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05/02/2004
HC quer deixar de atender casos simples

O maior hospital da América Latina, o Hospital das Clínicas de São Paulo, quer eliminar os atendimentos de casos simples.

A idéia, que a superintendência planeja implantar neste mês, é acabar, primeiro, com a possibilidade de os próprios pacientes marcarem suas consultas pelo telefone. Os agendamentos só serão feitos via postos de saúde. O hospital realiza 1,5 milhão de atendimentos ambulatoriais por ano.

Há alguns anos, a fila das consultas ficava na calçada da unidade, na zona oeste de São Paulo. Depois, o agendamento passou a ser feito por telefone. No futuro, o número será extinto e haverá uma linha só para que os postos de saúde façam a marcação. A proposta é que mandem ao HC somente casos graves, como uma suspeita de câncer.

Um total de 20 mil ligações diárias, de pessoas em busca de uma consulta, sobrecarregam as linhas telefônicas do hospital.

O HC, vinculado à Faculdade de Medicina da USP, é certamente um dos maiores "funis" da saúde pública do país.

Do total de ligações, 5% são completadas. Dessas, apenas 1% conseguem uma vaga. Apenas dez, portanto, resultam em agendamento de consulta, muitas vezes para muitos meses à frente. E quem consegue ainda tem de enfrentar problemas dentro do hospital.

Segundo Waldemir Rezende, diretor-executivo do Instituto Central do HC, clínicas como as de ginecologia, urologia e endocrinologia já estão sobrecarregadas, principalmente de casos que poderiam ser atendidos nos postos de saúde. As consultas são marcadas para dali a seis meses ou mais. "Estou esgotando tudo com o atendimento primário. A mulher vem colher um papanicolao [exame ginecológico básico], quando temos casos de câncer na fila." Para ele, as mudanças melhorarão o atendimento geral.

Como é o próprio paciente que marca a consulta, muitas vezes há ainda erros no encaminhamento, que também engordam a fila, diz. Exemplo: o doente agenda um dermatologista quando deveria ser atendido pelo clínico-geral.

A situação, afirma Rezende, reflete a desorganização da rede. O hospital, de nível terciário, que deveria atender somente casos graves, tornou-se um grande posto de saúde, resume.

Prefeitura
A proposta poderá encontrar obstáculo na prefeitura, gestora da rede. A Secretaria da Saúde, procurada para informar se os postos terão condições de fazer os encaminhamentos ao hospital, informou que "não foi informada" da intenção do HC, subordinado à secretaria estadual, de fazer a alteração já. Disse que "existem conversas". A mudança deve acontecer, segundo a secretaria, mas não tem prazo.

O hospital planeja a mudança no atendimento há um ano, diz o superintendente do HC, José Manoel de Camargo Teixeira, e várias reuniões foram realizadas com a prefeitura. Segundo Teixeira, o hospital tem autonomia para mudar a forma de agendamento. "Mas não é intenção fazer nada de forma isolada. Queremos o melhor para o paciente." Serão realizadas novas reuniões com a prefeitura para tentar acertar a mudança para este mês, diz.

"Não é melhor o município e o Estado se organizarem, de forma adequada? Ou vamos deixar a situação atual?", diz Rezende, que destaca que a idéia da mudança segue os princípios de hierarquização e regionalização do SUS (Sistema Único de Saúde).

Para Paulo Eduardo Elias, professor de medicina preventiva da Faculdade de Medicina da USP, o ideal seria colocar os grandes hospitais como organizadores da rede de saúde, idéia de Eduardo Jorge, ex-secretário municipal.

"Quando recebesse um paciente que poderia ser atendido num hospital local, o HC entraria em contato com esse hospital e agendaria uma consulta", diz Elias. "O hospital seria responsável ainda pelos postos do seu círculo."

Caberia ao Estado e ao município, afirma, uma campanha para que os pacientes procurassem primeiro os postos de saúde.

Tal mudança implicaria equipar e garantir médicos para aquelas unidades, de tal forma que a população voltasse a confiar no posto de saúde. "A população sabe bem o que faz. Só vai a lugares em que será atendida."

"Há muito tempo o hospital já faz uma retração das consultas", diz Evelin Castro Sá, professora aposentada de políticas de planejamento e administração de saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP. "O que precisa é reforçar o atendimento básico."


FABIANE LEITE
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S. Paulo

 
 
 

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