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clóvis rossi

 

15/09/2009 - 18h38

Felicidade Nacional Bruta

Começa a encorpar, no dia 22, o que pode ser uma radical mudança na agenda global, de forma a entronizar a ideia de "economia verde".

No dia 22, o presidente Barack Obama fará o discurso de abertura da Cúpula sobre Mudança Climática em Nova York, aproveitando a assembléia-geral das Nações Unidas, que atrai um punhado de chefes de Estado/governo (entre eles, estará Luiz Inácio Lula da Silva).

Logo depois, em Pittsburgh, haverá a cúpula do G20, que reúne as 21 maiores economias do mundo mais a União Europeia. O tema "economia verde" será a prioridade central para Obama.

O tema, a rigor, não é novo. Até agora, era tratado mais frequentemente como desenvolvimento sustentável, um conceito fácil de aceitar. Só um tarado pode ser contra o desenvolvimento; contra o desenvolvimento sustentável, então, nem se fala.

O problema é que tem custos --e altíssimos-- transformar a economia em "low carbon economy", para usar uma expressão mais curta, ou seja uma economia que use menos os gases que provocam a mudança climática.

Obama, em todo o caso, olha o copo pelo lado "meio cheio". Em recente discurso sobre a cúpula do G20, a realizar-se em Pittsburgh, usou essa cidade da Pensilvânia como modelo do que chamou de "transição para uma economia do século 21".

"Como uma cidade que se transformou de uma cidade do aço para um centro de inovação "high-tech" --incluindo tecnologia verde, educação e treinamento, e pesquisa e desenvolvimento-- Pittsburgh fornecerá um poderoso exemplo para nosso trabalho" [dos líderes do G20].

Um dos exemplos que o presidente norte-americano citou é a East Penn Manufacturing, "negócio de família há três gerações, que agora fabrica baterias para os veículos híbridos e eficientes do século 21".

Por falar em veículos híbridos, é uma bela deixa para Lula falar dos veículos flex do Brasil, uma de suas paixões incontroláveis.

Mas a nova agenda não gira apenas em torno da "economia verde" ou "low carbon economy" ou como se queira chamar.

O presidente francês Nicolas Sarkozy comprou a tese do prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz de que o mundo deveria se preocupara mais em medir o bem-estar do que a mera produção econômica. Ou, em tradução livre, deveria ocupar-se mais da Felicidade Nacional Bruta do que do Produto Interno Bruto.

Já o futuro premiê japonês, Yukio Hatoyama, em artigo publicado há pouco em vários jornais do mundo, introduziu um conceito semelhante - fraternidade - como eixo da atuação dos líderes mundiais. Hatoyama estreia em Pittsburgh como governante da segunda maior economia do planeta.

A tese de Sarkozy/Stiglitz já tem o apoio da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o clubão das 30 maiores economias do planeta, do qual o Brasil só não faz parte porque não quer). Seu secretário-geral, Angel Gurría, diz que a instituição está pronta para desempenhar "um papel chave na implementação das recomendações sobre novas maneiras de medir o bem-estar e o progresso".

A OCDE é o reino dos burocratas e dos liberais, sempre mais preocupados com o PIB do que com bem-estar.

É um sinal claro de que a mudança de agenda está madura. Pode até apodrecer, se tudo ficar apenas na retórica. Mas será difícil ignorá-la. Inclusive no Brasil.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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