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cida santos

 

04/10/2011 - 21h08

A morte do Sohn, ex-técnico da seleção brasileira

A coluna de hoje é dedicada ao Young Wan Sohn, o sul-coreano que nos anos 80 dirigiu a seleção brasileira masculina de vôlei e foi tricampeão nacional com o Minas Tênis Clube. Aos 76 anos, ele morreu por causa de um câncer no pulmão. Alto, magricelinho e falando um português bem misturado com o coreano, ele era exigente com os atletas, mas tinha sempre um sorriso pronto no rosto. Era um cara bem bacana.

Tive o privilégio de ser repórter da "Folha de S.Paulo" na época em que ele trabalhou no Brasil. Sohn era venerado em Minas Gerais, uma terra de torcedores fanáticos de vôlei. A razão era simples: ele conseguiu quebrar a hegemonia dos times de São Paulo e do Rio de Janeiro. O Pirelli e o Bradesco eram recheados de estrelas da seleção: Bernard, Renan, Montanaro, William, Xandó e companhia. Sem os bacanas, o Minas conseguiu o que parecia impossível: ganhou por três anos seguidos o Campeonato Brasileiro, de 1984 a 1986.

Sohn introduziu novidades nos treinamentos do Minas que causaram espanto na época. Uma delas foi a ginástica artística. A ideia era dar mais mobilidade aos atletas e a ginástica acabava ajudando também na prevenção de lesões. Entre estrelas e outros exercícios, os gigantes do vôlei aprendiam a cair e a controlar os saltos. A turma dos outros times adorava tirar uma onda dos atletas do Minas por causa disso. Vale lembrar que o atual time do Minas, dirigido pelo técnico Marcelo Fronckowiak, voltou a usar a ginástica artística. Detalhe: um dos membros da comissão técnico é o Pelé, o principal jogador da equipe mineira na época do Sohn.

O técnico também dava livros para os jogadores lerem, conversava bastante com eles. No Minas, os atletas adoravam o Sohn. Em 1987, quando ele assumiu a seleção brasileira, encontrou um clima bem diferente. Os jogadores mais experientes não gostavam dos seus métodos. Em uma de suas primeiras convocações, Sohn radicalizou nas suas convicções orientais e concentrou a seleção em um hotel do bairro da Liberdade, em São Paulo. Lembro que era divertido ver a cara de espanto daquele bando de estrelas, acostumado a grandes hotéis de bairros badalados, tendo que se concentrar na Liberdade, em um mundo totalmente oriental em plena capital paulista.

O período de Sohn na seleção ficou mais complicado depois de uma excursão aos Estados Unidos. Os jogadores, liderado pelo Bernard, Renan, Xandó e Amauri, divulgaram o "Manifesto de Miami", pedindo a demissão do técnico. Eles reclamavam dos métodos de treinamento, diziam se sentir fora de forma física e técnica. O então presidente da Confederação Brasileira de Vôlei, Carlos Arthur Nuzman, optou por ficar com o técnico e os líderes do movimento foram dispensados. Em 1988, depois de uma excursão à Europa, Sohn saiu da seleção. O técnico Bebeto de Freitas assumiu o seu lugar.

Ele teve méritos na seleção como convocar alguns novatos. O levantador Maurício, por exemplo, foi convocado pela primeira vez para a seleção por ele. No currículo, o técnico ainda tinha uma medalha de bronze no Mundial de 1982 pela Argentina. Nos últimos tempos, ele vivia na Coreia do Sul. Mas enfim, tudo agora é lembrança.

cida santos

Cida Santos é jornalista e uma das autoras do livro "Vitória", que narra a trajetória da seleção masculina de vôlei, campeã olímpica em 1992. Escreve de segunda a sexta no site.

 

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