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fernando canzian

 

18/07/2011 - 07h00

Fim de jogo

Na virada da década de 80 para os anos 1990, os japoneses fizeram a festa.

O país surfava na primeira grande "bolha" imobiliária da história moderna. Os japoneses se sentiam extremamente ricos, tamanha a valorização de suas propriedades. Viajavam com suas câmeras e compravam.

Entre eles, a família Yokoi, dona de um império obscuro, saiu pelo mundo atrás de oportunidades.

Enquanto grupos compravam imóveis e empresas em vários países, os Yokoi surpreenderam. Se associaram, de forma polêmica, ao maior ícone dos EUA, o Empire State Building, em Manhattan. Foi um choque.

Alguns anos depois, a "bolha" imobiliária japonesa explodiu. O crédito barato secou e os preços desabaram.

Há quase 15 anos o Japão digere os excessos daquela época. Amarga uma mistura de baixo crescimento e empobrecimento.

É isso o que deve acontecer com os EUA.

Até agora, o país mais rico do mundo evitou esse destino. Mas as alternativas chegaram ao fim.

Os EUA vivem "de bolha em bolha" desde o início deste século.

Quando a "bolha" de preços das ações valorizadas das empresas ponto.com explodiu, em 2000-2001, o Fed (o BC dos EUA) manteve os juros de empréstimos tão baixos que estimularam outra "bolha", a imobiliária.

Quando a "bolha" imobiliária estourou, em 2007-2008, a alternativa do Fed foi baixar ainda mais os juros e inundar o mercado com cerca de US$ 2,3 trilhões (o equivalente ao PIB do Brasil) para expandir a atividade. Visava, assim, criar outra "bolha" que sustentasse a economia.

Deu certo. Mas durou pouco.

A terceira "bolha" (seguindo as ponto.com e imobiliária) foi a do endividamento público. Ela jorrou bilhões entre empresas e famílias para que uma depressão econômica fosse evitada em 2008.

Mas as intervenções do Tesouro dos EUA multiplicaram por quatro o deficit público americano desde então. Isso tornou insustentável a relação entre o que o país arrecada em impostos e o que gasta.

Resta agora ao governo seguir o exemplo das famílias norte-americanas: cortar gastos; deprimindo mais a economia.

A alternativa seria encontrar algum mecanismo para financiar uma nova "bolha". Mas quem a financiaria? Marte?

O desfecho mais provável para os EUA é o exemplo japonês: estagnação e empobrecimento por vários anos.

Com o colapso europeu e muito dinheiro sobrando sem portos seguros, teremos um mundo bem diferente daqui em diante.

*

E o Brasil com isso?

Levando em conta o chamado PIB per capita PPP (que relaciona o tamanho do PIB e o poder aquisitivo anual ao custo de vida local de cada país), temos o seguinte:
Brasil: US$ 11 mil/ano
EUA: US$ 47 mil/ano
Japão: US$ 33 mil/ano

Somos muito pobres ainda.

Com nossos índices de corrupção e desvios, é improvável que nós, hoje vivos, duremos tanto tempo para ver o Brasil chegar perto das hoje "decadentes" economias ricas, entulhadas de dívidas.

Só mais uma grande chance desperdiçada.

fernando canzian

Fernando Canzian é repórter especial da Folha e editor do 'TV Folha', exibido aos domingos na TV Cultura (19h30 com reprise às 23h). Foi secretário de Redação, editor de política e do 'Painel' e correspondente da Folha em Nova York e Washington. Vencedor de dois prêmios Esso, é autor do livro 'Desastre Global - Um ano na pior crise desde 1929'.

 

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