Saint
Laurent
por Tom Ford
A
estréia do estilista da Gucci na maison YSL foi o desfile mais
esperado da estação
DA
ENVIADA ESPECIAL
Associated
Press
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Look
em preto de Tom Ford para sua estréia no prêt-à-porter
da maison Yves Saint Laurent |
Yves
Saint Laurent é o maior nome vivo da moda. Sua influência
e penetração vêm desde os anos 60, quando lançou
peças históricas como a coleção Mondrian
ou a saariana e plantou os valores dos prêt-à-porter. Nos
70, definiu _e não redefiniu, atenção_ os contornos
da androginia, instalando o masculino-feminino com o look smoking, propondo
mulheres de desafiadora atitude (de calças compridas, as garotas
de então encontravam problemas até mesmo ao entrar em
restaurantes, hotéis). Nos 80, consolidou a feminilidade e a
figura do estilista como condutor do imaginário do mundo, tomando
conta dele com perfumes, acessórios e licenciamentos e, ao longo
dos 90, continuou seduzindo com seus clássicos vestidos de noite
pretos e suas noivas. Clássico? O francês Saint
Laurent é certamente um clássico.
Tom Ford é o homem que revolucionou a moda nos anos 90, renovando
o conceito de marketing à frente da marca de sapatos e bolsas
Gucci. Norte-americano, nascido no Texas, Ford queria ser ator. Na empresa
italiana, acumulou as funções de estilista e diretor criativo,
inaugurando padrões estéticos e fazendo explodir no mundo
o desejo de possuir não apenas sapatos e bolsas, mas perfumes,
roupas. Até coleiras e caminhas de cachorro, roupinhas de criança,
tudo Gucci. A mudança foi operada ao lado do chairman da empresa,
Domenico de Sole, e a Gucci se transformou num dos líderes do
comércio de alto luxo internacional.
Num dos mais hábeis business dos tempos atuais, o grupo Gucci
comprou a maison Yves Saint Laurent. Ford ganhava então outra
missão: fazer com a YSL o mesmo que fizera com a Gucci, e isso
passava pela direção do prêt-à-porter da
casa, a linha chamada Rive Gauche. Alber Elbaz, o estilista que assinava
a linha, escolhido por Saint Laurent, foi demitido em fevereiro, e o
próprio Saint Laurent, por acordo contratual, foi restrito à
alta-costura.
Finalmente chegamos ao momento atual: a estréia de Tom Ford na
Yves Saint Laurent, absolutamente o evento fashion mais importante do
ano, o desfile mais esperado de toda a temporada do prêt-à-porter
primavera-verão 2001. Agora.
Maçonaria
Pode-se imaginar, portanto, o frisson em torno do desfile. A primeira
expectativa veio logo no início da estação, com
a coleção de Ford para a Gucci em si, e correu na mídia
a história _até agora não confirmada_ de que seria
a última do estilista para a casa.Talvez por não ter agradado
tanto, talvez porque foram altas as apostas de Ford (androginia, anos
80, leia à pág. Especial 9), o desfile em Milão
só fez aumentar a ansiedade do povo da moda em relação
à nova coleção Rive Gauche, exatamente no último
dia importante da semana francesa, coincidência ou não,
uma sexta-feira 13.
Se já são exclusivos os eventos do prêt-à-porter
internacional, esse foi praticamente uma reunião maçônica.
Mesmo compradores importantes receberam em seus escritórios cartinhas
que pediam que cada convite (individual) fosse devidamente buscado num
período X de tempo, ou eles seriam disponibilizados para outras
pessoas, por causa do interesse despertado pelo mesmo. Arrogância?
Um pouco. Mas verdade. E a chama continuou queimando até que
os primeiros convidados entrassem pelos jardins do elegante museu Rodin,
naquela tarde, introduzidos num tapete preto por uma fileira de hosts,
impecavelmente vestidos de preto, impecavelmente vestidos iguais: calça
e paletó, sem camisa, gravatinha pendurada. Unissex é
a palavra, conforme instalado pelo mestre Saint Laurent há coisa
de 30 anos. Os primeiros sinais da nova mensagem começavam aí.
Na tenda preta iluminada por luz lilás, com um jardim de orquídeas
dentro, a atmosfera introduz também o novo conceito das lojas
Rive Gauche (que passaram a reproduzir o estilo Gucci, com acessórios
na frente). Começa o desfile, e logo se vê que Ford parte
de um ponto bem simplicado, cortando excessos, buscando se concentrar
na forma, essencial, em preto e branco.
O item escolhido, como num dicionário minimalista, é então
o smoking, desdobrando seus elementos aqui e ali, com ênfase em
ombros e mangas, que chegam a entrar num lado só de cada casaco.
Gravatinhas, mantôs fetiche em cetim black, calças retas
precisas ... A nova mulher Saint Laurent é sedutora de modo hollywoodiano
até, acompanhada, na passarela _como nos
desfiles Gucci_ por canhões de luz.
Estilo híbrido
Muito Gucci, então? Talvez, ainda mais se levarmos em conta o
styling com a mão sempre firme da parceira de Ford, Carine Roitfeld,
e as modelos chegam a se assemelhar a ela, com seus cabelos lisos e
olhar inquieto, boca com gloss. Meias finas pretas, usadas com sandálias
brancas, e bolsas tão pequenas como máquinas fotográficas
completam o look, até a apoteose final, com um vestido de chiffon
preto com top futurista que remete à famosa coleção
de Yves Saint Laurent do inverno de 69. Nela, um busto do escultor Claude
Lalanne é originalmente feito em cobre com ouro. Tom Ford o refaz
de couro com diamante.
O que vai acontecer agora? Provavelmente vão vender mais as roupas
da Rive Gauche, e também os sapatos e mesmo o perfume Opium,
clássico dos 80, relançado agora com campanha sexy, em
que a modelo gordinha Sophie Dahl aparece totalmente nua, fotografada
por Steven Meisel, usando apenas calçados e jóias. Provavelmente,
na próxima estação Ford vá trabalhar a saariana,
ou as cores, ou as noivas. Por enquanto, o atual estilo Yves Saint Laurent
é um híbrido entre Gucci e YSL, perfeito para atender
uma consumidora que faz de sua roupa um fundamento político,
de autoposicionamento em relação à moda e à
sociedade. Isso já é muita coisa.
(ERIKA PALOMINO)
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