SÓ SÃO PAULO
HOME | NOTÍCIAS | COLUNAS | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
projeto ousadoa
23/05/2005
O teatro já foi a você?
 

A platéia não é das mais disciplinadas; entra e sai no meio do espetáculo. O celular toca, a turma do fundão grita, os namorados ali no canto conversam. Uma cena de seminudez provoca histeria nada usual. A sala de aula se transporta para o teatro, assim como o teatro se transporta para a sala de aula. O projeto Teatro nas Universidades começou no mês passado a percorrer as instituições de ensino superior da capital e Grande São Paulo com uma peça escrita durante a ditadura militar. Serão 80 apresentações em oito meses e cerca de 40 mil estudantes na platéia. "Se a gente conseguir conquistar dez em cada cem jovens, já fico satisfeita", diz a atriz Nicete Bruno, idealizadora do projeto.

O tema central da montagem Liberdade, Liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, é obviamente a liberdade - ou a falta dela - durante a história da humanidade. Sócrates, Revolução Francesa, Guerra Civil Espanhola, Hitler e 11 de Setembro aparecem no roteiro. "Liberdade é poder ir embora se quiser", diz, no fim da peça, no microfone, o ator Tadeu Di Pyetro, um dos responsáveis pelo projeto. É dia de futebol na TV e muitos alunos da Universidade Paulista (Unip) se apressam para sair do teatro quando descem as cortinas.

Pyetro inicia um debate - que se repete ao fim de cada encenação com as presenças de um professor da faculdade e de um profissional de teatro - para discutir a peça a que acabaram de assistir. Alguns dão um passo para trás, sentam-se de novo. "Eu queria saber como era não ter liberdade para fazer nada na época da ditadura", diz um estudante lá da frente.

No meio da discussão, Pyetro questiona: quem aqui nunca foi ao teatro? Meia dúzia em 500 se arriscam a levantar a mão. Pesquisas que ajudaram a alavancar o projeto, no entanto, mostram que 62% dos jovens nunca foram. É a velha história da montanha que vai a Maomé.

Fabio Ferreira de Jesus, de 25 anos, aluno do primeiro ano de Publicidade, escuta atento. Preenche o papelzinho dado pelo professor para comentários sobre a peça. Não respondeu à pergunta de Pyetro, mas à reportagem diz que era sua primeira vez. "Vim para conhecer o teatro", diz, tímido. "Percebi que só se consegue a liberdade por meio de lutas", analisa. "Tem música, não é aquela coisa chata, parada", completa o colega Rodolfo Neves, de 18 anos. Na fila, antes do espetáculo, ele e os amigos se preocupavam em ganhar os dois pontos prometidos pela faculdade para quem participasse da chamada atividade complementar.

"Só queremos seus alunos"
A negociação com as instituições começou no início do ano e nem sempre as respostas à abordagem dos organizadores do projeto foram positivas. "Eles perguntavam: quanto temos de pagar? O que temos de fazer? ", conta Pyetro. "Nada, só queremos seus alunos", era a resposta.

O espetáculo é apresentado de graça nos teatros - muitas vezes ociosos - das faculdades, às 19h30. São quatro atores, entre eles o veterano Renato Borghi, e um cantor e compositor no elenco. A equipe toda tem mais de 20 pessoas. Segundo eles, em 90% das instituições, as instalações são precárias e precisam ser adaptadas para receber o projeto.

Juntar teatro e educação é um sonho antigo do casal Paulo Goulart e Nicete Bruno. Faltava quem bancasse. Em um dos eventos em comemoração aos 450 anos de São Paulo, em 2004, o ator lançou a idéia e a platéia de reitores e empresários aplaudiu.

"Isso sim é investir em educação", saiu repetindo, em busca de patrocínio, o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, antigo conhecido do casal. O projeto hoje é financiado pelo banco Santander Banespa, pela Gerdau e pela Companhia Brasileira de Alumínio, do Grupo Votorantim. "Ele resgata o papel do teatro como instigador", diz a superintendente de Relações Institucionais do Santander, Maria Beatriz Brandão Aguirre.

"Não vou muito ao teatro porque é caro", justifica a aluna de Jornalismo da Universidade São Judas Elisabeth Barbosa. O projeto já passou, além da São Judas, pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Belas Artes e Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), onde houve até falsificação de ingresso para garantir um lugar na platéia. Nicete acha que, fora a falta de hábito dos universitários, o problema é que se faz pouco teatro para jovens atualmente, só há peças infantis ou adultas.

Liberdade, Liberdade foi encenada pela primeira vez em 1965 para jovens diferentes dos de hoje, afoitos por arte e cansados de repressão. O texto metaforizava a ditadura de então. Em tempos de democracia, vê-se uma peça quase didática, que relata fatos da história, dá os nomes dos protagonistas, conta o que aconteceu depois do momento encenado. Os estudantes saem com a sensação de terem aprendido alguma coisa, além da diversão e da reflexão. "A peça explica. Por isso se presta primorosamente ao projeto nas universidades", diz a diretora da montagem atual, Cibele Forjaz.

Até o fim de junho, o teatro vai chegar à Universidade Estadual Paulista (Unesp) e à Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), entre outras (ver calendário ao lado). No segundo semestre, uma nova montagem, escrita especialmente para o projeto pelo dramaturgo José Antônio de Souza, percorre a cidade. O nome é Sossego e Turbulência no Coração de Hortência e conta a história de uma mesma jovem no século 19 e no século 21. A agenda de universidades ainda não está fechada.

RENATA CAFARDO
do O Estado de S. Paulo

notícias ANTERIOREs:
20/05/2005 SP terá mercado de área de reflorestamento
20/05/2005 Campanha do Agasalho tem caixas para doações em Metrô
19/05/2005 OAB lança campanha contra abuso sexual
19/05/2005 Mais de 80% dos alunos da 8ª série consomem bebida alcoólica
16/05/2005 Educador é quem mais se demite na Febem
10/05/2005 Prefeitura de São Paulo lança Atlas da Saúde
10/05/2005 Rede municipal abre escolas para semana de saúde
06/05/2005 Serra vai "terceirizar" 30 unidades de saúde
06/05/2005 Cursos gratuitos em SP discutem o Brasil no mundo globalizado
04/05/2005 SP comemora dia do pau-brasil com plantio de mudas