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Conflito entre máquina e homem atrasa chegada de carro autônomo

Após uma série de acidentes, a Tesla limitou o sistema de automação de seus carros, que agora obriga o motorista a manter as mãos no volante quase o tempo todo. Não tardou para que uma empresa americana lançasse um dispositivo que imita o toque humano e engana os sensores do carro.

Casos como esse, somados a possíveis falhas tecnológicas, fazem as empresas reverem suas estratégias para veículos autônomos.

Ricardo Takahira, membro do comitê de eletro-eletrônicos da AEA (associação de engenheiros automotivos), afirma que uma etapa será pulada. Segundo ele, várias montadoras já concluíram que sistemas semiautônomos -que dependem de intervenções humanas- serão inviáveis.

"Pedir que o motorista retome a direção quando não está concentrado é pior do que o veículo tomar decisões sozinho", diz Takahira.

Os carros autônomos têm cinco níveis de automação definidos pela SAE (associação americana de engenharia automotiva).

O nível 3 consiste no veículo exercer sozinho direção, aceleração e frenagem, mas com a necessidade de o motorista intervir em algumas situações.

Apenas os níveis 4 e 5, em que o carro está preparado para lidar com emergências sem intervenções humanas, seria plenamente seguro no futuro, avalia Takahira. Contudo, acidentes têm modificado testes feitos por empresas que investem nos autônomos.

Um dos mais graves foi a morte de Elaine Herzber, 49, no Arizona, em março. Ao tentar atravessar uma rua, ela foi atropelada por um Volvo autônomo a serviço da Uber.

O carro utilizava um sistema de navegação baseado em monitoramento por vídeo, e não o modo de frenagem automática desenvolvido pela Volvo que, em tese, pararia o carro assim que detectasse que um pedestre estava cruzando seu caminho.

"Vídeo é um negócio muito bom, mas cai uma folha na lente e o sistema está morto. Não se pode depender apenas disso", diz Takahira.

Leandro Teixeira, diretor de marketing da Volvo do Brasil, afirma que a montadora colabora com os órgãos americanos responsáveis pela investigação do incidente. Segundo o executivo, a empresa ainda acredita que seus primeiros carros plenamente autônomos chegarão às ruas em 2021.

A Uber não testa mais seus sistemas autônomos nas ruas, e a Toyota também desistiu das experiências fora de circuitos fechados.

Já a Tesla reduz o foco sobre o Autopilot e celebra a decisão tomada nesta terça (19) pelo órgão fiscalizador de trânsito americano. A entidade proibiu a venda do equipamento que engana o sistema de condução semiautônoma.

A Nissan testa veículos sem motoristas há uma década e vê limitações que vão além dos problemas técnicos. Para a antropóloga Melissa Cefkin, do centro de pesquisa da montadora na Califórnia, os carros terão que entender as culturas nas ruas de diferentes cidades e países.

Isso implica se adaptar a locais com falhas de sinalização, buracos e ausência de faixas para pedestres, como ocorre Brasil afora. Diante de cenários tão diferentes pelo mundo, é impossível prever quando veículos sem motorista serão maioria nas estradas.

*

CONHEÇA OS CINCO NÍVEIS DE AUTOMAÇÃO DOS VEÍCULOS

Nível 1
O carro é equipado com "cruise control" adaptativo (controlador de cruzeiro), também chamado de piloto automático. O equipamento mantém a velocidade sem que o motorista precise pisar no acelerador e é capaz de frear sozinho.

Está presente como opcional em diversos modelos à venda no Brasil. O Volkswagen Golf com esse recurso custa R$ 122 mil. O Ford Fusion Titanium é vendido por R$ 138,9 mil.

Nível 2
Além do "cruise control" adaptativo, o carro traz itens adicionais que auxiliam na direção. Um dos mais usados é o sensor de faixas, que lê a a pintura no asfalto e interfere na direção, fazendo o volante tremer e evitando que o carro invada a pista ao lado.

Está presente no Jeep Compass Flex Limited com pacote High Tech (R$ 150 mil) e no Peugeot 3008 Pack (R$ 160 mil), entre outros.

Nível 3
O carro já consegue rodar sem intervenção do motorista por trechos limitados. O controle do volante, do freio e da aceleração é feito por meio de sensores que identificam faixas no asfalto e o trânsito ao redor, sendo capazes de fazer ultrapassagens.

Contudo, o sistema só funciona em velocidades limitadas e emite mensagens para que o motorista retome o controle, se for necessário. Está disponível na nova geração do Audi A8, que chega ao Brasil no segundo semestre e custará mais de R$ 500 mil.

Nível 4
Além de poder rodar sem intervenções do motorista, o carro é capaz de parar no acostamento caso apresente algum problema ou se não obtiver resposta após enviar uma mensagem ao condutor, que será acionado caso o veículo precise passar por um trecho off-road ou se trafegar por estradas que não sejam monitoradas por GPS. A tecnologia está presente no conceito Renault Symbioz e só deve chegar às ruas na próxima década.

Nível 5
O carro pode ir de um ponto a outro sem que haja um humano a bordo. É a solução que mais depende de infraestrutura urbana para ser colocada em prática e, por enquanto, só é viável na ficção. O Lexus 2054, do filme Minority Report (2002), tinha esse recurso.

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