Na sala
de aula, estudantes de apenas um curso. Na programação,
dezenas de disciplinas, cada uma com temas específicos.
Esse modelo tradicional de organização curricular
no ensino superior foi colocado de lado nas novas unidades
de universidades públicas de São Paulo -casos
da USP, da Unifesp (federal de São Paulo) e da UFABC
(federal do ABC).
Nos novos currículos, estudantes de diferentes carreiras
pesquisam juntos um mesmo assunto (USP Leste). Ou então
as cerca de 40 matérias de um curso como fisioterapia
são unidas em quatro grandes blocos (Unifesp).
Para especialistas, é uma tendência. "O
ensino tem de mudar, precisa tornar o estudante um buscador
do conhecimento", diz o pró-reitor de graduação
da Unifesp, Luiz Eugênio Mello. "Isso implica alterar
os cursos."
Diante dessa situação, o MEC quer até
mesmo incentivar financeiramente as universidades federais
a buscar essas mudanças.
Tal mecanismo está na proposta de reforma universitária
feita pela pasta, que está sendo analisada pela Casa
Civil. O documento diz que as federais com boa avaliação
institucional terão verba extra.
"A inovação será um dos fatores
analisados", diz o ministro Fernando Haddad. "Os
sistemas de educação precisam ser tão
diversos quanto possível, para que possamos aperfeiçoar
o ensino."
A legislação permite essa reorganização,
desde que os cursos tenham alguns conteúdos básicos,
definidos pelo MEC.
Modelos
Na USP Leste, o primeiro ano das dez carreiras foi construído
com base em uma atividade chamada resolução
de problemas, originalmente usada na área de saúde.
Nela, os 1.020 alunos, de cursos tão distintos quanto
marketing e obstetrícia, foram divididos em turmas
de 60. Cada grupo escolheu um tema para pesquisar.
O modelo foi aprovado por Mayra Cristiane Tofanetto, 19, da
carreira de gerontologia. "O aluno de um curso pôde
interagir com o de outro. Não nos prendemos a um universo
de conhecimento."
A resolução de problemas é uma das partes
do ciclo básico, pelo qual passam os alunos do primeiro
ano. As outras duas são formação introdutória
no campo específico (em que os alunos têm contato
com suas carreiras em si) e formação geral (aborda
fenômenos sociais, culturais e naturais), em que alunos
de diferentes cursos assistem às aulas juntos.
Já no campus da Unifesp na Baixada Santista, que começa
a funcionar neste ano, as disciplinas foram abolidas. Os currículos
dos cinco cursos (educação física, fisioterapia,
nutrição, psicologia e terapia ocupacional)
foram montados com quatro grandes blocos, chamados de eixos
temáticos.
Um bloco, por exemplo, abordará questões biológicas,
como genética e anatomia, enquanto outro tratará
de questões sociais, como antropologia e psicologia.
Os eixos permanecerão os mesmos até o final
do curso.
Esse modelo deverá ser levado aos novos campi da Unifesp,
em Diadema e Guarulhos, que começarão a funcionar
no segundo semestre ou em 2007. O pró-reitor de graduação
da Unifesp considera mais fácil reorganizar o currículo
em novas unidades. "Se a mudança ocorre no princípio,
não há rejeição. Mudar uma estrutura
sedimentada é muito difícil", diz Mello.
Na recém-criada UFABC, que começará a
funcionar em setembro, haverá um ciclo básico
de três anos -só no final é que o aluno
escolherá a carreira.
As informações são
da Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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