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eliane cantanhêde

 

01/06/2011 - 11h00

Mortes anunciadas

Quatro mortes de líderes rurais numa única semana --a passada-- não são uma ocorrência trivial e não temos o direito de deixá-las passar em branco. É preciso gritar por justiça, cutucar os governos, exigir a atenção dos políticos, apoiar os órgãos que olham e acompanham o que ocorre no campo.

Um deles, talvez o principal, é a CPT, a Comissão Pastoral da Terra da CNBB, que apresenta dados aterradores. Eis alguns: três dos quatro mortos já constavam das listas de ameaçados havia anos e anos; foram 1.580 assassinatos no campo desde 1985; há 207 pessoas que são alvos de bandidos e 30 delas já escaparam de atentados. Até o próximo...

E o que o Estado brasileiro faz? Praticamente nada. É como se houvesse uma resignação coletiva, esperando apenas que os mandantes estalem os dedos e os executores apertem os gatilhos para incrementar as estatísticas macabras.

São quatro os principais problemas: disputa pela terra, confrontos pela preservação do meio ambiente, trabalho escravo e trabalho infantil. Mas o pior deles, porque é a liga de tudo isso, é justamente a impunidade.

Segundo a CPT, só houve 91 julgamentos, com a condenação de 21 mandantes e 73 executores. Agora, caia de queixo. Só um dos mandantes condenados continua preso até hoje: Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, condenado como um dos mandantes do assassinato da irmã Doroty Stang.

Não é demais supor que isso ocorre porque a opinião pública interna e internacional viu, cobrou, pressionou. Senão, ele estaria como os demais condenados: livre, leve e solto.

É nesse contexto que o Congresso --ou seja, o país-- discute a divisão do Estado do Pará em três: Pará, Tapajós e Marajó. O Senado já convocou um plebiscito, para ser realizado em até seis meses.

Sei não, mas o Pará já é um dos campeões na matança de líderes rurais. Além disso, quanto mais Estados, mais verbas, mais executivos, mais legislativos, mais bancadas de deputados e senadores. Parece que, em vez de resolver um problema, estaremos multiplicando o problema por três. Com a palavra, os paraenses.

eliane cantanhêde

Eliane Cantanhêde, jornalista, é colunista da Página 2 da versão impressa da Folha, onde escreve às terças, quintas, sextas e domingos. É também comentarista do telejornal 'GloboNews em Pauta' e da Rádio Metrópole da Bahia.

 

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