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clóvis rossi

 

04/09/2009 - 16h51

O verão de algumas horas

Compro o jornal, como todos os dias aqui em Londres, na banca (na verdade, uma lojinha) de um atencioso indiano, a Press Plus. Fica no Shepherd Market, um simpático e silencioso conjunto de becos e ruazinhas estreitas, apesar de estar a uma quadra da movimentadíssima Piccadilly, no trecho que ladeia o Greeen Park.

O Shepherd tem uma coleção de restaurantes e pubs de diferentes tipos, francês, inglês, iraniano, indiano, italiano e até um improvável misto de cozinha mexicana e polonesa, o "L'Autre", recomendado no Guia de Passeios de Londres editado pelo Publifolha.

Nunca entrei porque não gosto de comida mexicana, mas o guia diz que é "um achado".

Volto ao meu jornaleiro indiano. Reclamo do friozinho que começou a fazer desde a quinta-feira, e ele decreta: "Está começando o inverno".

Parece brincadeira porque o inverno no hemisfério Norte só começa em dezembro. E o verão, teoricamente, só termina no dia 21, para entrar o outono.

Mas, ao abrir o computador, vejo que a temperatura na São Paulo do inverno é de 19º e, na Londres do verão, de 16º.

Lembro-me de uma das incontáveis brincadeiras que se fazem sobre o verão londrino, esta em roda importante. Foi durante a primeira visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Reino Unido, em 2003.

Fazia calor forte naquele dia, Lula suava bastante (estava mais gordo do que hoje) e, ao entrar na sala em que o esperavam o então primeiro-ministro, Tony Blair, e auxiliares, foi logo perguntando:

"Quantos meses dura o verão na Inglaterra?".

Gargalhada geral na comitiva anfitriã. "Dura dias, não meses", respondeu Blair.

Interveio então o ministro Celso Amorim para contar que um cônsul brasileiro em Londres um dia lhe disse que fora a uma sessão de cinema e, por isso, "perdera o verão".

Exagero, claro. À medida que o dia ia avançando e em que o sol conseguia vencer as nuvens, a temperatura foi subindo e instalou-se um verão verdadeiro. Aliás, desde que cheguei, domingo, até quarta-feira, os dias estavam lindos. Mas os correspondentes brasileiros que moram aqui dizem que foi, digamos, atípico. Choveu muito no resto do verão, que acabou durando, tudo somado, apenas um pouco mais do que uma sessão de cinema.

Ah, por falar em cinema, os fãs de Audrey Hepburn, se ainda existirem e estiverem em Londres a partir do dia 9, devem ir ao Haymarket Theater para ver a versão teatral de "Breakfast at Tiffany's" (no Brasil, se a memória não falha, chamou-se "Bonequinha de Luxo"). A atriz, Anna Friel, é parecidíssima com Audrey. Pelo menos nas fotos.

Volto ao verão-que-é-inverno: nas ruas, a maioria do pessoal promove o que deve ser resistência pacífica à chegada prematura do frio. Mesmo antes de o sol se firmar, a maioria continua usando moda verão.

Ou então é a crise, que impede a renovação do guarda-roupa na mudança de estação.

De fato, o inverno econômico britânico revela-se mais prolongado do que o de seus pares do G7, o clube dos sete países mais ricos do mundo. Foi o único país desse time para o qual a OCDE (Organização para a a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que reúne os 30 países mais ricos do mundo, menos o Brasil, que não quer entrar no time) previu agora retração em 2009 ainda maior do que a cravara em junho: 4,7% de retrocesso, em vez dos 4,3% antevistos há três meses.

O inverno econômico só ameniza no inverno do calendário: o crescimento será zero, diz a OCDE, no último trimestre do ano.

JANELINHAS

O B do Bric

O Brasil resolveu assumir o comando das operações do BRIC (o grupo formado por ele mais Rússia, Índia e China). Para a reunião de ontem de seus ministros da Fazenda e presidentes de Banco Central, importaram até o impecável tradutor de Lula, Sérgio Ferreira.

Sérgio ficou ao lado do ministro Guido Mantega até na entrevista para a TV chinesa. Não, o tradutor não fala chinês, a repórter é que falava inglês, idioma em que o Sérgio é nota 10.

Foram também os brasileiros que cuidaram da impressão e difusão do comunicado final dos BRIC.

Gripe na veia

O jornal "The Guardian" anuncia que médicos salvaram a vida de uma jovem de 22 anos, com gripe A, adotando um procedimento inusual: injetaram diretamente na veia da moça o anti-viral Relenza, um dos dois remédios habitualmente recomendados (mas para inalação, não na veia).

A paciente tem seu sistema imunológico comprometido pela quimioterapia para combater o mal de Hodgkin.

Por isso, nem o Tamiflu, o outro remédio anti-gripe A recomendado, nem o Relenza por inalação funcionaram.

Com a medicação direto na veia, a moça melhorou em 48 horas.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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