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clóvis rossi

 

19/03/2010 - 13h12

Tão perto, tão distantes

TEL AVIV - Leva 25 minutos viajar de avião de Amã, a capital da Jordânia, até Tel Aviv, que a comunidade internacional considera a capital de Israel, embora Israel prefira Jerusalém. De Jerusalém a Amã não dá mais que duas horas e meia de carro, eventualmente três, dependendo do rigor nos "check-points" e do tráfego, claro.

A Jordânia, como todos sabem, é um país árabe, quase palestino: dos seus 6 milhões de habitantes, pouco menos de 3 milhões são palestinos e descendentes, dois terços deles listados como refugiados pelas Nações Unidas.

Por mais que a Jordânia tenha feito a paz com Israel, o mundo árabe em seu conjunto está em permanente conflito com Israel. Dois dos quatro países com os quais Israel tem fronteiras (Síria e Líbano) estão ainda tecnicamente em guerra com o Estado judaico (o Egito é a outra exceção).

No caminho do centro de Amã até o aeroporto, passa-se de repente por uma placa indicando que, à direita, pega-se a estrada para a fronteira com o Iraque, o país que, na primeira Guerra do Golfo, despejou mísseis em quantidade sobre Israel.

Se não fosse o estado de guerra, haveria voos de Tel Aviv para Damasco ou Beirute que levariam menos de uma hora, o tempo que se gasta para ir de São Paulo ao Rio.

Sair de Israel para Belém, já território palestino, ou Ramallah, a capital teoricamente provisória da Palestina, seria coisa de 20 minutos, meia hora se tanto, não fosse o tempo que se perde nos "check-points" estabelecidos por Israel. Sem falar no muro de separação que Israel está construindo. Quando pronto, terá 305 quilômetros, dos quais 100 e poucos já estão concluídos.

Nos "check-points", a regra é clara: para entrar nos territórios palestinos há muito menos dificuldades do que para sair deles. Qual a lógica? A óbvia: não há, praticamente, atentados nos territórios palestinos, mas houve, em quantidade industrial, em território israelense.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua comitiva sentiram na carne a dificuldade: entrar em Belém, entraram sem problemas. Mas no percurso até Ramallah, que tem que ser feito reentrando em Israel, o presidente foi forçado a trocar três vezes de carro. E o veículo que levava as malas ficou retido.

Os dois lados do conflito sentem-se justificados nas suas atitudes, responsáveis pela imensa distância entre tribos tão próximas geograficamente. No muro que separa a Palestina de Israel (e que ocupa pedaços de terra que são palestinas), há incontáveis pichações. Uma delas diz: "To exist is to resist" (existir é resistir).

Do lado de Israel, o "resistir" é visto sempre como terrorismo, que, de fato, existe. Na quinta-feira, um foguete Kassam foi disparado da Faixa de Gaza, a outra parte do território palestino, e matou um migrante tailandês que trabalhava em uma estufa da cidadezinha de Netiv Haasara, perto da fronteira.

Desta vez nem Israel culpa o Hamas, o movimento islâmico que controla a Faixa de Gaza e é listado como terrorista tanto pelos Estados Unidos como pela União Europeia. O responsável teria sido o grupo Ansar al-Sunna, que quer impor a obediência mais estrita à "sharia", a lei islâmica, e considera o Hamas, terrorista para alguns, como excessivamente moderado.

Tudo somado, parece que, nesta parte do mundo, as distâncias só são realmente curtas para foguetes.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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