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eliane cantanhêde

 

03/08/2011 - 18h25

Bagunça

Dá ou não impressão de bagunça? Desde que o Congresso reabriu, no início desta semana, não se fala em nada positivo, só confusão, desencontros, escândalos, como se estivesse faltando... comando.

A história da CPI do Ministério dos Transportes é exemplar. Foram anos de histórias de corrupção na pasta e, no rastro de 24 pessoas afastadas, inclusive a cúpula do ministério, eis uma boa hora de haver uma investigação parlamentar. Mas o que o Senado fez foi um vexame.

O requerimento de CPI precisava de 27 assinaturas, número atingido na terça-feira. Mas um senador do PDT retirou o nome, depois um outro, do PSDB, tirou e recolocou e no final mais um do PP tirou. Soma daqui, diminui dali, e o total baixou para 24 assinaturas, insuficiente para a CPI.

Venceu a pressão do governo, pois nenhum governo quer conviver com CPIs, ainda mais sabendo das cobras e lagartos que podem sair dela. Mas ficou um vazio e uma dúvida: o que vai acontecer com os 24 afastados e com o dinheiro desviado?

Em contrapartida, está um festival de ministros e ex-ministros depondo no Congresso, onde falam o que bem entendem e fica por isso mesmo. Começou com o ex dos Transportes, Alfredo Nascimento, que admitiu ter mágoa da presidente Dilma Rousseff, que não o defendeu, e jogou suspeitas sobre o seu ex-segundo e agora sucessor, Paulo Sérgio Passos.

Uma frase hilária de Nascimento sobre o seu próprio partido: "O PR não é lixo para ser varrido..." Trata-se, evidentemente, de uma referência à "limpeza" que Dilma faz no feudo dos "republicanos".

Depois, chegou a vez do depoimento de Wagner Rossi, da Agricultura, que tem o respaldo do poderoso PMDB, partido do vice-presidente da República, Michel Temer. Rossi foi colocado na berlinda, ora, ora, pelo irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá. O cara se chama Oscar Jucá Neto, que foi defenestrado da Conab --uma espécie de Dnit da Agricultura-- e saiu botando a boca no trombone.

Segundo Oscar, para constrangimento do irmão Romero, a Conab tem uma central de corrupção. Dá para se ouvir isso calado? Fala sério! Mas Rossi foi ao Congresso, falou, falou e falou, ganhou abraços e tapinhas amigáveis até da oposição e pronto, não se fala mais no assunto.

A Câmara acaba de aprovar a convocação de mais cinco ministros: o novo dos Transportes e os de Meio Ambiente, Cidades, Desenvolvimento Agrário e Comunicações. Para quê? Deve ser para encher a grade de programação da TV Câmara.

Enquanto isso, o ministro Nelson Jobim, da Defesa, brinca de gato-e-rato com Dilma e ninguém mais aposta que ele vá ficar muito tempo no cargo. Talvez ele perca pouco, mas Dilma perde muito. Tirar Jobim de uma área tão sensível, no meio dessa confusão toda e às vésperas da aprovação da Comissão da Verdade, é abrir mais um flanco.

Com Dilma e as ministras Gleisi Hoffmann e Idely Salvatti já atirando para todo lado, tentando delimitar quem é aliado mesmo e quem é adversário na prática, iriam faltar generais, além de soldados, para a nova frente de batalha.

eliane cantanhêde

Eliane Cantanhêde, jornalista, é colunista da Página 2 da versão impressa da Folha, onde escreve às terças, quintas, sextas e domingos. É também comentarista do telejornal 'GloboNews em Pauta' e da Rádio Metrópole da Bahia.

 

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