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barbara gancia

 

17/02/2013 - 03h00

Elefante asiático ou africano?

Terminei o Carnaval toda unhada e com uma marca de mordida na axila. Ai, como dói! A pancadaria não teve a farra como estopim. Ouso dizer que as marcas deixadas pela extensão territorial do meu privilegiado contexto físico foram resultado de uma conversa que começou de forma cordial. Mas é que o assunto anda rendendo mais do que dinheiro que estrangeiro aplica no Brasil.

O entrevero começou enquanto assistíamos, minhas amigas de tranca e eu, aos desfiles do Grupo Especial das escolas do Rio. Sem o menor comprometimento, eu perguntei: "Será que a Geisy Arruda, aquela mocinha que foi saída da universidade para virar rainha da couve-flor, está desfilando neste ano ou terá ficado em casa costurando a boca de sapo?".

O assunto já vinha do outro Carnaval, quando acabei perdendo uma rodada de 3.000 a 1.800 pontos contra minha tresloucada amiga Bucicleide e sua prima vinda de Bofete, cidade próxima a Botucatu, por desviar a atenção do jogo para ficar de olho na TV atrás da musa da Mocidade, Angela Bismarchi, que teria feito uma cirurgia plástica para enxertar o mamilo esquerdo em uma orelha mutilada e usado o outro para servir de tapa-olho em uma fantasia de "Piratas do Caribe".

Claro que morri no berço da decepção. Não só perdi o jogo como ainda fui saber que a operação a que Angela tinha sido submetida não poderia ser percebida na TV.

Ao notar meu interesse na operação, Buci, digo, Cleide foi logo querendo enfiar seu bisturi: "Por acaso você não está falando de outra cirurgia, aquela que arranca a ostra inteira e deixa só a concha?".

"Cuma, Bucicleide? Essa a que você se refere é a himenplastia, ou, como é popularmente chamada, a operação de vagina de Barbie." Minha amiga quis elaborar. Soltou um "hein?" impetuoso e emendou: "Pessoa paga para ficar com capô de fusca daquela boneca que nasceu para ser sustentada?". As amigas acorreram para acalmar ânimos: "Deixa quieto, Buci, descarta aí, você está atrasando o jogo...".

Ilustração Alex Cerveny

Acontece que tenho apreço por informações de qualidade, é da natureza do meu trabalho, sou obrigada a corrigir. "Você está enganada, dona Buci, digo, Cleide", retruquei. "A Barbie deixou de ser uma inútil. Pode ser que continue sofrendo de anorexia nervosa galopante, mas hoje já existe até Barbie engenheira, sabia?", atirei-lhe na fuça, "E o capô de fusca sumiu, hoje em dia a boneca parece mais ter nascido andando a cavalo, onde havia aquela protuberância existe agora um vazio."

Buci não buscava explicações, queria sangue. "Você só está interessada no procedimento feito por essa Bismarchi porque é uma mulher infantilizada que quer refazer suas partes a fim de agradar o macho que a domina", atirou do nada.

Não me contive. "Você acha que sou burra? Em vez de passar por uma anestesia, um dolorido processo de cicatrização e ter de morrer com uma grana, se fosse por esse motivo eu colocaria logo um balde de gelo na cabeceira da cama e entregaria o medonho à sua sorte."

E vem cá: as pessoas não se mutilam o dia inteiro, reduzem peito, fazem piercing, por que não deveriam operar a dita cuja? Não sei bem o que foi, mas alguma coisa caiu mal naquela noite.

No jogo de tranca deste Carnaval, Bucicleide veio armada. Assim que mencionei Geisy Arruda, ela olhou para mim e, mais rápida do que o Django de Tarantino, disparou: "Não tenho a menor ideia, sua orelha de elefante!".

Levei um minuto para raciocinar, enquanto a prima de Bofete saía da sala em disparada. Minha vizinha do 32, que viera para completar a mesa de jogo, só chegou a ver meu punho voar em direção ao nariz de Buci, digo, Cleide.

Não me orgulho do Carnaval de 2013. Espero que o seu tenha sido bem melhor que o meu.

barbara gancia

Barbara Gancia, mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal.

 

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