Contratação
formal subiu, mas com menores salários
Pesquisas divulgadas
esta semana mostram números desanimadores para os trabalhadores
brasileiros. Oito em cada dez trabalhadores que perderam seus empregos
em 2001 recebiam apenas até três salários mínimos
(R$ 540). Quem conseguiu voltar ao mercado de trabalho formal teve
de aceitar receber menos. Resultado: o Brasil viveu neste ano uma
forte migração de empregados de faixas salariais maiores
para menores.
Foram demitidos
8,096 milhões de trabalhadores e admitidos 8,946 milhões,
resultando em saldo positivo de 850 mil contratações
até outubro. No entanto, o padrão salarial anterior
não foi mantido. Antes de serem demitidos, a folha de pagamentos
dos 8 milhões de funcionários dispensados era de R$
261,5 milhões. Após o corte, as empresas voltaram
a contratar, mas pagando muito menos pela mão-de-obra. Logo,
a folha de pagamentos dos contratados atingiu R$ 266,6 milhões,
quando o correto é R$ 288,9 milhões.
Nesse quadro,
quem ganhava, por exemplo, entre três e sete salários
teve dificuldade maior para arranjar um novo posto neste ano. Acabou
aceitando receber menos de três salários mínimos
por mês. Mais de 143 mil empregados que ganhavam de três
a sete salários mínimos foram demitidos até
setembro deste ano. Outros 402 mil foram admitidos para receber
de meio a um salário no mesmo período.
Leia
mais:
- Rodízio
de trabalhadores achata renda
Leia
também:
- Jovens e mais instruídos resistem mais no
emprego
- Executivos recebem mais mesmo na crise
- Força já negocia direitos do trabalhador
- Empresários dizem que reforma da lei é
tímida
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Rodízio de trabalhadores
achata renda
Oito em cada
dez trabalhadores que perderam seus empregos em 2001 recebiam apenas
até três salários mínimos (R$ 540). Quem
conseguiu voltar ao mercado de trabalho formal teve de aceitar receber
menos. Resultado: o Brasil viveu neste ano uma forte migração
de empregados de faixas salariais maiores para menores.
Quem ganhava,
por exemplo, entre três e sete salários teve dificuldade
maior para arranjar um novo posto neste ano. Acabou aceitando receber
menos de três salários mínimos por mês.
As conclusões
fazem parte de dois estudos. O primeiro foi elaborado pelo economista
e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Marcio
Pochmann, secretário do Trabalho da Prefeitura de São
Paulo. O segundo, por Carlos Augusto Gonçalves, coordenador
do Desep (Departamento de Estudos Sócio-Econômicos
e Políticos) da CUT.
Os estudos consideraram
apenas o emprego formal e foram feitos com dados oficiais do Ministério
do Trabalho e Emprego.
Os números
são desanimadores e mostram o rosto dos trabalhadores mais
atingidos pelo limitado crescimento da economia em 2001. Com uma
expansão do PIB que deve chegar a apenas 2%, o país
parou no segundo semestre.
Foram demitidos 8,096 milhões de trabalhadores e admitidos
8,946 milhões, resultando em saldo positivo de 850 mil contratações
até outubro. A rotatividade implicou queda nos salários.
As empresas
até contrataram mais pessoal, mas a folha de pagamentos subiu
só 1,9% com as admissões, segundo o estudo. Uma conta
explica isso: antes de serem demitidos, a folha de pagamentos dos
8 milhões de funcionários dispensados era de R$ 261,5
milhões.
Após
o corte, as empresas voltaram a contratar, mas pagando muito menos
pela mão-de-obra. Logo, a folha de pagamentos dos 8,9 milhões
de contratados atingiu R$ 266,6 milhões, com aumento de apenas
1,9%.
"Se fosse
para reproduzir o padrão salarial anterior, a folha de pagamentos
[com o saldo de 850 mil contratações" teria de
ter passado de R$ 261,5 milhões para R$ 288,9 milhões",
diz Pochmann. Ou seja, devia ter crescido 10,5%.
Segundo o dado
mais recente do IBGE, o rendimento médio do trabalho entre
janeiro e setembro (tanto no mercado formal como informal) caiu
2,6% em relação ao mesmo período de 2000.
Na surdina,
o país viveu uma migração silenciosa de trabalhadores
que antes recebiam pouco e agora passaram a receber muito pouco
pelo seu trabalho.
Mais de 143
mil empregados que ganhavam de três a sete salários
mínimos foram demitidos até setembro deste ano. Segundo
estudo do Desep, 402 mil foram admitidos para receber de meio a
um salário no mesmo período.
