Erika
Vieira
A Universidade de São Paulo (USP) implantou o curso
de Magistério Intercultural Superior Indígena,
primeiro ensino superior voltado à comunidade indígena
na região sudeste do país. Os estudantes terão
formação de licenciatura plena em pedagogia,
voltada para o ensino infantil e fundamental.
São 81 alunos cursando, sendo que 21 têm formação
no ensino médio e 60 no magistério indígena
(habilitados a lecionar de 1º a 4º série)
também coordenado pela USP em 2002 e 2003. Eles já
atuam dentro da sala de aula educando 1.026 jovens indígenas.
Os participantes são das etnias guarani, tupi-guarani,
kaingang, terena e krenak.
Membros de 28 aldeias (com aproximadamente 4.000 habitantes)
localizadas nos municípios de Bertioga, Peruíbe,
Itanhaém, Mongaguá, Ubatuba, Avaí, Baraúna,
Arco-Íris, Itariri, Iguape, Cananéia, Pariquera-Açú,
Sete Barras e São Paulo.
“Esse curso vai dar mais poder político aos indígenas,
porque assim eles vão poder assumir a diretoria e a
coordenação pedagógica da escola”,
explica a coordenadora responsável Maria do Carmo Santos
Domite, professora doutora da Faculdade de Educação
da USP. Ela ainda conta que já existem indígenas
pensando no sistema educacional Brasileiro, como no Mato Grosso,
por exemplo, onde há a Universidade Indígena
Barra dos Bugre, voltada á esse público.
A metodologia de ensino adotada pela USP recupera a língua
de cada comunidade, muita já esquecida pelas gerações
mais novas. Todas as disciplinas são desenvolvidas
a partir de noções do saber indígena.Um
exemplo é o caso da matemática, adaptada para
usar o padrão de medidas usado por eles. As aulas são
dadas durante uma semana na universidade e nas seguintes três
semanas mensais nas comunidades. A elaboração
da grade curricular foi elaborada com a participação
de Ubiratan D`Ambrosio, professor emérito de matemática
da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), estudioso
da etnomatemática, isto é, aborda a matématica
pelo aspecto histórico-cultural.
Diversidade é o ponto central do curso, fala a professora.
Por isso, serão dadas aulas de cerâmica, dança,
música e outras artes típicas. Também
terá a presença de idosos (das aldeias) palestrantes,
a fim de passar conhecimento. Todas as matérias trabalham
com a fusão de culturas.
Para o guarani Joel Augusto Martin Karai Miri, 35 anos, da
aldeia do Jaraguá essa iniciativa da universidade representa
a abertura de portas profissionais, pois a delegacia de ensino
não permite mais que lecione professor sem nível
superior. Além de aumentar a perspectiva de aprendizado
da aldeia, diz ele. Joel conta que a escola de sua comunidade
possui 70 alunos aprendendo português e tupi.
A graduação começou em junho e durará
três anos, divididos em sete módulos nos quais
haverá um intercâmbio entre aulas nas aldeias
e na Faculdade de Educação. A conclusão
será com um estágio nas aldeias e na Escola
de Aplicação da USP. ”Quando se conhece
outra realidade, um ambiente de uma outra cultura que não
é a sua você aprende muito”, declara Joel.
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