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mundo paralelo
16/05/2005

Cultura leva jovens aos morros

Tão perto geograficamente, tão longe economicamente. Numa cidade de extremos como o Rio de Janeiro, ainda há espaços de intersecção entre duas juventudes que são vizinhas, mas estão afastadas pelo abismo social.

A relação entre elas é marcada, em alguns casos, pela violência; em outros, desafia preconceitos e medos das duas partes.

O interesse por manifestações culturais "populares" (como rodas de choro, jongo ou bailes funk) é uma das principais formas de acesso dos jovens de classe média carioca ao mundo -desconhecido para a maioria- dos morros e do subúrbio.
Há casos de meninas de classe média que se apaixonam por jovens do tráfico e passam a viver em morros cariocas. Há outros, no entanto, menos relatados, de quem acha graça em todo esse medo de parte da classe média.

As irmãs Moline, 22, e Meline Aguiar, 20, moradoras de Copacabana, sobem três vezes por semana o morro do Cantagalo (que fica no mesmo bairro) para ter aulas de circo com moradores da favela em um espaço da ONG AfroReggae.
Elas passaram a freqüentar bailes funk também e dizem que a imagem desses bailes como locais perigosos para se divertir é, em parte, fruto da imaginação da classe média carioca.

"Já fui à Baroneti [boate da zona sul do Rio] e não volto mais lá. Os homens pisavam no meu pé e não pediam desculpas. Também já fui a baile funk no Scala [casa de espetáculos no Leblon] e os meninos lá ficavam sem camisa, parecendo se exibir para eles mesmos. No Pavão-Pavãozinho, os garotos pedem desculpas quando esbarram nas meninas", compara Moline.

Sua irmã concorda e diz que não é verdadeira a imagem de que, ao subir o morro para ir a bailes funk, a classe média fica exposta ao tráfico e às drogas.

"Essas meninas se apaixonaram por traficantes porque quiseram. Ninguém é obrigada. A gente vai ao baile funk para se divertir. É hipocrisia achar que só no morro há drogas. Em Ipanema, basta ter dinheiro no bolso para comprar maconha, mas não é isso que vai fazer um jovem fumar ou não", argumenta Melina.

As duas afirmam que foram muito bem recebidas pelos colegas de aula no AfroReggae, mas temem que a recíproca não seja verdadeira quando Melina convidar seus amigos do Cantagalo para freqüentar locais da classe média na zona sul.

A pesquisadora da Fiocruz Fátima Cecchetto, autora do livro "Violência e Estilos de Masculinidade", concorda com as irmãs Moline e Meline.

"Há espaços onde a classe média convive com a juventude mais pobre. No entanto, essa via não é de mão dupla. A classe média consegue freqüentar um baile funk, mas é mais difícil para um jovem pobre freqüentar os espaços da classe média."

Para a antropóloga Alba Zaluar, coordenadora do Núcleo de Pesquisa das Violências da UERJ, a geografia carioca facilita a sociabilização, mas isso não significa que as relações sejam sempre tranqüilas. "Essa dificuldade pode ser superada pelo diálogo", diz Zaluar.

ANTÔNIO GOIS
RAFAEL CARIELLO
da Folha de S. Paulo

   
 
 
 

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