Isso representa
expansão de 18% no total de empregados nessa faixa, que corresponde
a, no máximo, R$ 270 por mês -menos de duas cestas
básicas em São Paulo (cerca de R$ 155 cada uma).
Houve também
uma forte elevação nas contratações
de empregados que recebiam de meio a dois salários mínimos.
Os economistas levantam a possibilidade de transferência de
mão-de-obra de uma faixa para outra.
Segundo Salomão
Quadros, economista-chefe da FGV, esse movimento deve continuar.
"Essa situação, vivida pelo trabalhador de menor
renda ou pelo que ganha salários mais elevados, não
deve mudar em 2002. A indústria não espera um ano
muito bom."
Os economistas
afirmam que não esperavam que o achatamento salarial fosse
tão significativo. "A indústria brasileira construiu
um país de baixos salários", diz Pochmann. "Dos
anos 90 para cá, mesmo após um processo de privatização,
reforma do Estado e modernização nas relações
do trabalho, temos um padrão salarial pior do que na era
Vargas. Temos hoje um salário de fome."
Em alguns setores
da economia a situação é mais delicada. As
indústrias de telefonia e automobilística têm
realizado enxugamentos e terceirizado não só empregados
que recebem de três a cinco salários, mas também
gerentes com salários de R$ 5.000.
(Folha de S.Paulo)
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Jovens e mais instruídos
resistem mais no emprego
Homem, jovem
-com até 24 anos- e mais de oito anos de estudo. Esse é
o perfil do trabalhador brasileiro com carteira assinada que sobreviveu
à disparada no desemprego neste ano no país. Ele conseguiu
uma nova vaga, mesmo depois de já ter sido demitido durante
o ano, de acordo com dois estudos inéditos.
Os estudos mostram
que mais da metade (55%) dos empregados admitidos no mercado formal
em 2001 tem entre 8 e 11 anos de escolaridade. Outros 8,2% não
ficaram mais do que 4 anos na escola. E 1 em cada 5 (20%) dos brasileiros
que obtiveram uma vaga estudaram de 4 a 8 anos.
As mulheres
tiveram mais dificuldade para voltar à ativa do que os homens.
Do total de funcionários contratados, 65,9% pertencem ao
sexo masculino e 34,1% ao feminino. Isso mostra que quase 7 em cada
10 trabalhadores que escaparam do desemprego são homens.
Os dados de
2001 comprovam aquilo que os economistas têm repetido recentemente:
o jovem brasileiro até consegue seu primeiro emprego, mas
com salários cada vez mais achatados.
Mais de 84%
daqueles que voltaram ao "batente" têm até
24 anos. Na faixa de 25 anos a 49 anos, 23,2% se recolocaram. Mas
entre aqueles com mais de 50 anos a situação se complicou
em 2001. O saldo foi negativo: houve queda de quase 8% nessa faixa
etária.
Já o
trabalhador dispensado, segundo os especialistas, é o pai
de família, que operava na linha de produção
das indústrias e tinha renda média de cinco salários
mínimos (R$ 900), principalmente na região metropolitana
de São Paulo.
Ou seja, ele tem o mesmo perfil daquele empregado que vem sendo
expulso do mercado de trabalho na última década.
Entre os demitidos,
segundo os estudos, 54,1% têm menos de um ano de casa, enquanto
21,7% têm mais de três anos. O que mostra que, em épocas
de crise, na hora de fazer a lista dos dispensados, as empresas
concentram o "facão" em quem tem menos tempo de
casa.
Quando se estuda
o motivo dos cortes, observa-se que 73% foram demitidos sem justa
causa, enquanto 17% saíram por conta própria e 1,2%
foi por justa causa.
Em todas as regiões do país ocorreram modificações
na distribuição dos trabalhadores por faixa salarial.
No Sudeste, por exemplo, houve aumento no total de pessoas que recebem
de 1,5 a 2 salários mínimos. Em 2000, eram 11,8% do
total de empregados. Em 2001, 12,4%.
Enquanto isso,
houve queda na taxa de empregados que ganham entre 5 e 7 salários
mínimos: passou de 10,2% do total de pessoas empregadas em
2000 para 9,7% em 2001.
"Houve
maior eliminação de empregos na região Sudeste
e no setor industrial", afirma o economista Carlos Augusto
Gonçalves, coordenador do Desep.
No Nordeste,
8,2% dos trabalhadores recebiam de meio a um salário no ano
passado. Neste ano, a taxa passou para 9,1%. Ou seja, há
mais gente ganhando menos hoje do que em comparação
ao ano passado.
