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clóvis rossi

 

02/12/2011 - 16h06

Café, Brasil e Starbucks

DE SÃO PAULO

Peço de saída perdão ao leitor deste espaço por insistir em uma das minhas raras fixações, que já exerci mais de uma vez na Folha-papel. Trata-se do inconformismo com o fato de que o Brasil, grande produtor de café, não consegue pôr de pé uma rede de cafeterias como a Starbucks.

O que atiçou minha fixação foi uma notícia de dias atrás no 'Financial Times', dando conta de que a Starbucks está planejando expandir sua rede no Reino Unido, abrindo 300 novas lojas em cinco anos e, melhor ainda, empregando mais 5 mil pessoas.

Eu já acho que há Starbucks demais em Londres, pelo menos na zona de Mayfair, bairro central, em que geralmente me hospedo. O 'FT' informa que são 700 lojas em todo o país, o que significa que haverá uma expansão de uns 40% com a adição planejada.

Mas não é birra com a marca. Ao contrário: José Meirelles Passos, notável jornalista que morreu este ano, me comentou uma vez, enquanto cobríamos uma conferência internacional em Seattle, que foi a Starbucks que ensinou os norte-americanos o que é de fato café. Até que ela fosse 'inventada', os americanos bebiam uma água suja como se fosse café, só tolerável com a adição de creme.

Meu problema com a Starbucks é inveja. Não consigo entender como é que o Brasil não inventou até agora algo parecido, embora seja um grande produtor. Ou seja, continuamos exportando matéria prima crua, em vez de agregar valor.

Minha inveja só fez aumentar quando me vi frente a frente com um tal de Juan Valdez, a rede de cafeterias criada pela Federação de Cafeicultores da Colômbia, que teve peito de abrir loja até em Seattle, o berço da Starbucks. Com todo o devido respeito e carinho pela Colômbia, o Brasil tem dimensões muito maiores e, portanto, mais condições de dar o salto, em tese.

Será que não conseguimos agregar valor nem naquilo que produzimos com tamanha abundância? Não há no Brasil algum empreendedor capaz de inventar nosso próprio João da Silva e sair pelo mundo vendendo-o?

Se houver um, que me desculpe desde já, mas nunca vi uma loja de café brasileiro no exterior (exceto um ou outro Café do Ponto em países vizinhos).

E olhe que esse tipo de loja, embora empregue muita gente apenas 'part-time, é uma saída interessante para estudantes que precisam de renda: segundo o 'FT', 70% do pessoal da Starbucks têm menos de 24 anos de idade e muitos combinam o emprego com o estudo.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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