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28/04/2005
Dezesseis escolas de São Paulo têm 36% das vagas de "elite" da USP
 

Pesquisa realizada pelo Datafolha entre os alunos ingressantes nos 18 cursos mais concorridos da USP mostra: somados, os egressos de apenas 16 colégios (de um universo de 1.164 na cidade de São Paulo) conquistaram 36% das vagas. Dito de outra forma, 1,3% de todas as escolas da cidade respondem pela formação em nível médio de 36% dos novos alunos do olimpo uspiano.

Campeão de aprovação, o Colégio Bandeirantes está no histórico escolar de 8% dos ingressantes nos cursos mais concorridos da USP em 2005. Vice, o Etapa conta com 5% dos calouros. O bronze vai para o Objetivo, com 4%.

As ilhas de excelência entre os colégios gratuitos são as Escolas Técnicas Estaduais e o Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo, o Cefet. O Liceu de Artes e Ofícios, sem ser uma escola pública (é mantido com os lucros da fábrica LAO, de Osasco), tem turmas de alunos pagantes e outras de não-pagantes.

Quatro escolas mantidas por ordens religiosas católicas despontam entre as 16 que conquistaram mais vagas nos cursos superdisputados da USP: Santa Cruz, Agostiniano Mendel, Arquidiocesano e São Luís. São colégios que andam na contramão da crise que se abateu sobre o ensino religioso.

Segundo estimativa da Associação Nacional de Mantenedoras de Escolas Católicas do Brasil, existem 1.750 colégios católicos, dos quais 900 oferecendo ensino médio. Já foi bem mais. O secretário executivo da associação, Eurico Borba, calcula que, por ano, três escolas católicas encerrem suas atividades, os estudantes migrando para outros estabelecimentos.

A Anamec constatou que muito dessa migração deve-se à busca, pelos pais dos estudantes, de escolas que, acreditam eles, preparará melhor seus filhos para o vestibular. "Mas o ótimo resultado desses quatro colégios dá-nos a certeza de que é possível reverter esse cenário, desde que consigamos levar mais alunos à faculdade ao mesmo tempo que lhes damos uma sólida formação moral", diz Eurico Borba.

A melhor do Brasil
São muitos os quesitos a serem observados na escolha de uma escola para os filhos, mas certamente um deles é a qualidade do preparo para o vestibular que ela proporciona. No último concurso para ingresso na USP, 154.514 jovens inscreveram-se para disputar as 9.677 vagas oferecidas. Cada aprovado teve, portanto, de deixar para trás uma média de 15 colegas.

A atração que a USP exerce sobre os formandos do ensino médio explica-se por números vistosos. A universidade responde pela formação de um em cada três doutores no Brasil. É a 27ª entre as 5.000 melhores universidades do mundo em produção de artigos científicos, e a melhor do Brasil. Um terço de toda a produção científica brasileira sai de suas mais de 40 faculdades. O currículo de ex-uspiano conta pontos na hora de disputar um emprego.

Se a concorrência já é acirrada quando se toma a USP como um todo, fica ainda pior quando se põe a lupa sobre aqueles cursos de maior prestígio, ou que dão mais garantias de empregabilidade, com remunerações elevadas.

Um calouro de medicina deste ano teve, por exemplo, de suplantar 30 outros candidatos. Em jornalismo, conseguiu matrícula quem derrotou 44,55 colegas. Em Publicidade e Propaganda, cada novo calouro teve de liqüidar com as esperanças de 51,76 candidatos.

Como foi feita a pesquisa
Para escolher os cursos mais exigentes em relação à formação do calouro, o Datafolha buscou aqueles em que a nota mínima necessária para o candidato passar à segunda fase foi mais alta. Em medicina, o candidato teve de acertar no mínimo 81 questões de um total de 99 válidas (uma foi anulada) para ir à segunda fase.

Aos ingressantes, perguntou-se no ato da matrícula, ocorrida nos dias 14, 15, 21 e 28 de fevereiro: "Qual o nome da escola onde você fez o 3º ano do 2º grau ou ensino médio?" Foram entrevistados 2.021 estudantes aprovados.

A margem de erro máxima para o total da amostra é de um ponto percentual para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%. Isso significa que, se fossem realizados 100 levantamentos com a mesma metodologia, em 95 os resultados estariam dentro da margem de erro prevista.

Dos 16 colégios que conquistaram mais vagas nos cursos hiperconcorridos, 12 são pagos. Três são gratuitos e um tem turmas de pagantes e não-pagantes.

As escolas campeãs sabem que a matrícula em um dos cursos mais concorridos da USP requer do candidato bem mais do que inteligência. É preciso, por exemplo, fazer cálculos estequiométricos precisos. Necessário dominar as leis de Kirchoff tanto quanto a lírica trovadoresca ou a composição étnica da Indonésia. Ter intimidade com um "g" que, no caso, só significa a aceleração da gravidade. É imprescindível estudar. E muito.

Overdose de estudo
Em comum, as escolas que mais aprovam têm cargas horárias puxadas (mais de 1.200 horas-aula por ano). Para efeito de comparação, as escolas públicas regulares (não-técnicas), oferecem apenas 720 horas-aula anuais, 40% menos do que as campeãs.

Ao fim dos 11 anos regulares de ensino básico, o jovem oriundo de bons colégios contabilizará pelo menos 3.960 horas de aulas a mais do que aquele que freqüenta a escola pública. Isso equivale a fazer quatro vezes um cursinho pré-vestibular extensivo.

"Estudar mais é necessário e faz diferença na hora de enfrentar o vestibular", explica a educadora Sônia Teresinha de Sousa Penin, pró-reitora de Graduação da USP.

Além das aulas regulares, as escolas que mais aprovam colocam à disposição de seus alunos um sem-número de atividades extracurriculares, como aulas especiais para quem pretende disputar uma vaga em medicina, ou em engenharia, ou na Fundação Getúlio Vargas. Têm também laboratórios de redação, aulas de atualidades a partir da leitura de jornais e revistas, plantões de dúvidas, simulados.

Custa caro. Nas escolas particulares recordistas em aprovação, a mensalidade mais barata sai por R$ 625, a do Colégio Agostiniano Mendel. Mas chega a R$ 1.520 no Colégio Palmares. Sem contar internet, livros, papelaria, viagens de estudos, transporte, dinheiro para alimentação durante a jornada letivas (para ficar apenas nos gastos diretamente ligados à vida escolar), o investimento familiar necessário para sustentar o filho em um desses colégios durante apenas três anos escolares pode chegar a R$ 60 mil. É para poucos.

LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S. Paulo

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