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clóvis rossi

 

21/09/2011 - 11h57

O mundo mudou, falta mudar o mundo, diz Dilma

O foco do discurso da presidente Dilma Rousseff foi direto e claro. Poderia ser resumido em uma frase: o mundo mudou, continua mudando mas a governança global não acompanhou essa mudança.

No âmbito político e institucional, a presidente reclamou, com razão, que faz 18 anos que se discute a reforma das Nações Unidas, sem que se tenha avançado.

Dilma foi clara: "O mundo precisa de um Conselho de Segurança que venha a refletir a realidade contemporânea; um Conselho que incorpore novos membros permanentes e não-permanentes, em especial representantes dos países em desenvolvimento".

A presidente deixou claro também que o Brasil está pronto para assumir seu papel como membro permanente.

No âmbito econômico-financeiro, vale o mesmo raciocínio. Disse a presidente que "mais que nunca, o destino do mundo está nas mãos de todos os seus governantes, sem exceção. Ou nos unimos todos e saímos, juntos, vencedores ou sairemos todos derrotados".

É uma evidente alusão ao fato de que nem o G20, o clubão das maiores economias de que o Brasil faz parte, nem o G7, o já superado grupo dos sete países mais ricos do mundo, nem a União Europeia --nenhuma instituição está conseguindo encontrar o que Dilma chamou de "soluções coletivas, rápidas e verdadeiras" para a crise em curso.

Ela pediu, como no caso do Conselho de Segurança, abrir a discussão, ao dizer que a crise "é séria demais para que seja administrada apenas por uns poucos países. Seus governos e bancos centrais continuam com a responsabilidade maior na condução do processo, mas como todos os países sofrem as conseqüências da crise, todos têm o direito de participar das soluções".

A presidente tomou posição também clara no debate entre Estados Unidos e Europa, em que os EUA adotam e pregam políticas de estímulo para vencer a crise, enquanto a Europa coloca todo o foco na austeridade e nos ajustes fiscais. Foi, é verdade, sutil ao tomar o partido dos estímulos, na medida em que não citou a Europa. Mencionou apenas "uma parte do mundo [que] não encontrou ainda o equilíbrio entre ajustes fiscais apropriados e estímulos fiscais corretos e precisos para a demanda e o crescimento. Ficam presos na armadilha que não separa interesses partidários daqueles interesses legítimos da sociedade".

O ponto fraco do discurso foi a ausência de uma tomada de posição mais firme contra as ditaduras sitiadas no mundo árabe. É um reflexo da cautela excessiva da diplomacia brasileira em se definir, por exemplo, no caso da Líbia. Só reconheceu o novo governo depois de que o mundo quase inteiro o fizera.

Na questão do momento, o Estado palestino, Dilma repetiu a posição de difícil equilibrismo que o Brasil tenta pôr de pé: defender o Estado palestino mas sem que seja afetada a segurança de Israel.

A posição faz todo o sentido, mas como levar a cabo ambas as coisas é uma equação não decifrada para cuja solução o discurso não contribui, o que é compreensível: ninguém até agora conseguiu a quadratura desse círculo.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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