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12/03/2004
Política econômica não mudará, diz Lula

No mais forte discurso em defesa da política econômica do governo até agora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o país vai voltar a crescer neste ano e que a inflação está sob controle. Lula criticou ainda o aumento de preços para uma platéia formada por empresários e sindicalistas.

O presidente reconheceu também que os juros no país, hoje em 16,5% ao ano, estão altos, mas afirmou que são os menores juros reais em dez anos. Ao dizer que não discute se as críticas aos juros altos são "justas ou injustas", ele afirmou que eles se transformaram no "bode expiatório de todo o problema do governo".

Sem fazer referência direta ao ajuste fiscal, criticado até por governistas, Lula disse que, na política, vem tentando fazer aquilo que faz na vida pessoal: nunca gastar mais do que recebe.

O discurso de Lula, que durou 56 minutos, foi feito durante reunião do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), realizada ontem no Palácio do Planalto, para apresentação da política industrial do governo.
"Não há como a economia brasileira não crescer neste ano. Possivelmente não vai crescer o tanto que nós gostaríamos que ela cresça, mas vai crescer", disse Lula.

Seu discurso foi uma resposta às críticas à condução da política econômica feitas pela oposição, pelo PT e por membros do próprio governo. Críticas que aumentaram após a divulgação, no final de março, de que a economia brasileira encolheu 0,2% em 2003.

Lula reconheceu que a política econômica "certamente merece críticas", mas afirmou que não pretende alterá-la. Para justificar, usou uma metáfora: "Quando uma criança pequena tem crise de bronquite, você leva ao médico. Tem médico que a primeira coisa que faz é meter antibiótico no moleque. A criança fica com problemas causados pela enorme quantidade de antibióticos. Nós não teremos antibiótico".

Sobre a inflação, disse que "estamos mais próximos de atingir a meta de 5,5% de inflação do que em qualquer outro momento deste país". Com isso, deixou claro que não pretende alterar a meta de inflação, medida defendida por empresários e sindicalistas como forma de reduzir os juros.

Ao comentar medidas de estímulo à construção civil, anunciadas na semana passada, afirmou: "Teve gente que não gostou, mas também nem Jesus Cristo conseguiu unanimidade. Por que nós haveríamos de construir para cada coisa uma unanimidade? Vamos fazendo a arte do possível".

Ao defender a política econômica, Lula defendeu o trabalho do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Apesar de integrar o Conselhão, como é conhecido o CDES, ele não foi à reunião. A seguir, os principais trechos do discurso do presidente.

DEMORA - No início do discurso, Lula dirigiu-se aos que cobram crescimento econômico imediato. Disse que "fazer a coisa com seriedade leva mais tempo (...) Como nós não estamos pensando em fazer um programa para um governo ou um programa para uma eleição, não temos pressa de demorar um mês a mais ou dois meses a mais, de receber mais ou menos críticas. Queremos fazer as coisas com a solidez que uma nação precisa ter para que ela possa crescer de forma sustentável".

"PLANO LULA" - "Cada ministro da Fazenda que entrava inventava um plano, o seu plano, o seu nome, o seu sucesso", disse, citando planos feitos por outros governos. "Então, tomei a decisão: não é justo que inventemos o Plano Palocci, o Plano Lula ou um plano qualquer para ter sucesso de meio dia ou de meia hora. Porque depois alguém vai ter arcar com o prejuízo. E vai ser o próprio povo."

DESEMPREGO - O presidente também rebateu as críticas daqueles que cobram a criação de 10 milhões de empregos, prometida por ele durante a campanha presidencial. "Preparar o Brasil que queremos não é inventar como gerar emprego. O emprego que precisamos construir é um emprego sólido. E, para isso, resta a economia voltar a crescer. E vocês sabem que ela vai crescer."

TAXA DE JUROS - "Ela é alta mesmo, mas é a mais baixa dos últimos dez anos do ponto de vista dos juros reais [sem contar a inflação]. E ainda é alta", disse Lula. "Todo mundo reconhece, do mais simples mortal brasileiro ao mais importante dirigente do país, que as taxas de juros reais ainda são elevadas se comparadas às de outros países." Segundo ele, "qualquer investidor sabe que alguém que está aí oferecendo juros astronômicos é porque alguma coisa não está bem".

INFLAÇÃO - Lula fez uma provocação aos empresários que acompanhavam o discurso. Deu a entender que setores da economia seriam gananciosos e teriam sido os responsáveis pela retomada da inflação em janeiro. "Quem sabe fosse importante que o Conselho discutisse o que fazer quando um determinado setor da economia tem sede de ganhar mais, aproveitando o poder de compra de alguns segmentos e, em vez de vender mais, aumenta o preço."
Em seguida, lançou a pergunta: "Quais instrumentos vocês indicariam para o governo evitar que isso [aumento de preços] aconteça?". Dirigindo-se à platéia, integrada por empresários, ele respondeu: "Não conheço muitos. Um deles são os juros, mas o outro poderia ser a redução de alíquotas de importação daquele produto similar a zero. Aí [citando nomes de sindicalistas], iriam fazer passeata dizendo que isso estaria causando desemprego".
Em seguida, descartou o controle de preços como instrumento a ser usado para baixar a inflação: "Está provado que não dá certo".

META DE INFLAÇÃO - O presidente defendeu a meta de inflação deste ano, de 5,5%. "Mas aparece alguém e diz assim: "Por que 5,5%? Não pode ser 6%". Ora, quem quer que chegue aos 6% vai querer que chegue aos 7%. Sempre é possível 1% [sic] a mais. Nós poderemos até ter 1% a mais de inflação se não tivermos competência para cumprir aquilo que nós mesmos determinamos."
Ainda recorreu a uma metáfora para falar da meta de inflação: "É como uma criança que vai para a escola. Ela sabe que o mínimo é cinco e não estuda nunca para ter mais que cinco. Está sempre na rebarba. Chega ao fim do ano e fica para recuperação. Nós não queremos ficar para recuperação. Queremos controlar a inflação".


RICARDO WESTIN
da Folha de S. Paulo, enviado especial a Brasília

   
 
 
 

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