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fome zero
12/02/2004
Especialistas : economia adia promessa de Lula

SÃO PAULO. Será difícil para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprir a promessa de acabar com a fome em pouco tempo como anunciou anteontem. O principal entrave é sua própria política econômica. A opinião é do principal idealizador do Fome Zero, o professor Walter Belik, hoje da ONG Apoio Fome Zero, e é compartilhada por outros especialistas em segurança alimentar.

"Acho incompatível ampliar o combate à fome com o modelo econômico adotado. O governo optou por uma linha de baixa intervenção do Estado. Poderia optar por gastar mais (com o social) e investir menos no pagamento de juros", afirma Belik.

Investimento
O professor conta que quando o Fome Zero foi criado, estimava-se que seria necessário investir US$ 10 bilhões por ano só com políticas de transferência de renda para quem vive abaixo da linha da pobreza (menos de US$ 1 por dia):

"Quando fizemos o programa, calculamos que não seria necessário repetir este investimento todo ano, pois estaríamos abrindo um círculo vicioso. Acontece que o governo não tem os US$ 10 bilhões e fez a opção de manter a estabilidade econômica, cumprir seus compromissos (com o FMI) e cortar gastos sociais".

Mesmo assim, Belik faz uma análise positiva do Fome Zero e pondera que a sociedade civil ainda pode se mobilizar mais em favor do combate à miséria. Ele afirma que não imaginava que o programa tivesse respostas tão rápidas, tanto no plano nacional quanto no mundial:

"Hoje existe uma mobilização em cima do que antes era lançado para baixo do tapete. A fome está na pauta, inclusive das próximas eleiçõe".

Outra especialista em segurança alimentar, a epidemiologista Ana Maria Segall, que coordena uma pesquisa nacional sobre o tema para o IBGE, concorda com Belik.

"Lula expressou apenas um desejo. Mas se quiser mesmo realizá-lo, terá que mudar a linha econômica. Há uma dissociação no governo, é como se a política econômica trabalhasse contra as políticas sociais", avalia ela.

Segundo a especialista, a única fome que Lula pode realmente conseguir acabar em curto tempo é a emergencial, que atinge uma minoria.

"É preciso distribuir renda e fazer inclusão social. Isso não se faz em curto prazo, até porque o desemprego está se agravando", disse.

“É preciso saber de qual fome presidente fala”

Ana Maria concluiu recentemente uma pesquisa em Campinas, cidade de um milhão de habitantes. O levantamento indica que, ao contrário dos 50 mil estimados, 200 mil moradores sofrem com insegurança alimentar.

"É o adulto que deixa de comer para que o filho ou o neto comam e com um dinheiro que não é fixo. Isto é fome também. E há a criança que nada tem para comer em casa. É preciso saber de qual fome o presidente está falando", diz Ana Maria.

Cautela
Já o diretor executivo do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, mostrou-se mais cauteloso do que Lula ao comentar a expectativa sobre um prazo para erradicação da miséria. Em palestras a representantes de empresas privadas envolvidas em projetos de responsabilidade social, Itacarambi disse ontem que prefere não determinar tempo.


As informações são do jornal O Globo.

   
 
 
 

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