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clóvis rossi

 

06/09/2012 - 03h00

Brasil, uma "história lenta"

Zander Navarro, um desses acadêmicos com os quais vale a pena trocar ideias porque o interlocutor sai sempre ganhando na troca, me mandou e-mail outro dia com uma citação de José de Souza Martins, um dos mais relevantes cientistas sociais do país, para quem o Brasil tem uma "história lenta".

Constatação reforçada ao ler o relatório sobre competitividade global, divulgado na terça-feira pelo Fórum Econômico Mundial e resumido pela Folha.

Vê-se por ele como é lenta a história brasileira. O país até avançou no ranking, passando do 53º posto para o 48º, entre 144 concorrentes.

O avanço já é pequeno, se se levar em conta que a estabilidade econômica vai para 20 anos, fator essencial para a competitividade, e que os anos Lula foram de crescimento razoável, até bom no ano de 2010.

Avanço igualmente pequeno na comparação. Não vou cometer a insânia de comparar com os "top 10", que são os ricos do mundo, exceto Cingapura, que ocupa o segundo lugar. Comparo com a Coreia do Sul, que, em apenas uma geração, passou de uma nação lamacenta de camponeses a uma das 11 ou 12 potências do planeta e é a 19ª no ranking, num total de 29 posições à frente do Brasil.

Não tem, pois, uma "história lenta", mas acelerada.

Quando se olham os 12 indicadores de competitividade que compõem o índice, aí então se descobre que o Brasil é pior do que lento. Anda para trás.

Retrocedeu, de 2011 para 2012, em sete dos 12 indicadores. Mais: em oito dos 12, consegue ficar abaixo da sua medíocre posição geral.

A rigor, só há um indicador em que o país vai realmente bem --e que, de resto, salvou sua posição no geral: o tamanho do mercado, em que é o nono colocado.

Ou seja, este é um dado natural, não o produto de uma história acelerada.

Aliás, nem nesse quesito o Brasil acelerou realmente, posto que é o quinto país mais populoso do mundo, mas apenas o nono mercado, o que significa que é lenta a incorporação ao mercado dos que dele estavam excluídos.

Um segundo item que iça o Brasil é o da sofisticação dos homens de negócio (33º lugar).

Francamente não me convence. Até acho que os empresários brasileiros devem mesmo ser sofisticados para sobreviver em um ambiente macroeconômico que foi francamente hostil (a todos nós, aliás) até a estabilização, que só foi alcançada em 1994, o ano 105 da "lenta República".

Mas sofisticação mesmo se verá quando, em vez de exportarmos apenas café em grão, exportarmos redes de cafeterias, como a Starbucks norte-americana, de muito maior valor agregado.

O relatório aponta outras "lentidões", como: "a confiança nos políticos permanece baixa (121º lugar), assim como a eficiência do governo (111º posto), por causa de regulação excessiva (114º lugar) e desperdício de recursos (135º)".

Choca ver que o Brasil é 88º colocado em cuidado com a saúde e educação primária e 66º em educação superior e treinamento.

Tudo somado, não sei se "lento" é de fato adjetivo suficiente para o Brasil.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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