema produtivo no Brasil
Os chamados
sistemas produtivos locais desenvolvem-se fortemente no Brasil.
Cada vez aumenta mais a integração entre empresas,
muitas vezes concorrentes, com casos de participação
também do poder público. Este envolvimento de concorrentes
ou complementares é uma das características desses
novos sistemas produtivos locais, também conhecidos como
clusters. O Instituto de Pesquisa Econômica Avançada
(Ipea) até elaborou uma nomenclatura específica para
definir o grau de evolução e integração
produtiva dos casos pesquisados.
Bonito, no Mato
Grosso do Sul, é um exemplo típico. Junto com os municípios
de Bodoquena e Jardim, Bonito forma o Parque Ecológico da
Bodoquena. As 30 fazendas locais, que antes viviam somente da agropecuária,
agora, exploram também suas riquezas naturais. "O turista
rende em duas horas o que o boi rende em um mês". Atualmente,
1,5 mil pessoas trabalham em atividades ligadas ao turismo. São
mais de três dezenas as agências de turismo que oferecem
passeios espalhados por um raio de até cem quilômetros
da cidade.
A grande diferença
de Bonito para os outros pólos de ecoturismo é o esforço
para consolidar uma cadeia produtiva formal, que gera arrecadação
para o município, renda para os proprietários, empregos.
O mercado mundial de ecoturismo é de aproximadamente 30 milhões
de turistas por ano. Deles, apenas 300 mil vêm ao Brasil anualmente.
O que demonstra, segundo os especialistas, o quanto se pode crescer
nessa área no país.
Leia
mais
|
|
|
Subir
|
|
Produção
local se organiza e amadurece no Brasil
Aventurar-se
em Bonito, município localizado no sul do Mato Grosso do
Sul, custa aos ecoturistas aproximadamente 20 horas viagem de carro
ou ônibus, de São Paulo ou Rio de Janeiro. Vôos
diretos, só de Campo Grande. Além de hospedagem simples
e comida honesta, há, no município, cachoeiras, grutas
e rios para passeios e mergulhos.
As atrações
levaram, em 2000, mais de 30 mil turistas à região.
Cinco anos atrás, menos de 500 pessoas iam até lá.
'O turismo já é a principal fonte de receita do município',
diz João Meirelles Filho, presidente do Instituto de Ecoturismo
do Brasil e proprietário de uma das fazendas locais dedicadas
a atividades agropecuárias e também abertas a visitas.
'O turista rende em duas horas o que o boi rende em um mês'.
O Instituto
de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea) dedica a casos
como o de Bonito atenção especial. Os chamados sistemas
produtivos locais, também conhecidos como clusters, segundo
Luís Fernando Tironi, diretor da área de Estudos Setoriais
do instituto, desenvolvem-se fortemente no Brasil. A diferença
do que ocorria nos antigos agrupamentos de empresas, os distritos
industriais - em condomínios ou regiões abundantes
em matérias-primas -, e o que acontece hoje é o evidente
aumento da sinergia existente entre empresas, muitas vezes concorrentes,
com casos de participação também do poder público.
Este envolvimento de concorrentes ou complementares, para Tironi,
é uma das características dos clusters.
Por isso, o
Ipea elaborou uma nomenclatura específica para definir o
grau de evolução e integração produtiva
dos casos pesquisados. Os menos desenvolvidos foram classificados
como agrupamentos potenciais. Na ordem, a seguir, vêm os emergentes,
os maduros, os avançados e as aglomerações
ou clusters. Foram definidos também pólos tecnológicos
e redes de subcontratação. 'Alguns nascem sem planejamento,
apenas por vocação local e mostram-se, com o tempo,
soluções para competitividade e desenvolvimento locais',
diz o pesquisador do instituto.
É o exemplo
de Bonito, que com os municípios de Bodoquena e Jardim, forma
o Parque Ecológico da Bodoquena. As 30 fazendas locais, que
antes viviam somente da agropecuária, agora, exploram também
suas riquezas naturais. Atualmente, 1,5 mil pessoas trabalham em
atividades ligadas ao turismo. São mais de três dezenas
as agências de turismo que oferecem passeios espalhados por
um raio de até cem quilômetros da cidade.
Segundo Meirelles,
ir direto às fazendas, onde está localizada a maioria
das atrações, é viagem perdida. 'A passagem
por uma das agências é obrigatória', afirma.
