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ESperança
27 /05/2004
Corrida é uma luz para o futuro

Mais do que a falta de luz, que foi cortada, o que mais chama atenção na casa de alvenaria inacabada da família Etchechury, no bairro Cohab, Zona Norte de Porto Alegre, são as mais de 700 medalhas e troféus. Estão expostos em estante, paredes e em pedaços de madeira pendurados no teto. Ruann, 16, Ioran, 12 e Katalícia, nove anos, corredores como a mãe Míriam, são os donos das medalhas. Domingo, os três irmãos estarão no Parcão, porque apostam no esporte como forma de ter uma vida melhor.

O início remete a 1997, quando Jorge, pai dos meninos, fez o primogênito participar da Maratoninha em homenagem ao avô atleta. O garoto começou a treinar dando 10 voltas em torno da quadra onde mora. Fazia quatro quilômetros diários. Como o percurso da prova é de três quilômetros, Jorge utilizou o tempo de um profissional nos 3.000m com barreiras para orientar o filho.

"Pensei: se um adulto faz este tempo com obstáculos, o Ruann vai fazer a mesma marca brincando", relembra o pai, que trabalha com reciclagem.

Ruann ficou em quarto lugar na Maratoninha da sua categoria naquele ano, porém não parou de praticar. Com uma carta de recomendação, entrou na Sogipa. De lá para cá, disputou campeonatos estaduais, nacionais e sul-americanos. Conheceu lugares que nunca imaginou e andou de avião. Ano passado, foi o primeiro lugar geral da Maratoninha.

"Ganhei no dia do aniversário do meu pai. Foi o presente dele", lembra o atleta, que este ano disputará a Rústica.

A trajetória do mais velho fez Jorge incentivar os filhos menores. A mãe Míriam, autônoma, acompanhou por um tempo as crianças e a família passou a viver o esporte. Nem as dificuldades financeiras impediram a prática.

"Muitas vezes saíamos de casa para competir só com dinheiro para a passagem de ônibus. No outro dia nem leite tínhamos em casa. Mas nunca desistimos ", conta Jorge.

Ioran e Katalícia ainda sofreram com problemas de saúde. O garoto de 12 anos ficou três meses no hospital por causa de uma doença rara e teve de amputar o baço. A menina queimou a perna com álcool ao brincar com uma amiga e ficou seis meses sem correr. Recuperados, nenhum dos dois planeja o futuro, mas ambos têm a mesma resposta quando dizem como se divertem:

"Correndo".

Acompanhando o empenho dos filhos, Míriam espera que todos participem da maior competição esportiva do mundo.

" O sonho é que eles estejam um dia numa olimpíada", torce.

 

GUILHERME FISTER
do Zero Hora

   
 
 
 

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