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drauzio varella

 

28/07/2012 - 03h00

Afogamento

"Afogamento é o processo resultante da insuficiência respiratória causada por submersão/imersão em líquido." Essa é a definição adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo a OMS, os afogamentos são responsáveis por 0,7% de todas as mortes ocorridas no mundo (mais de 500 mil por ano), número que subestima o total porque não inclui inundações, tsunamis e acidentes de navegação.

É a principal causa de óbito entre meninos de cinco a 14 anos. São fatores de risco: sexo masculino, idade abaixo de 14 anos, uso de álcool, pobreza, baixa escolaridade, residir em área rural, expor-se à água e nadar sem a supervisão de alguém. Quem sofre de epilepsia corre risco 15 a 20 vezes maior.

Quando se ajusta o tempo de exposição à água com o de exposição ao tráfego, o risco de morrer afogado é 200 vezes maior do que o de perder a vida no trânsito. Para cada óbito por afogamento, ocorrem quatro casos não fatais encaminhados às unidades de saúde.

O Brasil gasta R$ 556 milhões por ano apenas com o atendimento dos que se afogam nas praias.

A revista científica "The New England Journal of Medicine" acaba de publicar uma atualização dos conceitos sobre esse tipo de acidente.

Quando uma pessoa se afoga, a água que entra pela boca é voluntariamente jogada para fora ou engolida. O próximo movimento consciente é prender a respiração, medida que não dura mais de um minuto. Quando a necessidade de inspirar se torna insuportável, a água é aspirada para o interior das vias aéreas e dispara o reflexo da tosse. Nesse momento, a laringe pode sofrer espasmo, com sensação de sufocamento logo aliviada pela falta de oxigênio no cérebro.

Se não houver resgate, a aspiração de água se intensifica e a hipóxia cerebral leva à perda de consciência e à parada respiratória. Na sequência, a frequência cardíaca aumenta, para diminuir em seguida, até à perda da atividade elétrica responsável pela parada do coração.

Da submersão à parada cardíaca, o processo dura poucos minutos. Mas, em situações especiais, como as do afogamento em águas congeladas, é possível resistir até uma hora, porque a hipotermia reduz a atividade metabólica do cérebro. No intervalo de 37ºC a 20ºC, o consumo cerebral de oxigênio cai cerca de 5%, para cada 1ºC de diminuição da temperatura.

A aspiração de água doce ou salgada causa danos pulmonares semelhantes. Ambas destroem a membrana delicada existente entre os alvéolos e os capilares que os irrigam, provocando edema que dificulta a troca de gás carbônico por oxigênio.

Quando o salvamento é feito por pessoas não treinadas, o ideal é alcançar o acidentado com uma boia ou algum objeto, como remo, toalha ou corda. Se ele caiu de um barco, evite puxá-lo de volta para dentro, porque a embarcação pode virar; o melhor é rebocá-lo até a margem.

Se a vítima chegar consciente à terra, procure deitá-la de barriga para cima, com o tronco e a cabeça no mesmo nível. Se estiver inconsciente, porém, respirando, deve ser colocada em decúbito lateral para evitar que aspire o conteúdo do estômago em caso de vômito. Jamais virá-la de ponta cabeça, nem comprimir o abdômen na tentativa de fazê-la eliminar a água aspirada.

No caso de estar inconsciente, sem respirar, mas com o coração batendo, comece a respiração boca a boca, que deve ser feita fechando-se com os dedos ambas as narinas e assoprando através da boca, com força suficiente para que a caixa torácica se expanda.

Se houver parada cardíaca, a pessoa não responderá nem reagirá a nenhum estímulo. A ressuscitação deve ser iniciada imediatamente com cinco respirações boca a boca, seguidas de 30 compressões torácicas realizadas com os braços esticados e as duas mãos posicionadas uma sobre a outra contra a parte média da linha imaginária que une os dois mamilos. Daí em diante, serão duas respirações boca a boca para cada 30 compressões.

Em todos os casos, a primeiríssima providência será chamar o resgate, pelo 192 ou 193, conforme a cidade em que você se encontra.

Jamais tente colocar no carro uma pessoa em parada cardíaca. Você estará transportando um cadáver. Continue as manobras de ressuscitação descritas até chegar o resgate. E se ele não vier? Insista na ressuscitação, nada mais poderá ser feito.

drauzio varella

Drauzio Varella é médico cancerologista. Por 20 anos dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer. Foi um dos pioneiros no tratamento da Aids no Brasil e do trabalho em presídios, ao qual se dedica ainda hoje. É autor do livro 'Estação Carandiru' (Companhia das Letras). Escreve aos sábados, a cada duas semanas.

 

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