(Folha de S.
Paulo)
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Executivos recebem mais
mesmo na crise
Se os trabalhadores
de menor poder aquisitivo têm seus salários achatados,
os executivos das empresas -que recebem acima de R$ 15 mil por mês-
registram aumento real em sua remuneração e até
elevação nos bônus.
As recentes
crises econômicas tiveram impacto inicial nesse mercado -com
o congelamento de vagas-, mas os efeitos já foram absorvidos.
"De agosto a outubro, registramos forte queda no total de vagas
oferecidas aos executivos. mas já voltamos ao ritmo normal
neste mês", diz Ricardo Xavier, presidente da Manager,
especializada em recolocação de profissionais.
Segundo levantamento
da Deloitte Touche Tohmatsu, especialista em análises e consultoria,
os profissionais que ganham acima de R$ 15 mil por mês tiveram
aumentos salariais superiores a 41% de julho de 2000 a junho de
2001 em relação ao período anterior.
Já os
trabalhadores de setores como metalurgia e automobilístico
registraram apenas a recomposição da inflação
-cerca de 8% neste ano. E há setores que não estão
conseguindo sequer repor toda a inflação deste ano.
Retorno
"Muitas
pessoas que até acabaram demitidas durante os enxugamentos
que as empresas fizeram estão conseguindo voltar agora ao
mercado de trabalho. E com salários, no mínimo, iguais
ao da última ocupação", disse Irene Azevedo,
gerente de recolocação da KPMG.
Há alguns
exemplos que comprovam essa melhoria no mercado. De acordo com a
BPI, consultoria de recursos humanos, a Brasil Telecom demitiu 4.700
empregados devido a seu programa de reestruturação.
A grande maioria pertencia a cargos de níveis intermediários
e operacionais, como gerência.
Segundo a consultoria, 94,4% conseguiram se recolocar na praça,
sem consideráveis alterações na remuneração
mensal.
"Quando
a crise aperta, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. E quem
sofre não é o alto executivo, mas o metalúrgico",
diz Gutemberg de Macedo, dono da empresa de recolocação
Gutemberg.
As mais recentes
negociações que ele precisou coordenar para a recolocação
de pessoal resultaram em aumentos de 9% a 45% nos salários
dos executivos.
(Folha de S.
Paulo)
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Força
já negocia direitos do trabalhador
Parte do sindicalismo
brasileiro quer que a negociação de direitos trabalhistas
seja algo como escolher produtos na prateleira de um supermercado.
É assim que a Força Sindical e o Sindipeças
(que reúne empresas de autopeças) devem fazer o primeiro
acordo por setor de flexibilização das leis trabalhistas
no país.
Os produtos
desse "supermercado trabalhista" poderão ser adotados
por 700 empresas que empregam 200 mil pessoas no país. Isto
é, caso a reforma da CLT seja aprovada no Senado em 2002.
Hoje, 35% das fábricas de autopeças já têm
acordos que mudam as leis, informa o sindicato.
"O acordo
deverá ser por adesão. Entra quem quer ou precisa.
Empresa e trabalhador terão alternativas ao escolher férias,
13º e outros direitos. É como a prateleira de um supermercado",
afirma o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.
"Mas sem diminuir nem retirar o que já garante a lei.
Tem de haver concordância das duas partes, e o acordo ser
aprovado em assembléia."
A central sindical
se aliou ao governo na batalha pela aprovação da reforma
da CLT. A texto aprovado na Câmara prevê que as negociações
coletivas podem prevalecer sobre a legislação trabalhista
desde que não exista veto de uma das partes ao acordo.
"A idéia
é estabelecer regras mínimas e máximas. Se
a empresa quiser aderir, pode montar seu pacote", diz Drausio
Rangel, coordenador de negociações trabalhistas do
Sindipeças.
Serão
definidos, por exemplo, limites máximos para férias
(poderão ser pagas 15 dias em dinheiro e 15 dias em descanso),
13º salário (o pagamento pode ser em mais de duas vezes)
etc.
Autopeças
e metalúrgicos de São Paulo foram pioneiros em adotar
medidas polêmicas para enfrentar crises econômicas,
como por exemplo a redução de salários com
jornada menor e o banco de horas.
Na avaliação
do Sindipeças, o acordo não vai permitir a criação
de novas vagas, mas haverá economia nos encargos trabalhistas,
manutenção do nível de emprego e diminuição
da informalidade. "O que gera emprego é a expansão
industrial e o crescimento da economia", diz Rangel.