'Lá o viajante recebe um vaucher e vai aos passeios com guia
credenciado pela Embratur. Temos de preservar a nossa galinha dos
ovos de ouro'.
Os outros proprietários
concordam e, por isso, fixaram cargas máximas de visitação
para cada uma dos pontos turísticos. Foi criado um conselho
municipal para cuidar do assunto. 'A grande diferença de
Bonito para os outros pólos de ecoturismo é o esforço
para consolidar uma cadeia produtiva formal, que gera arrecadação
para o município, renda para os proprietários, empregos',
diz João Meirelles Filho. Segundo ele, o mercado mundial
de ecoturismo é de aproximadamente 30 milhões de turistas
por ano. Deles, apenas 300 mil vêm ao Brasil anualmente. 'Isso
dá uma idéia do quanto se pode crescer', afirma.
O professor
do Departamento de Ciência Econômica da Universidade
de Udine, na Itália, Sergio Albertini estuda os sistemas
produtivos locais italianos. Os especialistas atribuem justamente
a esse país a criação deste tipo de aglomeração
produtiva. 'Os distritos industriais italianos nascem nos lugares
onde há uma vocação histórica', afirma
Albertini. Em Brescia, exemplifica o professor, região em
que eram forjadas armas para os exércitos de Veneza, há
400 anos, surgiu uma aglomeração industrial voltada
para a siderurgia. Lá, hoje, funciona a Beretta, maior fabricante
italiana de armas.
No caso brasileiro,
Albertini salienta que, por se tratar de um país novo, a
vocação é, em grande parte condicionada à
existência de recursos naturais específicos. 'Um pólo
ceramista só se instalará em local onde há
abundância de matérias-primas', afirma. Como na Itália,
segundo ele, os fatores que determinam o sucesso ou não de
um cluster são a presença de infra-estrutura, a proximidade
de mercados consumidores potenciais e, principalmente, a formação
de mão-de-obra especializada em quantidade suficiente.
Um sistema produtivo
local brasileiro que, segundo Tironi, do Ipea, alcançou um
bom grau de colaboração e complementaridade é
o da região de Goiânia-Anápolis (GO). Lá,
instalaram-se, nos últimos oito anos, 13 indústrias
do setor químico-farmacêutico. Outras cinco estão
em fase de implantação. Segundo Jailton Batista, diretor
executivo do Laboratório Teuto, o maior do pólo goiano,
todas as que já operam no local, sem exceções,
estão em expansão. 'A agressividade da indústria
farmacêutica nacional para combater a hegemonia quase absoluta
das multinacionais, depois da aprovação dos genéricos,
ajudou na formação do pólo', afirma Batista.
No local, as
indústrias concorrentes uniram-se para construir um laboratório
de bioequivalência. A empresa realiza os testes que comprovam
que os medicamentos fabricados na região têm os mesmos
princípios ativos dos similares de marca o que permite a
classificação como genéricos.
O governo do
estado de Goiás não poupou esforços para atrair
as indústrias. Ofereceu aos que se instalassem em seu território
o financiamento de 70% do ICMS com juros de aproximadamente 3% ao
ano e prazos que variam de 10 a 20 anos para o pagamento. 'Estamos
a uma hora de São Paulo, Belo Horizonte e Rio. A malha viária
do estado é excelente e foi aberto um porto seco, dentro
do distrito industrial, para facilitar as nossas vidas', diz Batista.
A desvantagem é, segundo ele, a escassez de mão-de-obra,
por se tratar de indústria muito especializada.
Para atenuar
o problema, Albertini, da Universidade de Udine, receita a política
aplicada na Alemanha e Itália. Dividir os custos da educação
profissional entre todas as partes interessadas, por meio de um
contrato chamado de formação-trabalho.
'As empresas
assumem um terço dos custos de formação, os
municípios, outro terço e o próprio beneficiado
aceita um salário mais baixo, pois precisa aprender', diz.
A questão
da mão-de-obra afeta fortemente a região Nordeste
da Itália e, por isso, soluções mais radicais
foram implantadas. Segundo Albertini, foram criadas agências
de trabalho temporário, de caráter privado, que captam
trabalhadores no Sul do país, onde os índices de desemprego
são altos, e levam-nos aos locais em que faltam operários.
Por se tratar
de países ricos, no processo são garantidos casa,
educação para os filhos dos imigrados e um seguro
pessoal, se houver necessidade de retorno do operário ao
seu local de origem.
(Gazeta Mercantil)
|
|
|
Subir
|
|
|
|