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clóvis rossi

 

19/01/2010 - 17h30

O passado condena os EUA, mas estamos no presente

A ação norte-americana no Haiti provoca em inúmeros pontos cardeais, inclusive no Brasil, um ato reflexo igual ao bater com um martelinho médico (de borracha) no joelho. A perna levanta automaticamente.

No caso, bastou juntar soldados + Estados Unidos + América Latina e pronto: lá vem o império do mal, de novo, passando o arrastão. O secretário de Estado de Cooperação da França, Alain Joyandet, explicitou o ato reflexo, ao pedir que as Nações Unidas esclareçam o papel que os Estados Unidos devem ter no Haiti. "Trata-se de ajudar o Haiti, não se trata de ocupar o Haiti", disparou.

As críticas levaram o blogueiro do "Wall Street Journal", Iain Martin, a constatar que os Estados Unidos "são condenados se tratam de liderar nessas situações e condenados se não o fazem".

Poderia acrescentado que não é só nessa situação. Todo o mundo queixava-se do unilateralismo de George Walker Bush. Aí, vem Barack Obama e faz uma porção de movimentos, em vários tabuleiros, no rumo de soluções ou iniciativas multilaterais. Quem lhe estendeu a mão? A rigor, apenas a Rússia, por paradoxal que pareça. Foi o único país em que houve avanço na discussão sobre desarmamento (avanço ainda sujeito a chuvas e trovoadas, como é óbvio, mas avanço ao fim e ao cabo).

Vejamos um pouco o caso Honduras. A queixa anterior era a de excessivo protagonismo norte-americano na América Latina, queixa aliás justificadíssima, até porque as intervenções em geral eram para piorar as coisas (caso do Haiti, por exemplo, com o embargo do fim do século passado).

Muito bem. Aí, Obama recolhe o time e espera que prospere alguma iniciativa dos próprios latino-americanos. Nada. Despacha então uma equipe que consegue, das partes em conflito, um esboço de acordo. O que fazem os latino-americanos? Respaldam o esforço para que o acordo funcione? Não, saem de cena quase completamente.

Aí, o acordo fura no essencial (a volta de Manuel Zelaya ao poder), e a culpa passa a ser dos Estados Unidos, certamente porque não mandaram os "marines" para impor ao Congresso a volta do presidente, ação sempre criticada em ocasiões anteriores (com razão, repito).

No Haiti, é o inverso: mandam os "marines", e são acusados de praticar "assistencialismo unilateral" pelo ministro brasileiro da Defesa, Nelson Jobim, em uma retórica que é pura masturbação diplomática.

O passado de intervenções na América Latina condena os EUA? Sim, mas estamos falando do presente, de janeiro de 2010. Nele, convém registrar o que disse a Pablo Ordaz, enviado especial do jornal espanhol "El País", Wilfredo, "um estudante de enfermaria asfixiado pela quantidade de feridos sem o consolo de um calmante que continuam sofrendo dores nos jardins do Hospital Geral: Não tenho dúvida. Isso aqui ou é arrumado pelos americanos ou por ninguém mais".

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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