Os postos de
trabalho serão mantidos com as mudanças, acredita,
porque haverá melhor distribuição do custo
dos encargos. "O trabalhador no Brasil é relativamente
barato, mas o emprego é caro." No país, paga-se
104% de encargos sociais, enquanto nos EUA, de 9% a 11%, afirma.
O custo com a mão-de-obra representa 40% a 43% do faturamento
do setor, de acordo com Rangel. Nos EUA, ele é 11%. "Para
agravar, a concentração de encargos ocorre no final
do ano, época em que o setor tem queda da produção."
"Queremos
nos antecipar e inventar o remédio antes que a doença
apareça", disse Rangel ao se referir à reforma
da CLT.
O problema é
que as "doses" desse remédio serão disputadas
por empresas de autopeças com trabalhadores representados
pela CUT -são cerca de 35% das 700 fábricas. A central
já planeja até uma greve geral, caso as leis trabalhistas
se tornem mais flexíveis.
"Se vierem
nos procurar para discutir pré-acordo, vão levar com
a porta na cara", diz o presidente da CUT, João Felício.
Ele acredita que as empresas vão pressionar principalmente
as categorias com data-base no primeiro trimestre para aceitar a
flexibilização de direitos.
A CUT já
anunciou greve geral no país em 2002 e prepara manifestações
nas principais capitais.
A Força
Sindical não acredita que possa haver ganho nos salários,
mas defende o acordo como forma de evitar demissões no setor.
"Pode ser um acordo de repercussão nacional e ser levado
a outras categorias. Além do mais, em todas as fábricas
você encontra gente que quer 10, 15, 20 ou 30 dias de férias",
disse Paulinho.
Indústrias
do setor de brinquedos, ótico e de artefatos de papelão,
que juntos empregam 60 mil em 1.100 empresas do Estado de São
Paulo, também já discutem o que fazer na prática
para cortar custos com as mudanças na lei.
Uma das medidas,
segundo a Folha apurou, é a implementação de
um "superbanco de horas". A idéia é deixar
os trabalhadores em casa durante períodos de até 90
dias nos meses de queda da produção - como janeiro,
fevereiro e março no caso das 330 indústrias paulistas
de brinquedos.
"É
inaceitável. O trabalhador fica em casa por 90 dias e depois
é escravizado?", diz a presidente do sindicato dos trabalhadores
nas indústrias paulistas de brinquedo (filiado à Força),
Maria Auxiliadora. Para ela, os acordos no setor têm de ser
por empresa. "Aceitamos licença remunerada e férias
na Estrela, neste ano, para evitar demissões. Isso só
pode ser negociado por empresa."
(Folha de S.
Paulo)
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Empresários dizem
que reforma da lei é tímida
Para a Fiesp
(Federação da Indústria do Estado de São
Paulo) e empresários ouvidos pela Folha, a negociação
de um acordo de flexibilização ainda é precipitada;
a reforma da CLT, tímida.
Nas indústrias
de eletroeletrônicos, um acordo nos moldes do negociado entre
Sindipeças e Força Sindical fracassaria, na avaliação
de Carlos de Paiva Lopes, presidente da Abinee (associação
das indústrias). "No nosso setor, 80% das empresas são
de médio e pequeno portes. Acordos como o de banco de horas
só funcionam se forem por empresa."
Para o diretor
da Fiesp e presidente do Sicetel (sindicato das indústrias
de trefilação), Nildo Mazini, a reforma da CLT ainda
é tímidas. "Temos interesse em discutir uma mudança
mais profunda na legislação. Hoje existe uma verdadeira
uma parafernália legal", diz. Um levantamento feito
por Mazini mostra que existem hoje 197 leis, 71 portarias, 361 decisões
do Tribunal Superior do Trabalho, além de 922 artigos da
CLT e 42 itens da Constituição para regular as relações
trabalhistas.
Na avaliação
de Mazini, não há sentido fazer um acordo de flexibilização
por setor. "Se por um lado você está engessado
pelas leis, por outro vai ter um contrato para limitá-lo
ainda mais?"
José
Pastore, especialista em relações trabalhistas, diz
que esse tipo de acordo se assemelha aos contratos de trabalho setoriais
adotados na Alemanha, Holanda, Itália e outros países
europeus. "Uma negociação como essa exige know-how.
E esse setor é sofisticado, sabe negociar. O que muda é
que os trabalhadores terão de ir à assembléia.
E as empresas terão ser mais transparentes." (CR)
(Folha de S.
Paulo)
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