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clóvis rossi

 

25/04/2013 - 03h00

Dilma quer Maduro "paz e amor"

A presidente Dilma Rousseff ponderou a seu colega venezuelano Nicolás Maduro que seria altamente conveniente estabelecer um diálogo com setores da oposição e do empresariado, ante a evidência de que o país está dividido praticamente ao meio. A observação foi feita durante a cúpula extraordinária da Unasul, na semana passada, em Lima.

Dilma mencionou também que um primeiro passo para a aproximação com setores oposicionistas seria aceitar a auditoria de 100% dos votos emitidos no papel, conforme pedia a oposição àquela altura. O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, também defendeu a recontagem. A Justiça Eleitoral venezuelana acabou por aceitá-la no mesmo dia.

A diplomacia brasileira faz questão de deixar claro que não houve resistência de Maduro à sugestão de recontar os votos. Nem de Maduro nem do outro presidente bolivariano presente à cúpula, o boliviano Evo Morales. A ressalva visa evitar a suposição de que a recontagem foi aceita por pressão da presidente brasileira.

O diálogo sugerido por Dilma seria uma maneira de facilitar para o novo governo venezuelano o enfrentamento das formidáveis dificuldades econômicas que Maduro tem pela frente, do desabastecimento aos "apagões", da inflação ao deficit público, ambos em patamares insustentáveis. O ex-presidente Lula já havia feito sugestão similar pouco antes das eleições do dia 14.

A delegação brasileira que compareceu à posse de Maduro, no dia seguinte à cúpula da Unasul, ficou feliz com trechos do discurso em que o novo mandatário falou em diálogo. "Parece que ele tem muito amor para dar", brinca um dos integrantes do grupo. Mas ele mesmo observa que palavras não bastam, são necessários atos.

E os atos estão vindo de forma contraditória. A decisão de militarizar o setor energético, por exemplo, não é exatamente predisposição ao diálogo com quem quer que seja. Mas é uma demonstração, até desesperada, de que o novo governo quer enfrentar dificuldades que Hugo Chávez menosprezava.

Ocorre que "o feitiço de Chávez não funciona da mesma forma do além. Ainda que se invoque sua memória, o carisma não é hereditário", como escreve para "El País" a jornalista e escritora Cristina Marcano.

O lado "amor para dar" de Maduro apareceu, no entanto, na decisão de nomear Calixto Ortega como encarregado de negócios em Washington, "para que o diálogo com a sociedade norte-americana possa incrementar-se", como anunciou o presidente. Os dois países estão há tempos sem os respectivos embaixadores.

Do lado do empresariado, a palavra diálogo também está aparecendo, aqui e ali. A Confederação Venezuelana de Industriais, por exemplo, acaba de "fazer um chamado às novas autoridades para que, com base no diálogo construtivo, reformemos as políticas econômicas e trabalhistas, com vistas a incrementar a produção nacional e gerar confiança e tranquilidade aos atores econômicos do país".

Agora, é esperar para ver quanto amor Maduro tem realmente para dar --e se quer dá-lo.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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