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SÓ SÃO PAULO
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20/11/2003
Livro vai mostrar a vila de S. Paulo

Debruçado sobre uma ilustração do início do século 17, o professor Nestor Goulart Reis Filho ajeita os óculos, aponta para a pequena construção no alto da colina e diz: “Aqui está a igreja, exatamente como ela foi construída pelos jesuítas.”

Satisfeito, explica que a imagem preenche uma importante lacuna na história de São Paulo só agora desvendada. “Foi a primeira construção em taipa da vila, o marco zero da urbanização.”

Ailustração foi feita por volta de 1608 e a construção substituiu a capela de palha erguida pelos jesuítas na fundação de São Paulo, em 1554. “Não sabíamos como era essa igreja de taipa com seus detalhes”, diz Reis Filho, lembrando que
a igreja que conhecemos, a do Pátio do Colégio, é uma cópia da que foi erguida muito tempo depois, no século 18.

O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) fala, com empolgação, dessa e de outras descobertas que fazem parte de São Paulo: Vila, Cidade, Metrópole. O livro será lançado nos 450 anos da cidade. Fugindo do convencional, faz uma releitura das transformações urbanas ocorridas ao longo dos séculos a partir de mapas antigos, desenhos e fotografias, muitos inéditos.

Pelo livro, São Paulo revela-se enigmática. Em 1560, quando foi elevada pela coroa portuguesa à categoria de vila, a atual metrópole era tão pequena, mas tão pequena, que sua população à época era estimada em 60 pessoas – 30 portugueses e 30 mamelucos. “Não é uma história de bandeirantes, jesuítas ou imigrantes. É a história da própria cidade.”

Na análise de mapas e plantas da cidade do século 17, Reis Filho fez descobertas surpreendentes. Livros de história afirmam que São Paulo não passava de uma vila precária, isolada do mundo no meio do sertão e com habitantes toscos. Só que não era bem assim. Naquela época, as suas ruas principais já eram traçadas com rigor técnico.

“Havia na cidade pelo menos um ou dois profissionais gabaritados em arquitetura e urbanismo para traçar ruas retas”, explica. E esses profissionais não eram simples curiosos, mas engenheiros militares que vinham da Europa para a Colônia
com formação em arquitetura militar.

Reis Filho dedicou anos de estudo para analisar atas da Câmara Municipal, livros e cruzar informações das mais variadas fontes. Às vezes tinha-se a imagem, mas não os dados. E vice-versa. Na Europa, o pesquisador garimpou imagens e documentos guardados em museus e instituições européias. Com isso, identificou e datou os desenhos, muitos de autores desconhecidos. “É como trabalhar com um vaso quebrado. A partir de uma peça vamos juntando com outras e tentamos
reconstituir todo o conjunto.”

São cerca de 200 ilustrações distribuídas em 250 páginas. Os capítulos foram divididos de acordo com a evolução cronológica, partindo da construção da vila – entre 1554 e 1600 – chegando até os dias atuais, em que é feita uma reflexão
sobre a região metropolitana e o cenário da cidade em 2004. Além de documentos
oficiais, há também belas imagens pintadas por viajantes de passagem por São Paulo, como do artista francês Jean-Baptiste Debret ou do autríaco Thomas Ender.

A obra será útil para pesquisadores, mas também para mostrar ao paulistano aspectos da cidade que ele próprio desconhece. Um de seus cuidados foi relacionar locais descritos em plantas antigas com o nome atual dos logradouros.

Surgem aí histórias curiosas. Por exemplo, o Beco do Pinto, que ligava o Pátio
do Colégio ao Rio Tamanduateí, onde se buscava boa parte da água consumida na vila nos primeiros séculos. O pequeno beco existe até hoje, mas está fechado por um portão que fica na Rua Roberto Simonsen, ao lado da casa da Marquesa de Santos.

E é justamente para o paulistano que vive hoje na metrópole que Reis Filho manda um recado no prefácio: “Sendo as imagens belas, poderá o leitor esquecer alguns dos aspectos menos atraentes da cidade e se envolver com a sedução de suas constantes transformações.”

Idéia
Corria o ano de 1954 e São Paulo estava em festa por causa do 4.º Centenário. Em uma conversa com alunos na FAU, o então diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em São Paulo, Luiz Saia, comentou que, por causa da ausência de documentação, não havia esperança de saber como realmente era a arquitetura e o urbanismo da origem da cidade.

Coube ao então aluno da universidade Reis Filho preencher essa lacuna, 50 anos depois. Ele lembra que, em 1954, um álbum com as plantas da cidade lançado para a festa dos 400 anos reunia 11 desenhos, sendo que o mais antigo era de 1810. Agora, foram identificados 12 documentos do período colonial. O livro, aprovado pela Lei Rouanet, já está sendo analisado pela Edusp e fará parte do cronograma de comemorações da universidade e da Prefeitura para os 450 anos.

Por se tratar de uma obra cara para a publicação, ele espera parcerias com a iniciativa privada.



Marcus Lopes,
do O Estado de S.Paulo.

 
 
 

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