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clóvis rossi

 

31/08/2012 - 11h23

Quando o PT condenava o PT

José Eduardo Cardozo, hoje ministro da Justiça, antecipou-se em quatro anos aos juízes do Supremo Tribunal Federal que estão condenando operadores e beneficiários do mensalão.

Em entrevista para as páginas amarelas da revista "Veja", em fevereiro de 2008, Cardozo soltou a seguinte sequência de frases de cristalina clareza:

"Vou ser claro: teve pagamento ilegal de recursos para políticos aliados? Teve. Ponto final.
É ilegal? É.
É indiscutível? É.
Nós não podemos esconder esse fato da sociedade e temos de punir quem praticou esses atos e aprender com os erros".

Quem era Cardozo à época? Um dissidente do partido? Um quinta-coluna infiltrado no PT pela oposição? Não, era pura e simplesmente o secretário-geral do PT, ou seja, o segundo homem do partido, após o presidente.

A entrevista de Cardozo foi exumada pelo jornalista Ricardo Setti, em seu blog, dias atrás.

Dois dias depois de sair a entrevista, comentei-a na coluna que transcrevo parcialmente abaixo, porque mantém absoluta validade.
Ei-la:

"SÃO PAULO - Do deputado federal José Eduardo Cardozo, recém-eleito secretário-geral do PT, o segundo cargo na hierarquia partidária, em entrevista à revista "Veja": "Vou ser claro: teve pagamento ilegal de recursos para políticos aliados? Teve. Ponto final. É ilegal? É. É indiscutível? É. Não podemos esconder esse fato da sociedade".

Ficamos assim sabendo o que já sabíamos todos, menos os petistas, em especial sua ala hidrófoba e seus intelectuais e jornalistas chapas-brancas: não houve nenhuma conspiração da mídia e da elite contra o PT.

Houve, sim, uma conspiração de fatos "ilegais" e "indiscutíveis" praticados por petistas, no dizer até de seu secretário-geral.

Diz o deputado do PT: "Nós temos que ser mais duros com nossos militantes e dirigentes do que somos com nossos adversários".

É a posição que qualquer pessoa/ instituição honesta adota. Mas o lulopetismo preferiu a versão "o PT fez o que todos fazem", como disse o próprio presidente Lula, para em seguida passar a mão na cabeça dos acusados de trambiques vários.

Fulmina agora Cardozo: "Em qualquer escândalo, denúncia ou suspeita, o PT tem de ter uma postura ativa. Seja para absolver, seja para condenar. (...) Não pode passar a mão na cabeça".

Volto agora a 2012: como o PT não deu a menor bola para a premonitória afirmação de seu então secretário-geral, a história se repete, por enquanto no plano municipal.

Um vereador do PT, Edgar Nóbrega, que era também o candidato do partido a prefeito de São Caetano do Sul, renunciou à disputa ao ser flagrado em vídeo em que supostamente negocia uma oposição branda ao atual prefeito (José Auricchio Júnior, do PTB), em troca de dinheiro, claro.

O escândalo do mensalão também começou com o vazamento de um vídeo, em que um funcionário dos Correios, indicado pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB), recebe propina. Irritado com o vazamento, Jefferson denunciou todo o esquema do mensalão, que, mais tarde, José Eduardo Cardozo confirmaria e, agora, finalmente, o STF começa a punir.

É o que dá passar a mão na cabeça de suspeitos de delinquência. Eles se sentem autorizados a passar a mão no bolso dos outros ou do Erário Público.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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