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eliane cantanhêde

 

02/09/2009 - 00h01

E daí? Daí nada

O senador José Sarney continua na presidência do Senado, como se nada tivesse acontecido, e participou ao lado de Lula, Marisa Letícia, Dilma, Michel Temer e o ministro Edison Lobão do lançamento das regras para o pré-sal. Tudo bem que só ele e Marisa não discursaram, mas Sarney é irrevogável.

Os 100, 200 diretores (sabe-se lá quantos há/havia no Senado) continuam trabalhando na casa normalmente, contando tempo para a aposentadoria e provavelmente com o mesmo salário de antes da descoberta fabulosa. Eles também são irrevogáveis.

O efeito dos 500, 600 atos secretos (sabe-se lá quantos há/havia) continua inabalável e, afora uma exceção ou outra mais gritante e com destaque nos jornais, nada mudou. Os atos, como as pessoas, também são irrevogáveis no Senado.

Os mais de dez mil funcionários, para 81 senadores, estão lá, firmes e fortes, os sérios trabalhando, os fantasmas sumidos pelo mundo, e centenas vagando pelos corredores acarpetados sem que ninguém (inclusive eles) saiba para o quê. Tornaram-se irrevogáveis.

Aquelas estruturas faraônicas, de serviço médico, informática, impressão, garagens, agência de viagens, segurança... tudo isso permanece intocável. E irrevogável.

Os projetos de reforma, que incluem até praça de alimentação e --por que não?-- uma butique daqui, outra dali, entram e saem de gavetas, mas não estão arquivados. São daqueles irrevogáveis, até que se tornam realizáveis.

Diante de tudo isso, há outras coisas absolutamente irrevogáveis. A liderança de Mercadante no PT é irrevogável, o racha do partido no Senado é irrevogável, o domínio do PMDB no Congresso é irrevogável, a atuação inconsequente da oposição é irrevogável e a submissão da instituição ao Poder Executivo é irrevogável.

Depois de cem dias de crise, centenas de páginas, horas de TV e rádio, milhões de mensagens iradas pela internet, tudo aconteceu, mas nada aconteceu. O Carnaval passou, o entulho fica.

Se algo acabou realmente revogado foi o Conselho de Ética. Revogado e jogado no lixo. Como as CPIs já tinham sido, e como a própria ética está sendo, dia após dia.

eliane cantanhêde

Eliane Cantanhêde, jornalista, é colunista da Página 2 da versão impressa da Folha, onde escreve às terças, quintas, sextas e domingos. É também comentarista do telejornal 'GloboNews em Pauta' e da Rádio Metrópole da Bahia.

 

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