I
- Apresentação
Milton Santos e Hobsbawn discutem
a globalização em ensaios
VINICIUS MOTA
da Folha de S. Paulo
Passa por uma
prova de fogo o discurso sobre a globalização. Chegou
o momento da revisão de um viés desse ideário
que predominava recentemente, segundo o qual a globalização
é unívoca, inevitável e boa. Alguns ensaios
a serem lançados na Bienal do Livro podem atestar essa onda
feroz de reavaliação que estará à disposição
do leitor brasileiro.
O
geógrafo e professor emérito da USP Milton Santos,
que escreve periodicamente na Folha, emplaca dois lançamentos
sobre o assunto: "Globalização e Sociedade"
(editora Fundação Perseu Abramo) e "Por uma Outra
Globalização" (Record).
O
intelectual brasileiro não está sozinho na lista dos
que mantêm uma postura crítica aos termos em que o
debate foi colocado, especialmente no início dos anos 90.
No campo das traduções, destaca-se "O Novo Século"
(Companhia das Letras), do historiador inglês Eric J. Hobsbawm.
O
remanescente de uma escola britânica de alta estirpe, que
contou com E.P. Thompson e Christopher Hill, dá sequência
a "Era dos Extremos" -um estudo de fôlego sobre
o século 20. Mas desta vez Hobsbawm entra em um campo nem
sempre afeito ao historiador: a especulação sobre
o limiar de nosso presente histórico.
Também
não poderia faltar entre os autores dispostos a reescrever
a história e a teoria da "globalização"
o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. "A
Crítica da Razão Indolente" (Cortez) é
seu mais novo livro a desembarcar por aqui.
Nem
tudo são flores para os críticos do paradigma global.
Na Bienal será lançado "A Grande Ruptura",
do ensaísta americano Francis Fukuyama, o mesmo que, no momento
em que ruíam os regimes socialistas, ficou mundialmente conhecido
por afirmar que a história chegara ao fim.
Mas
até o folclórico Fukuyama reconhece, no novo livro,
que processos bons como o alastramento do modelo liberal têm
lá as suas intempéries, seus desvios momentâneos
de percurso.
Mais
delicadeza
Há
outros lançamentos, como "Fábulas de Identidade"
(editora Nova Alexandria), do crítico literário canadense
Northrop Frye. O autor do já clássico "Anatomia
da Crítica" faz uma larga digressão sobre temas
como a narrativa e a mitologia. Em primeira mão, o caderno
Mais! publicou em março um trecho da nova tradução.
Para
além desses destaques, a bienal trará outras boas
traduções e publicações originais que
ajudarão a difundir e incrementar importantes discussões
no campo do pensamento e da crítica.
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