Depois
de ser tomado por tropas indonésias na época do referendo
pela independência do país, o Timor Leste ainda se
recupera de um rastro de destruição: toda a sua literatura
foi destruída, segundo o bispo Ximenes Belo, de Dili, capital
timorense.
Ele
participou na manhã de sexta-feira (28) de uma entrevista
coletiva com a imprensa na abertura oficial da 16ª Bienal Internacional
do Livro de São Paulo.
Prêmio
Nobel da Paz em 1996, Ximenes disse que foi convidado pelos organizadores
e que veio a São Paulo para falar sobre a paz. O Timor passa
por uma fase lenta de reconstrução e toda a literatura
do país foi destruída pela invasão da Indonésia,
no ano passado.
Segundo
ele, não há tradição literária
no Timor. Todo o acervo literário e escolas foram arrasados,
afirmou Ximenes, lembrando que a produção nunca foi
grande. Livros, arquivos e nossa história foram queimados.
Não restou nada.
Aulas
no chão
Com
o problema das escolas, os alunos vêm assistindo a aulas sentados
no chão ou embaixo de árvores. Os escritores são
poucos e vivem fora do país. Ximenes destacou Fernando Silvan,
que mora em Lisboa (Portugal) e publicou algumas obras de poesia
e prosa, e Luiz Godinho, autor de alguns romances, entre outros
nomes. Mas não me recordo dos títulos agora.
Mas,
dessa forma, não existe mais cultura no Timor? Ximenes diz
que na escrita, sim, mas que as tradições da oralidade
se mantêm fortes, deixando a tradição do país
viver. Nos nossos cantos, danças que continuam sendo
passados de geração para geração pelos
indígenas, nas tribos, disse.
Em
1999, Belo lançou em Portugal o livro “O Credo de nossa Fé”. Ele
disse que não lê literatura brasileira por falta de
tempo. Como estudou em Portugal, durante a época de seminário,
ele conhece Jorge Amado, principalmente pelas novelas da Rede Globo
exibidas pela RTP (Rádio e Televisão Portuguesas).
Ximenes
Belo estará na solenidade oficial de abertura da bienal,
às 18h de sexta-feira, em São Paulo. O ministro da
Educação do Brasil, Paulo Renato Souza, também
estará no local.
O
bispo Ximenes Belo foi obrigado a deixar sua casa, em Dili, atacada
e incendiada por grupos antiindependência, na época
antes do referendo que definiu a independência do país.
Ele se refugiou em Baucau (Timor Leste) e na Austrália antes
de ir a Portugal pedir ajuda.
Nascido
na cidade de Baucau, ele ordenou-se sacerdote em 1980 em Lisboa.
Um ano depois, voltou para sua terra natal, logo se destacando na
defesa dos direitos humanos e da não-violência. Além
da oposição à ocupação militar
indonésia, apoiou as ações armadas da Frente
Timorense de Libertação Nacional (Fretilin).
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