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31/08/2004 - 03h26

Gilberto Dimenstein: Paulo Mesquita contra a violência

Gilberto Dimenstein
colunista da Folha de S.Paulo

Nova York foi, para o cientista político Paulo Mesquita, um gigantesco campo de pesquisa. Ele chegou à cidade em 1987 para fazer, na Universidade Columbia, doutorado sobre o papel dos militares na transição democrática no Brasil. A experiência, no final, virou literalmente um caso de polícia. "Muita gente tinha medo de estudar em Columbia", recorda-se Paulo Mesquita. A universidade ficava próxima do Harlem, bairro negro e hispânico que, naquele final da década de 80, era um dos símbolos da violência nova-iorquina.

Matangra
Entre idas e vindas para o Brasil, o cientista político estudou por lá até 2000, quando o clima de insegurança da cidade já tinha mudado radicalmente: o crime baixou a tal ponto que atraiu a atenção de todo o mundo. "Vi como o combate aos pequenos delitos ia produzindo efeitos." Uma mudança especialmente intrigante para um brasileiro que sentia a explosão da violência, aparentemente incontrolável, em regiões metropolitanas como a do Rio e a de São Paulo. Naquele enorme cenário de testes em questões de segurança, Paulo Mesquita foi alterando o seu foco de interesse e acabou estudando mais intensamente a polícia. "Conheci casos de envolvimento comunitário para a melhoria da polícia e da segurança em várias partes do mundo."

O grande laboratório para ele está, agora, aqui mesmo no Brasil. Ele foi convidado a coordenar um dos principais projetos comunitários contra a violência no país, envolvendo empresários e universidades, associados aos governos municipal, estadual e federal: o Instituto São Paulo Contra a Violência, cujo papel é não só propor alternativas para melhorar a segurança pública mas também executá-las.

Saiu, portanto, do mundo asséptico dos livros e das liturgias acadêmicas para colocar idéias em prática. A experiência já lhe está ensinando como é difícil fazer a ponte entre a vida acadêmica e a ação. "No mundo acadêmico, dizem que estou muito pragmático. No mundo 'pragmático', dizem que sou muito acadêmico."

Entre a prática e a academia, ele aprendeu em Nova York _e já está vendo em experiências brasileiras_ que a violência baixa menos pela eficiência da polícia e mais pela ação comunitária em programas preventivos. Um aprendizado vital que, no Brasil, ainda está bem mais para tese acadêmica do que política pública.

Gilberto Dimenstein, 47, é jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo e faz parte do board do programa de Direitos Humanos da Universidade de Columbia (EUA). Criou a ONG Cidade Escola Aprendiz, em São Paulo.
E-mail: gdimen@uol.com.br

     

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