Prevenção de acidente requer mudança de comportamento de motoristas

Especialistas também veem a disponibilidade de estatísticas atualizadas como forma de reduzir mortes no trânsito

Maxwell Vieira, diretor-presidente do Detran-SP, Luis Henrique Di Jacintho Santos, coronel da Polícia Militar e comandante do Policiamento Rodoviário, Waldiwilson dos Santos Pinto, chefe substituto da 6ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal, Carla Crippa, diretora de sustentabilidade e comunicação da Ambev, e Alencar Izidoro, mediador e jornalista da Folha - Reinaldo Canato/Folhapress
Leonardo Neiva
Barueri

Promover uma mudança de comportamento real da população brasileira no volante e ter maior acesso a estatísticas atualizadas sobre acidentes de trânsito no Brasil são ações cruciais para reduzir o número de acidentes e mortes no trânsito em todo o território nacional.

A opinião foi compartilhada por especialistas que debateram o tema nesta segunda-feira (11), durante o 2º fórum Segurança no Trânsito, promovido pela Folha. O evento, que aconteceu no Centro Comercial Alphaville, em Barueri, teve patrocínio da Ambev, concessionária CCR Via Oeste, Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Pirelli e Uber.

De acordo com o coronel da Polícia Militar e comandante do Policiamento Rodoviário, Luis Henrique Di Jacintho Santos, todos querem mais fiscalização no trânsito, desde que seja no veículo do outro.

“Se a fiscalização for feita no carro do cidadão, ele questiona, reclama e não enxerga o próprio comportamento ao volante. É o mesmo que o pai que conduz falando no celular ou depois de tomar umas cervejas e diz para o filho não dirigir embriagado. Essa cultura do brasileiro precisa ser mudada. Com uma mudança individual, talvez alcancemos um trânsito mais seguro”, afirmou.

O diretor-presidente do Detran-SP, Maxwell Vieira, frisou que a constância de fiscalização em casos como a aplicação da Lei Seca é um dos mecanismos mais importantes para alterar o comportamento dos motoristas.

“No Brasil, temos a legislação. O que precisa é fazer com que seja cumprida. Apesar de estarmos criando leis, ainda não mudamos o comportamento da população”, afirmou.

Apesar de ter dito não querer que o Detran seja visto apenas como órgão emissor de documentos, Vieira pontuou a importância a longo prazo da formação do condutor e da concessão dada para que ele possa dirigir um veículo.

Segundo o diretor-presidente, o órgão tem combatido irregularidades internas, como o uso de dedo de silicone para driblar a biometria e faltar a aulas de direção e o pagamento a instrutores para aprovação em teste da carteira de motorista. Vieira afirmou que o Detran também está intensificando ações de educação para o trânsito, com o objetivo de mudar a realidade atual.

Ele compartilhou um dado recente que considerou positivo: “Em 2016, precisávamos fiscalizar 10 veículos para fazer uma autuação. Em 2017, foram 15 automóveis fiscalizados para cada autuação. As pessoas estão ficando cada vez mais conscientizadas para não misturar bebida e direção”.

Estatísticas

A única forma de criar ações mais eficientes de redução de acidentes é tendo dados atualizados e confiáveis, segundo Carla Crippa, diretora de Sustentabilidade e Comunicação da empresa do ramo de bebidas Ambev.

Carla citou como iniciativa bem-sucedida o relatório Infosiga-SP (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo), iniciativa do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, órgão criado em parceria entre o governo e empresas privadas, dentre elas a própria Ambev.

O relatório, publicado online mensalmente, apresenta dados sobre fatalidades no trânsito paulista, além de informações sobre o perfil das vítimas.

“É com essas informações que conseguimos medir a raiz do problema, investigar casos específicos, entender e atuar melhor na questão. Antes demorava dois anos para termos esses dados consolidados, agora eles saem todo mês”, disse.

O chefe substituto da 6ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal, Waldiwilson dos Santos Pinto, evocou estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que apontou que o governo brasileiro perdeu em 2014 cerca de R$ 647 mil por cada morte ocorrida no trânsito.

“Foram mais de R$ 40 bilhões gastos no total com todos os acidentes no trânsito do país”, afirmou Santos Pinto, lembrando que no cálculo foram considerados fatores como custos de resgate, atendimento médico, perícia, entre outros.

Para reduzir esses números, ele disse também ser importante investir em infraestrutura urbana e de rodovias e na segurança interna dos veículos, diminuindo a gravidade de lesões e, consequentemente, o risco de morte.

Na mesa, os debatedores fizeram um balanço dos resultados no Brasil da Década de Ação pela Segurança no Trânsito da ONU, programa lançado pelo órgão em 2011, em que governos de todo o mundo se comprometeram a tomar medidas para reduzir as mortes no trânsito em 50% até 2020. A mediação foi feita pelo jornalista da Folha Alencar Izidoro.

Segundo a diretora da Ambev, antes do início do projeto, o estado de São Paulo registrava 16,5 mortes no trânsito a cada 100 mil habitantes. Esse número caiu para 12,9 em 2017, segundo dados do Infosiga, uma redução de cerca de 22%. Para chegar a números considerados ideais pela ONU, no entanto, essa queda precisaria ser ainda maior, para cerca de 8,2 mortes a cada 100 mil habitantes até o ano de 2020.

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