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17/12/2002 - 02h37

Brasileiras dominam interior por convênios

KIYOMORI MORI
free-lance para a Folha de S.Paulo

Enquanto as universidades americanas abrem mercado no Brasil, as nacionais, com sede nas grandes capitais, se espalham pelo interior. Treze mil alunos: esse é o número dos que estão obtendo o diploma de MBA da Fundação Getúlio Vargas em algum canto do Brasil. Macapá (AP) e Marabá (PA) são algumas das mais de 50 cidades em que é possível conseguir o diploma de MBA de uma das mais renomadas universidades do país.

Segundo Ricardo Spinelli de Carvalho, diretor-executivo da FGV Management, a qualidade das aulas, o corpo docente e o currículo dos cursos são os mesmos, não importa se o aluno está em Rio Verde (GO) ou no Rio de Janeiro. "Com esses convênios, estamos levando ensino de qualidade às diferentes regiões do Brasil", afirma Ricardo.

Os professores fazem parte do quadro da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo ou no Rio de Janeiro e viajam para as localidades nos dias de aulas. Os alunos passam por um processo de seleção que inclui análise curricular e entrevista. Mas um dos principais atrativos de fazer um MBA —sentar-se ao lado de dirigentes de grandes empresas para depois formar uma rede de contatos— não será o mesmo para quem fizer uma MBA em cidades do interior, longe dos principais centros urbanos e financeiros.

O empresário Luiz Sérgio Vilela, 44, de Manaus (AM), está no seu quarto MBA da FGV. Após passar pelo Management Team (1999), pelo Marketing (2000) e pelo Ensino a Distância (2001), Vilela cursa o MBA Contabilidade e Auditoria. "Já investi cerca de R$ 40 mil. Não me arrependo", diz Vilela. "Em Manaus, não era possível encontrar ensino dessa qualidade. Neste mundo globalizado, quem quer ser competitivo deve estar atualizado", afirma o empresário, que fabrica componentes de controle remoto e circuitos impressos.

Outra universidade que passou a abrir unidades em nove cidades do país foi a ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Rio de Janeiro, Porto Alegre e Campinas (SP), são locais em que é possível realizar um MBA carimbado pela ESPM.

É claro que, com tanta oferta de escola de MBA, o diploma, antes tão exclusivo, se tornou "comum". E isso já se reflete nos balcões das consultorias de recursos humanos: "Esse 'boom' de escolas oferecendo MBA banalizou o diploma", afirma Renato Scher, 32, gerente de qualidade do grupo Catho, consultoria de recursos humanos. Uma pesquisa realizada no final do ano passado pela empresa, com 9.174 profissionais, mostrou que o índice de pessoas com diploma de MBA subiu para 30%. Há quatro anos, o número de profissionais com MBA não ultrapassava 15%.

Clóvis Machado, presidente da Anpad (Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração), diz que a fase do "boom" já passou e que o que está acontecendo agora é o processo de "auto-regulação" do mercado, uma consequência da lei da oferta e da procura.

"Algumas entidades educacionais, notadamente no Rio de Janeiro e em São Paulo, estão diminuindo o número de cursos ofertados ou reformulando os existentes", explica.

A ESPM, por exemplo, já decidiu que, no ano que vem, não haverá mais curso de MBA em Uberlândia e em Sorocaba (as turmas que já iniciaram vão até o fim). "É uma decisão estratégica", explica Laura Gallucci, 49, diretora de talentos da ESPM. "Preferimos concentrar os recursos disponíveis, em vez de dispersá-los em locais onde a perspectiva de crescimento é pequena."

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